Nesta semana, o mundo vai conhecer, com atraso por causa da pandemia, o resultado daquela que se tornou a avaliação de educação mais reconhecida internacionalmente, o Pisa. Para quem não se lembra, foi essa prova que alavancou a Finlândia para o título de melhor sistema de ensino nos últimos anos. E em que o Brasil aparece sempre entre as últimas colocações, com notas baixas e alta desigualdade.
Mais ainda quando se olha para Matemática, o foco do Pisa 2022, que será divulgado na terça-feira, dia 5. Participaram da prova 690 mil alunos de 15 anos, em 81 países, uma amostra que representa 29 milhões de adolescentes pelo mundo. Após a pandemia e com resultados já ruins, não é possível esperar grandes avanços na média dos estudantes brasileiros.
Um estudo divulgado na semana passada pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) mostra a dificuldade histórica de aprendizagem e a falta de priorização do ensino da Matemática no País. Hoje, só 5% dos alunos que terminam a escola pública têm o aprendizado adequado na disciplina em avaliações nacionais. Enquanto isso, em Língua Portuguesa são 31%.
Apesar de saber que eles não conseguem acertar questões que envolvam porcentagem, por exemplo, como os exames brasileiros são de múltipla escolha, não é possível entender em que estágio da resolução do problema os alunos erraram, diz o Iede. A situação ainda é mais triste para estudantes pobres, pretos e pardos. É raríssimo um jovem de baixo nível socioeconômico com aprendizado adequado na disciplina, indica a pesquisa.
No Pisa, também sempre chamou a atenção uma maior diferença em Matemática do que nas outras disciplinas entre os alunos brasileiros e os de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A pontuação aqui é tão inferior que é como se eles estivessem três anos atrás na escola, se comparados a alunos de nações desenvolvidas.
Uma dica do estudo do Iede é que as notas das escolas melhoram quando há alunos premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), em que os estudantes fazem provas da disciplina e competem por medalhas. Muitas dessas escolas que se destacam na Matemática estão em estados do Nordeste; o Ceará tem 40% delas.
Mas ainda faltam dados sobre como as olimpíadas influenciam, sobre a carência de professores na área, os currículos, o rigor das avaliações. É preciso que as políticas públicas se debrucem sobre a Matemática e percebam que não há possibilidade de desenvolvimento pleno do cidadão ou do País quando jovens saem da escola sem os conhecimentos básicos de lógica e cálculos. Não precisamos aparecer novamente lá no fim do ranking do Pisa esta semana para constatar isso.
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