A Universidade de São Paulo (USP) vai lançar oficialmente nesta terça-feira, 23, o seu fundo patrimonial e se prepara para, até o fim do ano, começar a receber doações. Hoje, já é possível doar para projetos específicos da USP e, com o fundo patrimonial, a ideia é que parte das doações entrem em uma poupança duradoura.
Comuns nos Estados Unidos, os fundos patrimoniais, ou endowments, investem o dinheiro de doações no mercado e a universidade só usa o que rende, para ações como melhorar laboratórios, apoio à pesquisa e bolsas. A ideia é que o fundo seja perene: quanto maior o bolo de doações, maiores os rendimentos e mais projetos são apoiados.
O fundo patrimonial da USP receberá doações de qualquer valor. Podem participar não só empresários e ex-alunos, mas qualquer pessoa interessada em contribuir com a universidade ou apoiar projetos já existentes. Ao doar, será possível escolher o modelo: para aplicação imediata em ações específicas ou compor a poupança de rendimentos, com aplicação posterior.
Segundo o reitor Vahan Agopyan, a ideia é estreitar a relação da universidade com a sociedade. Experiências de doações durante a pandemia mostraram que a comunidade acadêmica e até pessoas de fora queriam investir e participar de projetos, como o desenvolvimento de vacinas ou equipamentos, na maior universidade da América Latina.
"É ideia é mais ampla do que só dinheiro. No século 21, a interação com a sociedade se tornou muito importante, as universidades de pesquisa precisam interagir mais, a sociedade tem de entender o que a universidade faz."
Unidades da USP já criaram seus fundos há mais tempo. O mais antigo é o Amigos da Poli que, neste ano, chegou à marca deR$ 36 milhões. O fundo já conseguiu aplicar R$ 1 milhão em projetos dos alunos de Engenharia. "Com o sucesso do Amigos da Poli, que já tem valor bem substancial, ficou claro que a universidade precisava ter um fundo geral, para toda a USP. Conseguimos estruturar, formalizar."
As doações na USP vão ser facilitadas - será possível contribuir por meio de uma página na internet, com pagamento em boleto ou cartão de crédito. Novos endowments e até antigos fundos ligados às universidades têm diversificado os modelos de pagamento para atrair e manter doadores. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, é possível doar com PIX. Outras instituições criam planos mensais, como uma "Netflix de doações".
Segundo o reitor da USP, nesta terça-feira também será assinado um termo de cooperação entre o fundos da USP, o Amigos da Poli, e os endowments das Faculdades de Economia e Administração (FEA) e da Medicina. Para Agopyan, não deve haver competição entre os endowments, mas troca de ideias e expertisena gestão dos fundos.
Nos últimos anos, a aprovação de uma lei no Brasil deu segurança jurídica para a formalização de fundos patrimoniais. Apesar disso, as iniciativas esbarram na falta de incentivos fiscais. O doador não tem desconto de impostos ao doar - o que limita as contribuições.
Nos EUA, onde endowments têm incentivos há mais de um século, doações a universidades alcançaram US$ 49,5 bilhões (R$ 257 bilhões) no ano fiscal de 2020, segundo o Conselho para Avanço e Suporte à Educação. No país, mesmo antes da graduação, os jovens são estimulados a participar da comunidade de ex-alunos.
Para Agopyan, os resultados financeiros do fundo da USP só serão colhidos daqui a décadas e o modelo não prevê nenhum tipo de redução de investimentos públicos. "Fundo patrimonial não substitui os repasses públicos. Não é um valor que possa ser significativo dentro do orçamento, é complementar."
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