Buraco de meteoro na USP? O Relógio Solar segue a hora de Brasília? Faça um tour pela universidade

‘Estadão’ visitou nove prédios e monumentos icônicos da Universidade na capital, para contar um pouco sobre os 90 anos da instituição

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Foto do author Leon Ferrari
Atualização:

Noventa anos de história, como a Universidade de São Paulo (USP) completa na quinta-feira, 25, são difíceis de contar. Mas o que a memória falha em lembrar ou não registra também pode ser revisitado por meio da arquitetura.

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De prédios icônicos a monumentos, para comemorar o aniversário de nove décadas da USP o Estadão foi até nove locais descobrir o que eles podem nos contar sobre a própria instituição e também sobre a história da cidade.

Durante todo o roteiro, o Estadão foi acompanhado pela equipe do Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP. Os estagiários Marina Gazzoli Pio, arquiteta e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), e Rodrigo Augusto das Neves, estudante da FAU, apresentaram as construções.

Confira os locais visitados:

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1 - Torre do Relógio

Principal símbolo da USP, a Torre do Relógio foi inaugurada na década de 1970. Contém seis placas de cada lado, representando as ciências humanas e as exatas, propondo a união delas em um mesmo espaço. Ao redor dela, está a frase de Miguel Reale, reitor entre 1949 e 1950 e entre 1969 e 1973: “No universo da cultura, o centro está em toda parte.”

Torre do Relógio é um dos símbolos da Cidade Universitária, no Butantã Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Próximo da reitoria, a Torre é um ponto de centralidade no campus do Butantã. “O propósito (do projeto da construção) era mostrar que essas ciências podem se complementar e estar no mesmo lugar”, explica Nevees.

2 - Relógio Solar

Não muito distante da Torre fica o Relógio Solar. Além da arquitetura singular, ele é único pois, com auxílio de professores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), mostra as horas exatamente do meridiano onde está localizado - por isso, está um pouco diferente do horário oficial de Brasília.

O formato também chama a atenção. Ele é trapezoidal, e no chão, feito de pedras portuguesas, fica a marcação dos horários do dia.

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3 - Biblioteca Brasiliana

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin foi inaugurada em 2013. Ela abriga uma coleção brasiliana, ou seja, volumes que contam a história do Brasil. Foi pensada após o casal formado pelo bibliófilo José Mindlin e sua esposa Guita informar a intenção de doar um acervo de mais de 30 mil itens à USP.

Como alguns deles datam do século 16, foi necessário um projeto arquitetônico específico e moderno. “As paredes de vidro recebem uma proteção UV para garantir a melhor preservação desses livros”, revela Marina. “Ele conta com grande número de placas solares na cobertura, que garantem grande eficiência energética. Ao longo do dia, toda a energia que gasta, ele mesmo é produz.”

A biblioteca é pública e está aberta a toda comunidade. Após se cadastrar e fazer requisição de consulta no site da Biblioteca neste link, é possível manusear a obra em uma sala especial. Isso porque se tratam de livros raros e únicos - alguns com dedicatórias exclusivas dos autores e até de ex-presidentes.

4 - Vão da FFLCH

O Vão da História e da Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), foi construído de uma maneira que não se sabe onde o prédio começa nem onde ele termina. A proposta é de que fosse um local de encontro - essa ideia se concretizou. Historicamente, o espaço tem sido utilizado por movimentos e assembleias estudantis.

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Vão da História e da Geografia, da FFLCH Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Esse vão é muito simbólico e foi apropriado na história da universidade repetidamente”, diz Neves. “Historicamente, é a sede das assembleias do diretório central dos estudantes e foi palco de assembleias muito históricas ainda durante a ditadura.”

5 - Biênio

A Escola Politécnica de São Paulo foi incorporada à USP após a criação da universidade, mas já operava antes. Inicialmente, ficava na Avenida Tiradentes, no centro, e foi transferida para a zona oeste, para o câmpus da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira.

Por lá, um prédio que tem formato que remete a um disco voador, apelidado de Cirquinho, é uma de suas grandes marcas. Ele faz parte de um conjunto de espaços conhecidos como Biênio, onde as disciplinas dos dois primeiros anos das engenharias são ministradas.

O apelido cirquinho não é à toa. As salas de aula têm formato de anfiteatro. Para quem passa por ali e observa as figuras da edificação, pode se questionar como se chegou até elas. “Antes (de despejar o concreto), faz uma forma de madeira. Um ‘‘negativo desse edifício”, explica Marina.

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“Do mesmo jeito que fazemos um bolo, constrói uma forma de madeira onde o concreto será despejado. E para conseguir esse vão enorme, sem pilar, no meio desse concreto se colocam cabos de aço, que é o que chamamos do concreto protendido. Esses cabos de aço serão tracionados depois que são colocados na massa do concreto, para garantir maior rigidez e estabilidade dessa construção.”

6 - FAU

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP também tinha outro prédio, na Vila Penteado em Higienópolis, antes de ser transferida para o Butantã. Erguida no fim dos anos 1970, a sede da FAU é um dos projetos mais célebres de Vilanova Artigas, e uma referência arquitetônica nacional e internacional.

O prédio da FAU é um projeto de Vilanova Artigas  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em frente ao prédio, no meio do asfalto, um lago que só é cheio poucas vezes aos anos, costuma intrigar quem passa por ele. “A história dele é ligada a uma tradição dos alunos da FAU. Quando a sede era um casarão em Higienópolis, tinha uma grande fonte na entrada, onde calouros eram batizados pelos seus veteranos”, conta Marina.

Foi para honrar essa tradição que o lago foi projetado. “Anualmente, esse espaço é cheio de água com um caminhão-pipa, e os calouros são batizados pelos veteranos num rito de passagem que já virou tradição.”

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7 - SanFran

A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - SanFran para os íntimos - também já existia antes da fundação da USP e foi incorporada a ela. O prédio neocolonial, na região central da cidade, é atravessado pela história política do Brasil.

No Pátio das Arcadas, por exemplo, foi lida a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, em 11 de agosto de 2022. “Muito se fala que os primeiros ideais republicanos foram alimentados dentro da SanFran”, afirma Marina.

História da Faculdade de Direito da USP é anterior à da própria universidade Foto: Werther Santana/Estadão

Não dá para visitar a Sanfran sem passar pelo Salão Nobre, que proporciona uma viagem no tempo com o mobiliário neocolonial. Ligadas sequencialmente a ele, e igualmente deslumbrantes, há a Sala das Becas, onde ficam as togas dos professores, que incluem nomes bastante conhecidos, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; e a Sala da Congregação, na qual os professores fazem reuniões.

8 - Museu do Ipiranga

Após um laudo indicar risco de queda de forros, em 2013, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, fechou às portas, e só reabriu quase dez anos depois, no Bicentenário da Independência, após restauro e modernização.

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O edifício onde fica foi projetado para ser um monumento em comemoração à Proclamação da Independência, em 1822. Ele foi construído entre 1885 e 1890.

Museu do Ipiranga foi reaberto em 2022 após quase dez anos de reformas Foto: Marcelo Chello/Estadão

“O que é interessante sobre esse espaço é que ele foi concebido como monumento desde o início. Muita gente costuma pensar que era uma casa onde pessoas moravam, mas não, ele foi pensado logo após a Independência do Brasil para marcar esse período da história”, diz Rodrigo.

9 - Casa de Dona Yayá

O fim do nosso roteiro pode ser o início do seu: o casarão hoje abriga o CPC da USP. O espaço antes foi um “sanatório particular” para Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá, nas primeiras décadas do século 20, em um período que pouco se entendia sobre transtornos mentais, .

Na Sala Verde, o projeto de restauro preservou todas as temporalidades da casa, que são contadas pelas paredes. “Era uma chácara e, em 1902, foi ampliada e ficou um pouco mais próxima da casa que a gente conhece hoje. Mas passou por modificações maiores ainda, como a construção do solário, quando recebeu a sua moradora mais ilustre, a Dona Yayá”, fala Neves.

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Por meio do projeto Roteiros da USP, sempre gratuitos, as opções de tour mostram a grandeza das construções da universidade na capital paulista e em São Carlos. É possível ter mais informações sobre os roteiros neste link.