Uma leitora enviou mensagem pedindo ajuda para entender melhor a filha, que está prestes a fazer 14 anos. Ela contou que sempre teve com a menina muita conversa, falavam sobre todos os assuntos, sem segredos mas que, de uns tempos para cá, a garota não quer papo. Essa mãe desconfia que a filha está iniciando a vida sexual e quis conversar a respeito para orientar. Ela conhece duas amigas dela da escola que já engravidaram. Levou um corte até um pouco agressivo da filha, que a chamou de invasiva.
A pergunta final dessa mãe nos ajuda a refletir sobre um tema bem delicado. “Como voltar a saber de tudo da vida da minha filha por ela mesma? Onde errei? ”
Vamos começar pela sensação de fracasso dela. Senhoras mães: saibam que vocês errarão sempre com os filhos, agindo desta ou daquela maneira. E é bem possível que alguns dos erros vocês nunca saibam, e outros, saberão pelos filhos, quando chegarem à vida adulta. Não há como acertar sempre. Por isso, o importante é sempre agir de acordo com os valores e a moral familiar e social, com respeito à dignidade da criança e do adolescente na fase da vida em que se encontram.
E essa é a deixa para falarmos de um dos temas mais delicados dos relacionamentos com os filhos: o direito deles à intimidade. Difícil entender isso em tempos de mundo virtual e reality show em que é possível até testemunhar cenas de importunação sexual, não é? Seus filhos não assistem? Ah! Mas eles ficam sabendo de tudo nas redes sociais.
Ensinar aos filhos que eles têm o direito à privacidade é importante porque conhecer e respeitar o limite entre o que pode ser posto no convívio social e o que deve fazer parte da intimidade diz respeito à manutenção da saúde mental também. E isso começa com o respeito à privacidade dos filhos em casa, no relacionamento com eles.
Sim, chega uma hora em que eles não querem mais contar tudo. E com razão: faz parte do crescimento a possibilidade de ter segredos que só serão compartilhados com algumas pessoas. Serão os pais? Não! Em geral, os pares, ou até algum adulto próximo em quem eles confiam.
Esse aparente afastamento do jovem dos pais não significa rompimento: tem mais o sentido de buscar ser ele mesmo o maior responsável pela própria vida. É crescimento, é busca de autonomia. Mas eles ainda precisarão dos pais em diversos momentos. Normal. A adolescência não dura semanas ou meses. Dura anos. Mas, atenção: ela precisa terminar para o acesso à vida adulta.
ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ
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