“A criatividade é uma mente selvagem e um olhar disciplinado”, disse a escritora americana Dorothy Parker, lá no século passado. A frase ilustra o capítulo do relatório do Pisa, a maior avaliação internacional de estudantes do mundo, sobre como os alunos entendem seu próprio potencial para serem criativos e como isso está relacionado ao seu resultado na prova. A conclusão é de que aqueles que têm um mindset de crescimento se saem melhor.
Mas o que é um mindset - ou mentalidade, na tradução - de crescimento? A prova feita pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) usou um conceito cunhado pela psicóloga americana Carol Dweck, hoje pesquisadora da Universidade de Stanford, autora do best seller mundial Mindset, A Nova Psicologia do Sucesso.
Em linhas gerais, o que ela diz é que quem tem um mindset de crescimento acredita que suas habilidades, como criatividade e inteligência, podem ser construídas e aprendidas. Elas não fluem “de forma mágica a partir de alguma habilidade inata”, diz Carol, em trecho do livro.
A partir de diversas pesquisas, ela sustenta que o cérebro de qualquer pessoa é dinâmico e pode mudar com o aprendizado, a partir de uma educação de qualidade, do esforço e da persistência.
Já a pessoa de mindset fixo é o contrário: acredita que nasceu ou não para aquilo, que ela ou o colega é inteligente ou burro, e nada pode ser feito para mudar isso. No livro, Carol dá orientações sobre como pais, professores e gestores podem ajudar a desenvolver um mindset de crescimento em crianças e adultos.
Mostra com histórias de personagens reais - em empresas, nos esportes ou nas universidades - que nem sempre os tachados como talentosos tiveram mais sucesso. Foram, sim, aqueles que usaram os erros para aprender, se esforçaram para melhorar, buscaram ajuda e novas estratégias.
E o Pisa, que em 2022 pela primeira vez avaliou a criatividade dos estudantes, relacionou essa habilidade justamente com o mindset. Os resultados mostram que os alunos que acreditam que sua criatividade e inteligência são coisas que podem ser mudadas a partir do esforço e da dedicação tiveram melhor desempenho - esses são os considerados detentores de mindset de crescimento pela OCDE.
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O Brasil teve uma das maiores porcentagens de jovens com essa mentalidade: 56,9% dos adolescentes de 15 anos disseram que discordam da frase “minha criatividade é algo que não posso mudar muito”.
E ainda 61,1% disseram o mesmo sobre a inteligência. Ou seja, eles acreditam que, sim, algo pode ser feito para que se tornem mais inteligente.
A percepção dos brasileiros com relação ao seu potencial é importante, mas não foi - nem é - o único elemento que melhoraria de forma expressiva os resultados no Pisa ou da educação em geral. O Brasil apareceu, mais uma vez, entre os piores colocados no ranking de criatividade da OCDE.
Nações como China, Cingapura, Canadá, Estônia ou Finlândia, sempre no topo da lista, também tiveram índices altos de adolescentes com mindset de crescimento. Complementando o que dizem Carol e Dorothy, os resultados do Pisa mostram que a mentalidade não significa tanto se não houver políticas públicas que formam professores para realmente transformar seus alunos com a aprendizagem.
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