Quando ingressou no Ensino Médio, em 2017, Carolina Feitoza sentiu a diferença já na primeira semana de avaliações. Até o 2016, ela admite, sua rotina de estudos não era das mais rigorosas. Às vezes, dava até para dormir à tarde, quando não havia treino de tênis ou aulas de jazz e hip-hop. Até que, em 2017, ela começou a 1a série do Ensino Médio e percebeu que, para dar conta do novo ciclo, teria de apertar o passo. "Comecei a estudar todo dia para me adaptar", diz Carol, que, pelo menos por ora, abandonou as atividades extraescolares.
Ela não foi a única a tropeçar no início do Ensino Médio, o que é perfeitamente natural. Em qualquer escola, mesmo as que não exigem período integral, como faz o Vital - três dias por semana na 1a e 2a séries do ciclo, cinco dias na 3a -, a transição do Fundamental II para o Médio é, de fato, difícil. Nesse primeiro momento, uma ligeira queda na média geral dos alunos não é apenas normal, mas esperada. A boa notícia é que o Vital promove ações de apoio que os ajudam a enfrentar o desafio. E, a julgar pelo exemplo de Carol e da maioria de seus colegas, a queda logo é superada.
Matheus Siqueira, que ano passado fez 1a série B, é outro bom exemplo. Aluno com histórico de ótimo rendimento, em especial nas ciências exatas, em 2016 ele foi medalhista em olimpíadas brasileiras de Física, Química e Astronomia e na competição Canguru de Matemática. Também ele notou o grau de dificuldade das avaliações do Médio: "As questões estão mais complicadas, você precisa interpretar os problemas", diz, acrescentando que os professores são menos específicos ao informar o conteúdo das avaliações: "Não é mais 'prova de equação de segundo grau'; agora, na primeira prova, caem do capítulo 1 ao 5 do livro, na segunda, do 1 ao 10, e assim por diante".
"Há uma maior densidade de conceitos", diz André Rebelo, coordenador do Ensino Médio. "O aluno tem de buscar, num vasto repertório, os conhecimentos que julgar adequados para resolver uma questão e saber associá-los". Ele lembra que, com exceção dos simulados, todas as questões das provas do Médio passam a ser dissertativas.
A consequência, segundo Carol, se sente no relógio. "Até o 9o ano, eu fazia as provas num ritmo diferente, ia de questão em questão com calma", diz a jovem. Agora, para fazer uma avaliação mais complexa na mesma hora e meia de sempre, ela tem de administrar melhor o tempo. E, claro, passar a estudar com mais rigor. "Não tem segredo", diz André: "Nota não brota só de assistir às aulas".
Não se trata de receita pronta, porém. Segundo o coordenador, o Ensino Médio é o momento em que o aluno torna-se definitivamente o protagonista de sua vida de estudante, capaz de identificar suas fraquezas e potencialidades, definir metas e traçar planos de ação.
"Cada um vê o que lhe falta e o que funciona para si mesmo", diz André. O que não significa que o jovem fica por conta própria. Pelo contrário: ao encarar a etapa final da jornada escolar, o aluno do Vital conta com a ajuda acadêmica e emocional de coordenadores, professores, pais e, não menos importante, dos amigos.
Com uma ajuda dos amigos "No 9o ano, muitos alunos têm medo de que o Médio seja mais difícil, quase impossível", diz Roberto Leal, coordenador do Fundamental II. "Nossa tarefa é desfazer esse mito". É quando entra em cena um trabalho conjunto das coordenações dos dois ciclos, focado em tranquilizar os alunos, assegurando-os de que, independentemente dos desafios, eles não estarão sozinhos nessa transição.
Uma das ações é a apresentação formal, aos alunos do 9o ano, daquele que será seu novo coordenador. "Nessa hora eu 'entrego' a turma ao André, que conduz o encontro", diz Roberto. Além de tirar dúvidas, o coordenador do Médio reforça que tanto ele quanto sua adjunta, Solange Frasca, oferecerão todo o apoio necessário, da elaboração de uma rotina de estudos funcional para cada um à definição de projetos de vida pessoal e profissional. Quanto às dificuldades acadêmicas, André lembra que os alunos ainda contam com o Programa Especial de Estudos (para reforço em Matemática e Português); com o Plantão de Dúvidas, oferecido pelos estagiários dos laboratórios de Física e Química; e com seus próprios colegas que se voluntariam como tutores acadêmicos.
"É importante eles saberem, também, que estamos sempre avaliando nossos planos de aula e nosso material para não exigir mais do que eles podem dar", diz André. "Se uma questão de prova é muito difícil para a maioria, por exemplo, nós identificamos de imediato e já preparamos um plano de reforço daquele conteúdo específico".
Ainda mais eficaz do que a palavra dos coordenadores, contudo, é a de outros alunos. É o que se vê, no início do ano, na visita de alunos da 3a série do Médio e ex-alunos às classes do 9o ano - "é muito importante o testemunho, na linguagem deles, de quem já passou por isso e viu que é possível", diz Roberto Leal. E é o que se verá, nos próximos meses, num encontro informal das turmas do 9o e na formatura de fim de ano: "Nesses momentos de despedida, você percebe que os vínculos se fortalecem. O sentimento de 'viemos até aqui, vamos seguir juntos agora'".
Porque é de vínculos que também é feito o Ensino Médio, algo que os próprios Matheus e Carol já perceberam. Além dos desafios da nova fase, ambos notam recompensas, como a liberdade de não usar mais uniforme, a sensação de maior autonomia da família, a relação de maior proximidade com os professores e, principalmente, com os colegas. "Almoçarmos juntos três vezes por semana fez com que nossas amizades ficassem mais fortes", diz Matheus.
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