Vale a pena assistir ‘Adolescência’, da Netflix, com os filhos?

Pesquisadora Telma Vinha, da Unicamp, diz que a resposta é diferente para cada família, mas destaca que o importante é não transformar em um ‘momento de inquisição ou palestrinhas’

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Pais e mães têm se questionado se devem ou não assistir a nova série Adolescência, da Netflix, com os filhos adolescentes. Por mais que a classificação etária oficial seja de 12 anos, uma das maiores especialistas em conflitos e convivência na educação do País e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Telma Vinha, diz que a resposta não é mesma para todas as famílias.

'Adolescência': Owen Miller interpreta o protagonista Jamie Miller na série da Netflix Foto: Netflix/Divulgação

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A série conta a história de uma família britânica afetada pela acusação de que o filho de 13 anos teria matado uma colega da escola. As reflexões ficam por conta do motivo, que envolve emojis, cyberbullying e incitação ao ódio nas redes sociais. Trata-se de ficção, mas a proximidade das angústias vividas por todos atualmente levou a série a um sucesso estrondoso. Ela se tornou esta semana a atração mais vista do mundo, poucos dias depois da estreia.

“Assistir com os filhos pode ser uma oportunidade para abrir diálogos sobre temas sensíveis, mas esse espaço precisa ser de confiança, escuta sem julgamentos, evitando ser um momento de inquisição ou palestrinhas”, diz Telma. A especialista é coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) da Unicamp e estuda há décadas clima escolar, problemas de convivência, relações interpessoais e desenvolvimento moral.

Ela explica que a série pode ser interessante para levantar discussões na família sobre saúde mental, conflitos, relacionamentos, pressões sociais, internet e bullying. E ainda pode ajudar os pais a se aproximarem desse universo, que é bem distante da vida dos adultos.

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“Mas é preciso considerar a maturidade do jovem, pois alguns conteúdos podem ser intensos ou desconfortáveis, exigindo cautela para não impor essa experiência”, afirma.

A pesquisadora Telma Vinha diz que a série é uma boa oportunidade para discussões em família Foto: Felipe Rau

Telma diz ainda que há uma terceira opção: em algumas famílias, os filhos podem assistir sozinhos à série. “Para alguns adolescentes, a presença dos pais pode facilitar a compreensão e promover conexão, empatia, mas para outros pode gerar resistência ou constrangimento, sendo melhor incentivar que assistam sozinhos, e depois dar abertura para conversas espontâneas.”

O importante, lembra, é que a série também promova uma troca, em que os pais possam expressar sua surpresa e reflexão sobre esse mundo de hoje tão diferente do que viveram na própria adolescência.

Telma terminou de assistir a série esta semana e entende que a atração da Netflix expõe “com precisão as múltiplas camadas que podem culminar na violência: o bullying, a exposição e objetificação das mulheres, a cyberagressão, a vulnerabilidade da adolescência, a imersão no ambiente digital, a construção de masculinidades violentas mediada pelas redes sociais”.

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Ela também chama a atenção para a reação da família do adolescente que comete o crime - com negação e desespero - , semelhante ao que ocorre com pais de jovens responsáveis por ataques a escolas.

Mas lembra que atos como esses são precedidos por processos discursivos que normatizam e incentivam a violência. “Cada vez mais percebemos entre os jovens o aumento da intolerância. E também o acesso a conteúdos de ódio online e a comunidades que promovem a violência, amplificando os ressentimentos e a raiva, promovendo a misoginia e criando um terreno fértil para ações agressivas”, afirma. “Não entendo como aceitamos isso enquanto sociedade e não protegemos nossas crianças e jovens.”

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