A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no agreste da Paraíba, é a maior depositante de patentes de invenção entre as instituições de ensino superior, conforme o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), atrás apenas da Petrobras.
Por trás desse resultado, estão políticas da universidade de preparar os pesquisadores para desafios jurídicos e tecnológicos desses projetos, além de fazer parcerias com a iniciativa privada e grupos estrangeiros.
Um os principais projetos científicos da é o novo radiotelescópio brasileiro, que deve entrar em funcionamento em 2025 e deve ser o maior da América Latina. O principal objetivo do novo instrumento é tão grandioso quanto o projeto: estudar a misteriosa energia escura, que forma a maior parte do universo, mas que ninguém sabe de que é feita.
O telescópio está sendo desenvolvido em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e USP, além de outras instituições de ensino de China, Inglaterra, África do Sul, Coreia do Sul, Itália, Alemanha e Estados Unidos. As obras para a instalação do instrumento já começaram no município de Aguiar, na Serra do Urubu, no interior da Paraíba.
Trata-se do Bingo, sigla para Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations ou, em bom português, Oscilações Bariônicas Acústicas a partir de Observações Integradas de Gás Neutro.
“O universo está em expansão acelerada, esse é o consenso”, afirmou Amílicar Rabelo de Queiroz, da UFCG, um dos coordenadores do projeto. “Essa aceleração se dá pela energia escura. Nosso objetivo é estudar para obter mais informações sobre essa energia escura, como seria a estrutura dessa expansão acelerada.”
O som primordial do universo
Nos primórdios dos tempos, quando não havia estrelas, nem planetas, antes mesmo de os primeiros raios de luz cortarem a escuridão, o universo reverberava. Essas ondas sonoras primordiais, conhecidas como oscilações acústicas de bárions, foram formadas quando as primeiras partículas começaram a se reunir, atraídas pela gravidade.
As oscilações criadas por essas ondas eletromagnéticas na frequência de rádio deixaram uma marca permanente na distribuição de matéria pelo universo. Por isso mesmo, elas são a grande aposta dos cientistas para explicar a misteriosa energia escura. Tudo o que se sabe é que ela responde por 68% da matéria do universo e que é responsável pela expansão do Cosmos.
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O principal objetivo do novo radiotelescópio é “ouvir” esses sons primordiais. Diferentemente dos telescópios óticos, que produzem imagens a partir da luz visível, os radiotelescópios captam ondas sonoras. Examinando a frequência, a potência e o tempo das emissões dessas ondas, pesquisadores podem obter informações sobre o universo.
- A Serra do Urubu, no interior da Paraíba, foi escolhida para a instalação do radiotelescópio depois de uma pesquisa que varreu todo o território brasileiro em busca de um local ideal para a captação desses sons.
- Segundo Queiroz , a área não tem poluição de ondas de rádio ou celulares, criando um isolamento acústico perfeito para ouvir o universo.
“Vários outros radiotelescópios em todo o mundo estão tentando fazer a mesma coisa, sem sucesso”, disse Amílicar. “Mas a nossa proposta é vista como a mais promissora pela comunidade internacional devido ao desenho ótico e às demandas eletrônicas que colocamos no projeto.”
- O novo radiotelescópio tem uma estrutura de tamanho equivalente ao do Estádio do Maracanã. Somente a antena parabólica, com um espelho de 40 metros de diâmetro, é comparável a um campo de futebol.
Em paralelo ao Bingo, o Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG já construiu um outro radiotelescópio, proporcionalmente bem menor, o Uirapuru, que serve para testar o desenvolvimento de sensores remotos e softwares a serem usados na nova estrutura.
Até agora o projeto está sendo desenvolvido com recursos nacionais e apoio da Fapesp. Ao todo, o radiotelescópio já recebeu R$ 35 milhões. A coordenação geral do projeto é do professor Élcio Abdalla, da USP.
O dinheiro é proveniente do governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB); do governo de São Paulo, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp); e do governo federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“Parece muito, mas é muito pouco, sobretudo se compararmos com outros radiotelescópios que chegam a custar bilhões”, afirma o pesquisador. “Ainda temos a intenção de dobrar esse valor e a China deve entrar ainda com dinheiro, mas não vamos chegar aos R$ 100 milhões. E, mesmo assim, teremos um radiotelescópio competitivo.”
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