Sofrimento físico e mental: especializações permitem tratamento mais personalizado e integrado

Mudanças globais têm afetado diretamente a forma como as pessoas vivem e lidam com suas emoções e dores; cenário também impacta na formação de profissionais

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Foto do author Renata Okumura

Nos dias atuais, há um entendimento mais amplo de que o sofrimento físico e o mental estão cada vez mais interligados, podendo até mesmo um impactar sobre o outro. É a complexa interação entre o corpo e a mente. Desta forma, profissionais precisam estar preparados para lidar com um cenário que necessita de atendimento em ambas as frentes.

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Para Talita Cepas Lobo, docente da pós-graduação em Psicologia Hospitalar do Centro Universitário São Camilo, os cursos em doenças mentais, como depressão, por exemplo, e também voltados para medicina da dor, o que envolve as dores crônicas, têm se destacado bastante em razão do contexto atual de vida da sociedade.

“É possível observar esse aumento. E, ao considerar esse cenário, o cuidado com a saúde mental se torna uma condição importante para a manutenção da qualidade de vida. Por sua vez, a dor crônica deve ser abordada de forma multiprofissional por impactar em diversos aspectos da vida do indivíduo”, afirma ela.

Alunas do Centro Universitário São Camilo durante momento de simulação de atendimento. Foto: Divulgação

Assim como uma dor física pode provocar sentimentos depressivos, o estresse psicológico, por sua vez, também pode resultar em sintomas físicos como as dores crônicas. “É comum nos depararmos, na prática em Psicologia Hospitalar, com indivíduos com dor e sintomas depressivos associados. Em muitos casos, é difícil identificar qual quadro se iniciou primeiro: dor ou sintomas depressivos”, acrescenta Talita.

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Para ela, essa é uma demanda que registra cada vez mais a necessidade de profissionais especializados. “Além do aumento da prevalência de sintomas ansiosos e depressivos na população geral, há a necessidade de cuidados especializados em contexto de adoecimento agudo ou crônico.”

Para uma intervenção adequada, é preciso, antes de traçar um plano terapêutico de cuidados, compreender, mesmo que de forma mínima, a fisiologia da doença e seus sintomas. Essa compreensão permite que o profissional tenha sua visão do contexto do indivíduo mais ampliada e, então, seu trabalho poderá ser mais personalizado”, ressalta.

Cuidado mais humanizado e integrado

Ao entender como o sofrimento mental pode impactar todas as áreas da vida do indivíduo, a psicóloga Lylian Silva, de 40 anos, buscou se especializar na área. Atualmente, ela atua como psicóloga clínica e já teve experiências em contextos hospitalares durante a graduação. “Meu objetivo é consolidar minha atuação na Psicologia Hospitalar, buscando cada vez maior aprimoramento para ajudar o paciente a lidar com o diagnóstico e oferecer um atendimento de qualidade”, disse a aluna de pós-graduação em Psicologia Hospitalar.

Para ela, as mudanças no mundo têm sido cada vez mais rápidas e desafiadoras, impactando diretamente a forma como as pessoas vivem e lidam com suas emoções. “A especialização não é apenas um diferencial, mas uma necessidade para promover um cuidado mais efetivo e humanizado.”

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Atuando na área há mais de 40 anos, Marcelo Feijó, psiquiatra do Einstein e professor na Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que a especialidade se transformou no decorrer do tempo.

“Mudou radicalmente nesse período. Era uma especialidade que poucos buscavam para residência após a formação em Medicina, e hoje ela é uma das mais procuradas. Tem também uma mudança no perfil de atendimento. Antes, as pessoas tinham muito mais resistência para procurar o psiquiatra, e hoje em dia a busca é espontânea”, acrescenta ele.

Desta forma, quando o paciente tem um transtorno mental, necessita de um tratamento mais especializado. “Com a elevada prevalência de transtornos mentais na população, por exemplo, além de psicólogos, muitos médicos clínicos, pediatras e também ginecologistas têm recebido essa demanda, sentindo também a necessidade de se especializar em saúde mental”, afirma Feijó.

Recentemente, o Einstein lançou o Centro de Saúde Mental, o que representa um novo olhar sobre o aumento de atendimentos de pacientes que buscam auxílio para a saúde mental.

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Abordagem multiespecializada

Considerado um dos quadros que mais gera prejuízos nas pessoas, a dor está presente em uma área de multiespecialidade dentro da Medicina e de outras áreas, dependendo do quadro clínico.

“Ela pode ser tratada também por profissionais das áreas de Psiquiatria, Neurologia, Fisiatria, especialidades que vão atender pacientes que têm dor crônica. Anestesia também é um especialista da dor. Em geral, vai estar associada também com a Fisioterapia, a Psicologia e a Enfermagem. Então, a dor, ela exige um conhecimento muito amplo para ser tratada.”

Diante desse entendimento, Feijó avalia que a separação mente e corpo é algo ultrapassado. “A sociedade e os médicos ainda pensam muito assim. Mas o que se sabe hoje é que temos que integrar.”

Com o avanço da Medicina nos últimos anos, Eliézer Silva, diretor executivo de Sistemas de Saúde do Einstein, avalia que obrigatoriamente muda a prática médica, assim como a formação dos profissionais.

“Temos um entendimento muito maior do impacto da nossa saúde mental sobre a condição física e vice-versa. Uma coisa que é complexa, que é o próprio organismo e que eu não posso mais tratar de forma isolada”, afirma. “Então, quando você pontua a questão física e mental, ela é altamente interligada e esses mecanismos de interligação hoje são mais conhecidos, então, esses profissionais, sejam eles médicos, psicólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas, quando eles adquirem essa capacidade, eles conseguem oferecer um atendimento mais personalizado, entendendo qual a melhor forma de tratar a doença em questão”, completa Silva.

Eliézer Silva é diretor executivo de Sistemas de Saúde do Einstein. Foto: Divulgação

Para Thaís Pereira, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Sírio-Libanês, as formações tradicionais de graduação nos grandes campos de atuação voltados para o enfrentamento do sofrimento, seja físico ou psíquico, como a Medicina e a Psicologia, continuam sendo protagonistas na produção de conhecimento e práticas.

“Profissionais de diversas áreas buscam esses cursos tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para a capacitação profissional, com o intuito de lidar com o aumento de sinais de sofrimento ou mesmo com diagnósticos que extrapolam suas áreas de atuação. Não apenas profissionais da saúde, mas também da educação, do mundo empresarial, da comunicação e de outros setores têm reconhecido a importância desse tema”, avalia Thaís.

Uma especialização em saúde mental, por exemplo, permite que diversos profissionais de saúde atuem com maior segurança e eficácia em casos de sofrimento psíquico. “Embora cada profissão tenha estratégias específicas, como a prescrição de medicações por parte do médico, a qualificação ampliada possibilita um cuidado mais integrado e efetivo.”

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Buscando por uma área de atuação já na graduação, Ana Clara Domingues Vitale, de 19 anos, estudante do terceiro semestre de Psicologia, já demonstra interesse pela Psicologia Social. “Eu pretendo me especializar. Acredito que a área deve se manter atenta a questões materiais e concretas da vida em sociedade que afetam os indivíduos, e como o contexto social atravessa a experiência subjetiva e o sofrimento mental e físico de cada pessoa.”

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