Com a volta às aulas, algumas tarefas executadas dentro da rotina familiar podem ajudar no desenvolvimento e aprendizado dos estudantes, tornando mais tranquilo o decorrer do ano letivo. Além do sono, que tem papel fundamental, a atividade física frequente e a organização da rotina também são importantes.
Além disso, um momento de leitura em família e a prática da responsabilidade compartilhada melhoram a assimilação de conteúdo por parte das crianças e adolescentes, assim como trabalham com a autoestima e ajudam no desenvolvimento do senso de responsabilidade.
Confira a seguir as principais dicas:
Organizar a rotina do sono
Está comprovado cientificamente que noites completas de sono são necessárias para que o estudante - em qualquer faixa etária - possa se reequilibrar emocionalmente e preparar o cérebro para aprender no dia seguinte.
“É durante a noite de sono que o cérebro armazena e organiza os aprendizados que aconteceram durante o dia. Só que, com a rotina da vida moderna, em que as crianças chegam durante a noite com muita energia e superestímulo das telas, elas têm dormido pelo menos duas horas a menos que nós quando éramos crianças e adolescentes”, afirma Roberta Bento, fundadora do SOS Educação e especialista na relação família-escola.
Esse processo de organizar a rotina do sono vai refletir positivamente na forma como a criança ou adolescente se relaciona com os colegas, os professores e com os desafios que o processo de aprendizagem traz.
Embora o número de horas necessárias para cada pessoa se recompor para o dia seguinte dependa da idade, peso, alimentação e rotina da família, no caso dos estudantes são necessárias entre 8 e 10 horas. Ou seja, quanto mais nova a pessoa, mais horas de sono ela precisa.
Para facilitar na adaptação, os pais podem começar a cada semana colocando o filho para dormir 15 minutos mais cedo que o horário habitual. “Não necessariamente que a criança esteja com sono. Para a criança pequena, os pais escolhem os horários. A partir de sete anos, já é possível fazer um combinado com o filho participando. Por exemplo, pode estipular que 21h30 será o horário de ir para cama, esteja com sono ou não. É permitido ler, ouvir música, mas não pode ver tela, que prejudica o sono. Com o tempo, o sono começa a vir antes e isso traz uma tranquilidade na convivência em família e na escola também”, diz Roberta.
Atividade física frequente
A neurociência cognitiva comprovou que uma das únicas formas de o cérebro produzir novos neurônios é por meio da atividade física. No entanto, as crianças e adolescentes atualmente têm uma vida muito sedentária.
“Pelo menos duas vezes por semana, qualquer criança ou adolescente em idade escolar precisa de atividade física. Se a família não pode pagar por aulas de natação, judô ou ballet, outras atividades como caminhar, andar de bicicleta, passear no parque, descer no playground (caso more em condomínio) podem ser realizadas. Além disso, as aulas de educação física nas escolas não podem ser deixadas de lado”, afirma a fundadora do SOS Educação.
Organizar a rotina da semana
Estabelecer em casa uma rotina de segunda a sexta para a criança ou adolescente sentar para estudar, fazer lição de casa ou fazer alguma atividade que envolva papel, caneta, lápis de cor, desenho ou recortar.
Para crianças pequenas, podem ser atividades de pinturas, cortar e colar e montar quebra-cabeças. Quanto mais velhos os filhos vão ficando, é momento de estabelecer horário para fazer a lição que veio da escola ou fazer revisão de conteúdos aprendidos naquele dia.
“Precisa ser sempre no mesmo horário. Quando estabelecemos uma rotina de que - de segunda a sexta - eles têm horário para sentar e estudar, a gente tira aquele estresse enorme quando têm lição ou prova e a gente ajuda a colocar em funcionamento o que se chama ‘prática espaçada’, que é revisar, em intervalo de tempo curto, as atividades e os conteúdos que estão aprendendo na escola. E o cérebro precisa desta revisão constante para transformar aquilo que era informação em conhecimento”, afirma a especialista na relação família-escola.
Para crianças maiores, no dia em que não têm lição de casa, é possível ainda fazer um desenho ou escrever um resumo das aulas do dia. Esse processo ajuda o estudante, principalmente, neste pós-pandemia, a dominar a leitura e a escrita que ficaram bastante prejudicados.
Incluir na rotina da família: hora da leitura
A leitura é uma das maneiras mais eficazes de prevenir a dificuldade de aprendizagem e assimilação de conteúdo.
É fundamental incluir na rotina da família - duas vezes na semana - a hora da leitura. “Pode ser segunda e quarta ou quinta e sábado. É um momento para que a família desligue tudo que tem de tela e de tecnologia e sente para ler. Se a criança ainda não é alfabetizada, são os pais lendo para elas. Em fase de alfabetização, é a criança lendo junto com o pai ou a mãe e, no caso dos adolescentes, eles podem ler uma revista em quadrinhos ou livro de música. É importante desvincular esta hora da leitura do material de escola, para que eles assimilem que leitura não é para a escola, mas é para a vida”, diz Roberta.
Responsabilidade compartilhada
Toda a criança e adolescente precisa ter alguma responsabilidade no dia a dia da família, seja na organização ou na limpeza da casa.
“Pode ser colocar a mesa do café da manhã, deixando tudo pronto no dia anterior. Arrumar a própria cama. Pode ainda combinar com o filho que a roupa lavada e passada ficará em cima da cama e quem vai guardar será ele. Nas primeiras vezes, os pais fazem juntos e depois deixa por conta do filho. No caso de crianças menores, de 3 a 5 anos, pode ser guardar somente a meia ou o short da escola em uma gaveta baixa que estejam ao alcance delas”, afirma a especialista na relação família-escola.
Quando a gente coloca a responsabilidade compartilhada como parte da semana da criança ajuda em três pontos:
Desenvolver o senso de responsabilidade: Mostrando que tem coisas na vida, que apesar de não dar um prazer enorme, aquilo se acumula e volta como um trabalho maior ainda. O senso de responsabilidade somente funciona na prática.
Melhorar a autoestima: Todas as crianças e adolescentes, nesta época digital, estão com a autoestima abaixo do mínimo necessário para que o cérebro continue focado quando encontram desafios de aprendizagem. Quando a autoestima não está boa, diante de qualquer desafio que pareça grande demais, a criança desiste e vai fazer outra coisa. Uma forma de incentivá-la a persistir é elogiando por alguma coisa que de fato ela foi capaz de fazer. Esse elogio o cérebro assimila como recurso que a criança irá buscar quando tiver desafios de aprendizagem e ajuda a desenvolver o sentimento de competência, saber que ela é capaz de realizar algo.
Enriquecer a memória de longo prazo: Ela é ativada toda vez que a criança ou adolescente está aprendendo um conteúdo novo. A memória de longo prazo junta no cérebro o conteúdo novo que a professora está ensinando com alguma experiência anterior que o estudante tenha. Essa mistura é o que se transforma em conhecimento sólido. Quando a criança ou adolescente busca na memória de longo prazo recursos que não encontra, é muito difícil transformar o conteúdo novo em conhecimento.
Importância do papel dos pais ou responsáveis
Para conseguir colocar tudo isso em prática, os pais e os responsáveis também precisam de equilíbrio emocional.
“Precisam tirar tempo para eles mesmos para dar conta dentro de casa deste suporte que os filhos precisam para um ano letivo tranquilo. Sair com um amigo para bater um papo. Fazer uma caminhada, pois eles precisam estar equilibrados. Caso contrário, esses pequenos ajustes que parecem simples acabam parecendo que são muitas coisas”, afirma Roberta.
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