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No país do vício no ‘Jogo do Tigrinho’, por que jovens aprendem tão pouco a lidar com dinheiro?

Avaliação internacional de estudantes sobre educação financeira feita pela OCDE mostra os brasileiros na antepenúltima colocação

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

No país das discussões intermináveis sobre taxa de juros e com cada vez mais gente caindo em golpes do ‘Jogo do Tigrinho’, 71,7% dos brasileiros de 15 anos não conseguem fazer os cálculos de um orçamento. A maioria dos estudantes no Brasil também não entende como funcionam os empréstimos nem sabe analisar extratos bancários. Esse é o resultado de mais uma etapa do Pisa, a maior prova internacional de estudantes do mundo, que avaliou a educação financeira em 20 países.

O Brasil ficou na antepenúltima colocação, acima apenas da Arábia Saudita e da Malásia. Os outros dois únicos países latinos americanos que participaram, Peru e Costa Rica, tiveram resultado equivalente ao dos brasileiros. E os campeões da educação financeira foram os alunos e alunas da Bélgica, Dinamarca e Canadá.

Aplicação do Pisa em escola particular do Brasil Foto: Felipe Rau/Estadão

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Nem todos as nações que fazem o Pisa tradicional, de Matemática, Leitura e Ciência, participaram dessa prova também, cujos resultados foram divulgados na semana passada. Alguns dos que lideram os outros rankings, como Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia, ficaram de fora.

O exame tem perguntas sobre dinheiro em geral, transações monetárias, gerenciamento de finanças em situações de incerteza e compreensão do potencial de ganhos ou perdas financeiras.

Na média, 11% dos estudantes entre os países analisados estão no melhor nível de aprendizagem, isso quer dizer que acertam questões que falam de problemas mais complexos, como custos de transação financeira e imposto de renda. No Brasil, só 2% estão nesse grupo.

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A educação financeira é reconhecida como uma “habilidade de vida para o século 21” pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que organiza o Pisa.

Apesar dos resultados em Matemática estarem relacionados - países que se destacam na disciplina também o fazem em educação financeira - ela tem elementos a mais. O próprio relatório do Pisa fala na importância de proteger o jovem contra o “aumento da incidência e complexidade de fraudes e golpes financeiros”, algo muito comum por aqui.

relatos de vício no ‘Jogo do Tigrinho’ e nas chamadas bets até por adolescentes no País. Fora as variedades de golpes para se aproveitar dos apostadores nesses jogos, ou em plataformas bancárias e no comércio online.

E a escola é crucial nisso, não dá para achar que dinheiro é só assunto de família. O Pisa mostra que jovens que são filhos de pais com renda mais baixa têm pior desempenho também na parte financeira da prova. Apesar de fazer parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a área ainda é exceção na já tão carente escola pública no Brasil.

Os resultados do Pisa indicam ainda que mais de 60% dos estudantes de 15 anos no mundo já têm uma conta bancária e um cartão de débito. Além de saber lidar com esse dinheiro hoje com responsabilidade, a maior expectativa de vida, as incertezas com relação à aposentadoria e as inúmeras possibilidades de transações online deixam claro que as futuras gerações vão precisar mais ainda de educação financeira.

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Ao fazer parte da escola, ela ainda é uma ajuda essencial para a redução da desigualdade de renda e riqueza quando esses alunos se tornarem adultos.

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