No Brasil, é comum encontrar pessoas que associam ensino superior de qualidade apenas às universidades públicas. É fato que, numa análise ampla, são as públicas que aparecem nos rankings internacionais como as melhores do país. Mas há boas instituições privadas, principalmente aquelas que se tornam referência em uma ou outra área de atuação.
“As privadas estão crescendo muito no Brasil e a concorrência entre elas faz com que tenham muita preocupação em investir. Investir nos alunos, nos professores (procurando profissionais com mestrado e/ou doutorado), em equipamentos e no desenvolvimento tecnológico”, avalia Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo.
Por outro lado, as instituições públicas seguem muito relevantes e reconhecidas tanto dentro como fora do Brasil. Neste ano, por exemplo, a USP foi classificada como a 85.ª melhor universidade do mundo, de acordo com o QS World University Ranking 2024. Essa é a primeira vez que uma instituição brasileira entra para a lista das 100 melhores neste que é considerado um dos principais rankings universitários.
Além da USP, outras três instituições brasileiras ficaram entre as 500 melhores do mundo: a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) , a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por isso, a escolha por uma ou outra não é tão simples. Além do cálculo financeiro sobre custo-benefício, avaliar a qualidade implica em considerar, por exemplo, desenvolvimento científico, programas de intercâmbio e experiência no mercado de trabalho.
Custo-benefício
É inegável o custo-benefício de estudar em uma faculdade gratuita. Além da isenção de mensalidade, essas instituições, na maior parte dos casos, oferecem restaurantes universitários com preços acessíveis ou auxílio alimentação. Em algumas delas também há alojamentos estudantis para alunos de outras cidades ou auxílio moradia.
Porém, existem alguns cenários em que nem sempre ir para uma faculdade pública é sinônimo de economia, principalmente quando envolve mudar de cidade. É preciso computar custos de moradia, gastos com locomoção periódica da cidade da família ao município em que se irá estudar e aquelas despesas comuns de energia, internet etc.
Para Lívia Brígido do Nascimento, estudante de engenharia mecatrônica no Insper e moradora de Paraisópolis – bairro favelizado situado na zona sul de São Paulo –, esse foi um dos pontos decisivos que a fizeram escolher uma instituição privada.
Em 2020, utilizando a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Lívia passou em biotecnologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas também conseguiu bolsa integral para cursar Engenharia Mecatrônica no Insper, por meio do programa de bolsas para alunos com renda de até um salário mínimo per capita, e Análise e Desenvolvimento de Sistemas na FIAP.
Ao considerar toda a logística de mudar de cidade, a estudante decidiu ficar em São Paulo e aceitar a bolsa do Insper. “Como eu tinha conhecido o Insper e me encantado, optei por ele. No final, consegui passar a bolsa da FIAP para outra pessoa. Então, todo mundo saiu ganhando”.
Pesquisa científica
De forma geral, é na universidade pública que o estudante que almeja uma carreira acadêmica tem mais possibilidade de viabilizar o seu sonho. Apesar de algumas instituições privadas estimularem o “espírito pesquisador”, é mais comum ver nas públicas o estímulo à iniciação científica ainda durante o período da graduação.
Na Escola Politécnica da USP (Poli), os alunos que desejam explorar o campo de pesquisa, estudando temas como inteligência artificial, fontes renováveis de energia, entre outros, podem receber bolsas por isso. “Todo ano são destinadas cerca de 100 bolsas de R$700 mensais para a Poli/USP através de edital específico USP e CNPq”, explica Antonio Carlos Seabra, professor titular do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP e presidente da Comissão de Graduação da Poli.
Além desse “aperitivo científico”, a possibilidade de cursar disciplinas de outros cursos – até de outras áreas – é bastante comum e estimulada nas instituições públicas, o que possibilita que o universitário consiga beber de outras fontes e refletir com repertório adequado o caminho da pesquisa que faz mais sentido à sua vida.
Por fim, ser um aluno da instituição pode facilitar o entendimento e acesso aos programas de mestrado e doutorado, à medida em que o estudante já compreende o modus operandi da universidade e eventualmente conhece docentes que lecionam tanto na graduação como nos programas de pós-graduação. Submeter um projeto de mestrado alinhado a um tema de pesquisa do orientador pode ser uma vantagem importante.
Experiência de mercado
Enquanto as instituições públicas possuem a veia da pesquisa mais aguçada, as instituições privadas tendem a proporcionar uma experiência de mercado mais imersiva.
Na Universidade São Judas, por exemplo, a proposta do modelo de ensino é promover um contato constante entre estudantes e empresas e órgãos públicos parceiros, fazendo com que o graduando lide com desafios reais da profissão desde o primeiro semestre.
“Na Baixada Santista, a unidade de Cubatão, gerida pela Inspirali, nossa vertical de medicina, trabalha em sintonia com a prefeitura na Clínica Integrada de Saúde, prestando serviço à comunidade”, conta Jaqueline Camisa, diretora adjunta da São Judas.
EAD é prevalente em privadas
Se o objetivo é cursar uma faculdade a distância, provavelmente uma instituição privada irá atender melhor a demanda, devido a oferta mais alta. De acordo com o Instituto Semesp, 97,9% dos cursos EAD são de instituições privadas.
Esse formato de ensino é ideal para quem precisa de uma rotina de estudos mais otimizada, e não tem tempo ou fácil acesso para cursar uma graduação presencial. Na Universidade Paulista (Unip), por exemplo, existem dois tipos de ensino EAD: o tradicional e o Flex.
O Flex é mais focado para os cursos da saúde (como enfermagem e fisioterapia) e as engenharias. Isso porque, nesta modalidade, o estudante pode assistir todas as aulas na plataforma, a distância, e realizar as atividades práticas exigidas pelo curso presencialmente. No tradicional, todo o conteúdo é online.
No âmbito das instituições públicas, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) é um bom exemplo. Criada em 2012, oferece apenas graduação à distância. Neste ano de 2023, já está presente em 424 polos de 370 municípios do Estado. São 72 mil estudantes entre graduação e pós. Atualmente são oferecidos nove cursos, com três eixos básicos de ingresso: Letras, Matemática e Pedagogia (Eixo de Licenciatura), Ciência de Dados, Engenharia de Computação e Tecnologia da Informação (Eixo de Computação), e Administração, Engenharia de Produção e Tecnologia em Processos Gerenciais (Eixo de Negócios e Produção).
Intercâmbio
Estudar parte da graduação fora do Brasil é uma possibilidade real tanto nas instituições públicas quanto nas privadas. Os convênios com as entidades estrangeiras devem levar em conta, sempre, a qualidade e sincronia do currículo.
O Insper, por exemplo, procura fazer parceria apenas com faculdades que possuem as mesmas certificações. “Temos três certificações internacionais de instituições acadêmicas na área de negócios (AACSB, EQUIS e Amba). Menos de 1% das instituições de ensino superior no mundo, na área de negócios, têm as três. Essas são nossas parceiras”, explica Tadeu da Ponte, coordenador executivo de processo seletivo do Insper.
A maioria dos acordos são bilaterais. Isto é, o Insper envia, em média, 100 alunos para outras instituições internacionais, e recebe cerca de 100 alunos também. A experiência internacional, contudo, começa já no próprio câmpus, com disciplinas em inglês e alunos intercambistas circulando nos corredores e nas salas de aula. A faculdade oferece programas de dupla titulação, mas os programas semestrais e de estágio no exterior são os mais escolhidos.
Na USP, a Escola Politécnica (Poli) é a unidade que mais tem acordos bilaterais com universidades estrangeiras. São mais de 200 acordos com escolas da África, Ásia, Europa e América.
“Por ser uma universidade de pesquisa e renomada internacionalmente, as universidades nos procuram. Isso faz com que 20% dos nossos alunos sejam capazes de fazer um intercâmbio durante a graduação”, afirma o professor Seabra.
Desde 2000 a instituição já foi responsável pela emissão de mais de mil duplos diplomas. Esse é o modelo mais formal de intercâmbio oferecido pela faculdade, no qual o estudante cursa dois anos no exterior e obtém um diploma reconhecido no Brasil e no país estrangeiro.
Esse foi o tipo de intercâmbio escolhido por Pedro Bacelar, que está fazendo a dupla diplomação na Politecnico di Milano, na Itália. Ele embarcou no segundo ano de graduação e viu sua vida mudar completamente desde então. “Fui o único aluno da Poli selecionado pela Agência USP de Inovação para receber a Bolsa de Empreendedorismo 2022″.
No início deste ano, Pedro e mais dois estudantes brasileiros da Poli além de um indiano venceram o concurso estudantil organizado pela MindSphere World em parceria com o Laboratório Indústria 4.0 “Marco Garetti”, do Departamento de Engenharia de Gestão da Politécnica de Milão.
Após um breve período no Brasil durante as férias, Pedro retornou a Milão neste mês, para concluir a dupla diplomação com mestrado – prevista para acabar em julho de 2024.
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