Ampliar as vagas de tempo integral nas escolas brasileiras é um desafio, mas é fundamental para a melhora do ensino público brasileiro. É o que pensam os participantes do segundo painel da série de eventos “Reconstrução da Educação”, promovido pelo Estadão na manhã desta terça-feira, 16.
Com mediação de Renata Cafardo, repórter especial e colunista do Estadão, participaram da discussão Gabriela Moriconi, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas; Herbert Lima, secretário municipal de Educação de Sobral (CE) e professor da Universidade Federal do Ceará; e Vitor Pedro de Arruda, ex-estudante de escola em tempo integral e professor na rede municipal de Gravatá (PE).
Nos encontros, especialistas conversam sobre o atual cenário da educação brasileira e pensam caminhos para melhorar o ensino público. Os eventos são gratuitos e podem ser acompanhados pelo canal do Estadão no YouTube.
Para o secretário municipal de Educação de Sobral, município cearense que pretende oferecer ensino integral em toda a rede pública de educação básica até o fim de 2024, investir nesse modelo é uma escolha política que repercute fora do ambiente escolar.
“Uma criança que passa o dia na escola está socialmente protegida. Ela desenvolve habilidades da base comum, mas também se envolve com protagonismo, reflete sobre seu papel social e desenvolve competências no campo emocional e social, o que reflete na saúde, empregabilidade e melhoria de sua qualidade de vida”, resume Herbert Lima.
Hoje professor, Vitor Pedro de Arruda conta ser um exemplo dessa dinâmica escolar. No ensino médio, ele teve de optar pelo trabalho para complementar a renda da família ou o ensino integral e afirma que a decisão pelo estudo transformou sua trajetória.
“Por mais difícil que seja a caminhada, eu consegui chegar através do ensino integral a ambientes que não foram pensados para quem é do interior do Estado, filho de empregada doméstica e morador da periferia. Para fazer acontecer, não basta sonhar. É preciso um projeto de vida”, diz.
E, para fazer o ensino integral acontecer, é preciso investimento. Para uma escola com contraturno diversificado e envolvente, infraestrutura e material didático adaptados, contratação de profissionais para além da base curricular obrigatória e cinco refeições diárias, os custos embutidos são significativos.
“O governo federal tem um papel importante de liderança e indução dessas políticas públicas, seja de alfabetização, de formação continuada de professores ou dando aporte financeiro. Essa liderança é fundamental para guiar as decisões dos gestores públicos”, pontua Herbert Lima.
Na última sexta-feira, 12, uma Medida Provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou o programa Escolas de Tempo Integral. O objetivo é ampliar em 1 milhão as vagas de tempo integral nas escolas de educação básica do País, com um investimento de R$ 4 bilhões. Os Estados e municípios que aderirem definirão as metas de matrículas junto ao Ministério da Educação (MEC).
Capacitação de professores
A implementação da escola em tempo integral passa pela construção de mais unidades escolares e, obrigatoriamente, pela contratação e capacitação de professores que entendam a proposta: um modelo com jornada escolar de ao menos sete horas, pensado para reduzir o abandono e a repetência, aumentar a empregabilidade e a qualidade do ensino e construir um projeto de vida para os alunos, em que eles se enxerguem como protagonistas.
De acordo com Gabriela Moriconi, a contratação de professores em tempo parcial, mais comum, vai de encontro ao que busca a escola em tempo integral: conhecer os estudantes e planejar aulas de acordo com o perfil deles, com foco em seu desenvolvimento integral.
“A gente precisa caminhar com políticas que concentrem os professores em uma escola só, pelo menos um turno em cada escola, para que a gente consiga ter uma escola de tempo integral com professores em tempo integral e estudantes em tempo integral”, afirma a pesquisadora.
Além da contratação de professores, exige atenção a capacitação desses profissionais, que muitas vezes, conforme Gabriela, possui uma lacuna entre a teoria ensinada nos cursos de pedagogia e licenciatura e a realidade encontrada nas salas de aula.
“Uma formação inicial de professores precisa articular bem a teoria e a prática. Eles vão precisar de bastante repertório e, em cursos mais curtos ou EAD, sem o apoio dos formadores, vai ser muito difícil formar um professor com essa visão”, exemplifica.
Em Sobral, uma escola de formação continuada em serviço frequentada por egressos do ensino superior que vão para o ensino público busca solucionar essa lacuna. “Os melhores formadores estão dentro da rede e passam a ser multiplicadores para os demais professores, porque conhecem o chão da sala de aula. Isso resgata o ofício de ensinar e garante uma aula eficiente no sentido de fazer que a criança aprenda”, conta o secretário municipal de Educação.
Na segunda-feira, 15, o Reconstrução da Educação contou com as participações de Kátia Schweickardt, secretária da Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Fred Amâncio, secretário municipal de Educação do Recife, Tiago Bartholo, professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), e Telma Vinha, doutora em Educação e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O debate discutiu a recomposição da aprendizagem entre crianças e adolescentes no pós-pandemia. Assista aqui ao encontro.
Programação
15/5 – Educação no Brasil hoje e recomposição da aprendizagem (veja como foi);
16/5 – 10h: Ensino integral e professores;
18/5 – 10h: Educação infantil e alfabetização;
23/5 – 10h: Ensino médio;
25/5 – 10h: Ensino fundamental 2 e tecnologia;
29/5 – das 10h às 12h: Fórum Reconstrução da Educação;
Veja como fazer a inscrição aqui.
Reconstrução da Educação é uma realização do Estadão, em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Lemann, Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Fundação Vivo Telefônica, Instituto Natura e Instituto Península. E tem o apoio do Consed, da Undime e do Todos Pela Educação.
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