RIO - Prédios condenados, obras abandonadas e falta de equipamentos. Aulas em contêineres ou nos jardins das universidades. Estupros e assaltos dentro e no entorno dos câmpus. Este é o cenário de penúria das universidades federais do Estado do Rio.
Alunos do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Câmpus Valonguinho, centro de Niterói, estudam com medo de o prédio desabar, por exemplo. Com o peso dos aparelhos dos laboratórios, as lajes dos 2º e 3º andares cederam e as divisórias das paredes de compensado envergaram. Há remendos nos tetos e fissuras nos pilares externos.
O prédio foi interditado por 15 dias, em agosto de 2014, após vistoria da Superintendência de Arquitetura e Engenharia da UFF. O parecer técnico recomendou a remoção imediata de todos os equipamentos dos andares superiores e a transferência emergencial dos laboratórios. “Um engenheiro falou que se ouvirmos barulho de vidro trincando é para sairmos correndo”, disse Gustavo Farés, de 21 anos, do 5º período de Biologia. Depois disso, equipamentos passaram a ser guardados em contêineres e os refrigeradores com materiais de pesquisa se amontoam nos corredores.
A nova sede do instituto começou a ser construída em 2012 no Câmpus Gragoatá. Orçado em R$ 21,7 milhões, o prédio deveria ter ficado pronto em 2013. Há atrasos nos institutos de Arte e Comunicação Social e de Química. As obras em andamento somam R$ 250 milhões – novas sedes para mais quatro institutos e dois prédios em Campos, a 275 km do Rio.
O Diretório Central dos Estudantes acusa atraso no pagamento de bolsas do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). E os bandejões fecharam semana passada por débito de R$ 12 milhões com a firma Luso Brasileira.
Unirio. Há obras paradas também na Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio). Contratada em 2012, a obra da nova sede do Centro de Ciências Humanas e Sociais (Urca, zona sul) nem sequer começou. O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou irregularidades na licitação e no projeto, orçado em R$ 19,7 milhões. “Temos turmas com 120 alunos, uma situação caótica de espaço físico”, disse o professor Leonardo Castro, da Associação dos Docentes da Unirio.
Na Escola de Música, o número de vagas dobrou com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Não há espaço. “Fizemos prova no jardim. É constrangedor”, disse Juliana Marins, de 21 anos.
Déficit. Em Seropédica (50 km do Rio), turmas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) têm aulas em escola estadual, por falta de salas. Segundo o professor Alexandre Mendes, há déficit de microscópios, soluções para conservação de peças anatômicas e reagentes químicos. “Tiramos verbas das pesquisas e até do próprio bolso para a graduação.”
A violência é outro problema em Seropédica e no vizinho município de Nova Iguaçu. Em janeiro, duas alunas foram estupradas em Seropédica. “Não há corpo da guarda universitária suficiente”, afirmou o aluno Rodrigo Fonseca. Em nota, a Administração Central da UFRRJ informou que há projeto de licitação para a construção de novas salas neste ano e também para a instalação de câmeras.
O Ministério da Educação informou, em nota, que as universidades têm “autonomia administrativa e de gestão financeira e patrimonial”. Em 2015, foram repassados R$ 52 milhões à UFF, R$ 20,2 milhões à UFRRJ e R$ 8,3 milhões à Unirio. UFF e Unirio não se pronunciaram.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.