Em 2017, um grupo de alunas do primeiro ano do ensino médio procurou a professora Lúcia Cristina Araújo, da Escola Sesi-SP de Regente Feijó, em busca de orientação. Dúvidas e angústias sobre brincadeiras inadequadas, comentários desconfortáveis e atitudes machistas tornaram-se tema das rodas de conversa organizadas pela educadora. Surgia, assim, o Coletivo Feminista da escola, uma iniciativa que mudaria não apenas as estudantes, mas toda a comunidade escolar.
“Meninas vinham reclamar sobre colegas que diziam: ‘Fica quieta, você é mulher, não precisa falar’. Era algo frequente”, conta Lúcia, idealizadora do projeto. Com o tempo, as rodas de diálogo evoluíram para palestras e ações mais abrangentes. A estudante Letícia Vitória Souza, 17 anos, que participa do coletivo desde o início do ensino médio, destaca que o grupo ajudou a identificar atitudes preconceituosas que antes passavam despercebidas. “Muitas meninas, principalmente as mais jovens, não sabiam que certos comentários eram ofensivos. O coletivo foi essencial para conscientizar e oferecer acolhimento”, afirma Letícia.
De acordo com a professora Lúcia, os resultados já são perceptíveis no ambiente escolar. Uma pesquisa recente realizada na Escola Sesi-SP de Regente Feijó mostrou que 98% das estudantes consideram que as questões ligadas à misoginia são bem abordadas pela instituição. “Hoje temos turmas que não apresentam mais denúncias de assédio ou falas machistas, o que comprova a eficiência do projeto”, enfatiza.
Letícia também observa mudanças concretas: “O machismo ainda existe, mas já conseguimos ver avanços significativos. Hoje, há uma enorme procura das meninas pelas atividades do coletivo”, comemora.
Agora, essa proposta ganha dimensão estadual com o lançamento do programa Juventudes AntiMisoginia pelo Serviço Social da Indústria de São Paulo (Sesi-SP). Idealizado após o sucesso em Regente Feijó, o projeto busca combater a discriminação contra mulheres e promover a equidade de gênero em todas as escolas da rede no Estado.
“O problema da violência contra a mulher existe, e as estatísticas são chocantes. A solução passa pela educação, pelo reconhecimento e pelo engajamento de todos”, ressalta o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Sesi-SP, Josué Gomes da Silva. “Com essa iniciativa, o Sesi dá um passo decisivo na construção de um futuro mais justo”, completa.
Inspirado pelas histórias de estudantes e professores, o programa já envolve mais de três mil alunos e promete fortalecer uma geração capaz de identificar, enfrentar e transformar realidades dentro e fora das escolas. Para Marta Lívia Suplicy, presidente do Conselho Superior Feminino da Fiesp, o Juventudes AntiMisoginia é um valioso presente para a sociedade. “A iniciativa não aborda apenas empoderamento, mas formação e capacitação. Aqui, as jovens descobrem que não estão sozinhas nessa causa”, diz.
Além das campanhas educativas, oficinas e palestras, o projeto também combate a misoginia digital e a desinformação, incentivando o pensamento crítico dos jovens nas redes sociais. “Precisamos criar espaços seguros nas escolas e também na internet, fortalecendo o respeito e a responsabilidade dos jovens nesse ambiente”, destaca Marta.
Letícia deixa uma mensagem clara: “O conhecimento empodera. É importante que as meninas percebam que o silêncio não é a melhor opção”. Já a professora Lúcia reforça: “Mesmo em tempos difíceis, manter o engajamento é fundamental. As pequenas conquistas de hoje representam grandes avanços amanhã”.