Certa vez, uma diretora disse que a escola particular é um dos poucos serviços onde o cliente nem sempre tem razão. Escola é parceria, muito diferente de escolher o prato no restaurante, com ou sem cebola.
Mas vivemos tempos difíceis, com gerações criadas por pais superprotetores e, ao mesmo tempo, incentivadas pelas tecnologias para ir às profundezas do que há de mais podre, triste e perigoso.
É claro que o sofrimento da sociedade chega à escola. Cada vez mais, elas são invadidas por racismo, homofobia, capacitismo, discurso de ódio, violências e preconceitos de todas as formas.
Esse segundo semestre é o momento em que as escolas abrem matrículas para novos alunos ou descobrem se os antigos vão continuar.
E é nessa hora que a parceria se põe a prova. Boas escolas lidam de forma pedagógica com os novos problemas que as atravessam. Quando feito direito, isso quer dizer que os conflitos são peças para se trabalhar valores e aprendizado - e não para a punição.
Escola não é polícia, não é o sistema judiciário. Escolas formam pessoas, usam o erro para transformar vidas, formam caráter, lidam com crianças e adolescentes e não com adultos já feitos. Bom sempre repetir.
Escolas também erram. Educadores cometem equívocos, negligências, preconceitos. Mas se não houver confiança no profissional que você escolheu para contribuir para o desenvolvimento do seu filho, não há parceria.
E essa via de dois lados pressupõe que os pais também estejam lá, se interessem em saber o que se aprende, conversem com as professoras, cobrem diálogo, contem os desafios de casa, percam o medo de mostrar que não fizeram filhos perfeitos.
Mas em vez disso, muitos gostam mais do movimento de linchamento coletivo das escolas em grupos de WhatsApp. Não raro se tornam públicos.
É claro que, como em qualquer parceria, é saudável opinar, sugerir, criticar. Mas não há educação possível quando não se confia mais. Crianças e adolescentes percebem muito facilmente a insatisfação dos pais, passam a desrespeitar professores e acaba qualquer possibilidade de aprendizagem.
Esses meses de abertura de matrículas poderiam ser aproveitados para se repensar as parcerias entre famílias e escolas. Para se escolher melhor uma eventual nova instituição.
E fazer perguntas importantes: como exatamente os conflitos e o bullying são tratados (lembrando que nem todo conflito é bullying), qual a política antirracista, como se fala das diferenças, que espaço os alunos têm para se posicionar e sentir pertencentes, como se faz para não deixar ninguém para trás (na aprendizagem ou emocionalmente)?
Não dê tanta bola para quantos ex-alunos entraram na melhor universidade. Fique feliz se realmente confiar que a escola está formando um cidadão completo, íntegro, autônomo, saudável mentalmente e disposto a aprender por toda a vida. E só permaneça se continuar confiando.
Mas não é possível achar que a escola vai dar conta de tudo isso sem a família. Parceria.
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