Na última semana, dois relatos de pais me impulsionar a escrever sobre os temas que eles trouxeram. No primeiro, um pai preocupado contou que a filha, de 6 anos, desde o início da pandemia ficou diferente: já não dorme mais em seu quarto, tem medo de muitas coisas, reclama de dor de cabeça e de barriga com frequência, come em demasia e tem um sono conturbado. O pediatra orientou a levá-la a um psiquiatra, e este deu o diagnóstico de ansiedade. Medicou e a encaminhou à terapia de criança.
O segundo relato recebi por mensagem. A mãe está aflita porque o filho de 11 anos está sempre quieto, o que a escola também observou; além disso, pouco se relaciona, quer ficar no quarto, chora escondido às vezes e sempre procura motivo para faltar à aula. Ela perguntou se pode pensar em depressão e se deve procurar um psicólogo. Sim: ansiedade e depressão estão presentes na infância e na adolescência também. Não é de hoje, mas foi principalmente após o início da pandemia que muitas famílias e escolas passaram a ter olhar mais atento à saúde mental dos mais novos.
E a pandemia foi responsável por instalar ansiedade e depressão em muitos deles: segundo estudo de 2021 pela Faculdade de Medicina da USP, cerca de 36% de crianças e adolescentes apresentaram sintomas desses quadros nesse período. Nesse caso, foi um evento externo que funcionou como estopim para o aparecimento de tais sofrimentos. Ao mesmo tempo, há uma epidemia de diagnósticos de transtornos mentais nos mais novos. Rebeldia, desobediência, birra, agressividade, tristeza, por exemplo, muitas vezes servem de base para diagnósticos.
O que pais e a escola podem fazer? Não sei se é de seu conhecimento, leitor, mas assistência psicológica e social na escola básica já é garantida pela Lei 13.935/2019 que, no entanto, ainda não tem sido cumprida com responsabilidade pelo poder público. Psicólogos e assistentes sociais atuam, na instituição escolar, com o grupo de educadores de cada unidade para garantir bom processo de aprendizagem e promover a saúde mental.
Em casa, é interessante partir do conhecimento que pais têm – ou devem ter – de seu filho: sem esse fator, qualquer mudança pode ser creditada a algum transtorno mental.
Levar o tema da saúde mental com seriedade, em casa e na escola, é nosso dever. Só assim conseguiremos nos orientar sobre atitudes que deverão ser tomadas – incluindo para prevenir ataques nas escolas, como houve na Vila Sônia. Segurar nas mãos deles e acolher: é isso o que precisamos fazer.
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