Há muitas crianças que se transformam em adolescentes precocemente. São levadas a não passar por essa fase do final da infância pelos valores socioculturais que temos adotado. Elas começam a ter intensa vida social com seus pares sem a companhia dos pais já a partir dos nove, 10 anos, são eroticamente estimuladas antes do tempo, pouco brincam e são bem pressionadas nos estudos e na agenda extracurricular, por exemplo. E boa parte dos pais nem percebe o quanto colaboram para adiantar a fase de vida dos filhos.
Isso tem um custo: sempre que uma etapa do desenvolvimento é pulada, ela retornará. O que não conseguimos saber é quando e como ocorrerá tal retorno.
E o que imaginam os adolescentes que acontece logo que entram nessa fase? Em geral, pensam que receberam, automaticamente, uma espécie de carta de alforria de seus pais.
Muitos jovens passam a não querer mais dar satisfação alguma aos pais a respeito de onde vão e a que horas voltam, levam namorada/o para dormir em casa sem solicitar permissão dos pais, não aceitam as normas da família, querem viajar só com amigos e colegas para passar dias fora etc.
O que eles não sabem – e os pais precisam saber! – é que a adolescência é tempo, sim, de emancipação da tutela dos pais, mas que, entretanto, tal emancipação é um processo que só termina ao final dessa etapa da vida, com o início da vida adulta.
Você conhece, leitor, a figura do super-herói chamado Homem Elástico? É um personagem que tem a capacidade de se esticar a ponto de conseguir estar em diversos locais ao mesmo tempo.
Nessa fase, os mais novos precisam muito usar essa capacidade do super-herói já que, ora se sentem obrigados a estar comprometidos com seus pais, ora consigo mesmo e com seus pares; ora têm a identidade baseada nas identificações parentais, ora com suas novas referências como amigos, heróis etc. É um estica para lá e estica para cá incessante. Isso sem falar de ser criança e adolescente ao mesmo tempo...
Nesse processo de emancipação da tutela dos pais, a presença e interferências destes é fundamental. São eles, já adultos, que irão administrar o processo. O filho – ou aluno – já deu conta de se responsabilizar por uma pequena parte de sua vida? Hora de dar um passo à frente; se ainda não consegue, hora de persistir antes de seguir em frente.
E quais os passos? Essa é uma escolha dos pais, que pode ser afetada pelo comportamento do filho. Um casal com um filho de 14 anos não cedeu aos pedidos e pressões do garoto para deixá-lo viajar só com outros adolescentes. Ainda não era a hora já que ele não conseguia sequer respeitar os horários acertados entre eles quando saia à noite. Foi uma boa decisão que tomaram.
Se você tem filhos adolescentes, este é o momento de refletir sobre o processo de emancipação deles e sobre a sua responsabilidade nessa questão.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.