A Universidade Estadual do Ceará (Uece) anulou uma questão da prova de História de seu vestibular que foi acusada de antissemitismo. A polêmica surgiu nas redes sociais quando um estudante mostrou que a resposta correta da questão 29 da prova dizia que “o extermínio dos judeus foi uma decisão antieconômica na medida em que sua mão de obra escrava poderia ter sido ter sido mais bem explorada pelos alemães”.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib), ao tomar conhecimento da situação, fez um ofício ao Ministério Público (MP) e à universidade do Ceará por antissemitismo no vestibular, o que, segundo a entidade, pode configurar tanto ato ilícito quanto improbidade administrativa.
“A resposta à questão 29 ofende e desumaniza, de forma flagrante e irreparável, a memória das vítimas do Holocausto, na medida em que normaliza as atrocidades cometidas contra o povo judeu pelo regime nazista e aplica um cálculo de custo-benefício para avaliar o genocídio de 6 milhões de pessoas”, diz a entidade que representa a população israelita no País.
A UECE informa que analisou e constatou inconsistência na elaboração dessa questão, que por isso foi anulada. “Após consultar a banca de elaboração da prova, a Comissão Executiva de Vestibular concluiu que ‘os itens propostos para análise deixam margem para diversas interpretações e, portanto, nenhuma dessas respostas corresponde à realidade’”, afirmou.
As questões 27 e 35 também foram apontadas como antissemitas, e estão sendo analisadas pela comissão da universidade.
O Ministério Público do Estado do Ceará informou que recebeu ofício da Conib e da Sociedade Israelita do Ceará denunciando questões com cunho antissemita na prova de conhecimentos gerais da 1ª fase do vestibular 2024.2 da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e que instaurou procedimento e oficiou, nesta quinta-feira, 2, a Comissão Executiva do Vestibular da universidade para prestar maiores esclarecimentos sobre o teor das questões 27, 29 e 35 da prova.
Na questão 27, a acusação seria de que o termo Palestina foi usado de forma errônea, e que a expressão elite judaica seria uma “deturpação” da realidade da época.
“A questão 27 deturpa de forma maliciosa o texto bíblico sobre o êxodo do Egito, buscando apagar os laços milenares do povo judeu com a Terra de Israel. Como se sabe, Moises conduziu o povo Judeu à Canaã, Terra de Israel. A denominação ‘Palestina’ surgiu muito tempo depois, no Império Romano, não guardando absolutamente qualquer relação com o contexto da questão apresentada. Frise-se que o povo judeu foi escravizado no Egito. Portanto, é verdadeiramente inconcebível utilizar o termo ‘elite judaica’ ao se referir a um povo escravizado, que fugia da perseguição no Egito”, afirma a Conib.
Já a questão 35 foi criticada por ligar o sionismo (movimento que busca um Estado nacional judaico) a “conotações territorialmente expansionistas”, segundo a prova.
“A questão 35 foi construída de maneira tendenciosa e carente de respaldo histórico, distorcendo a definição de sionismo e instigando preconceitos e estereótipos contra a comunidade judaica”, acrescenta a entidade israelita.
A Universidade Estadual do Ceará reitera que “em momento algum praticou atos preconceituosos e que caso seja constatado de fato má elaboração das questões, as mesmas serão anuladas”.
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