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MG : Como surgiu a ideia do Arquivo Arq e qual seu intuito?
DI : Sempre gostei de caminhar pela cidade observando os edifícios ao meu redor, e com isso admirar uma época que não vivi, mas que me despertava grande admiração. A escolha da arquitetura e urbanismo foi simplesmente combinar tudo o que sempre gostei desde pequeno e com isso fortalecer um conhecimento ao qual eu procurava.
A ideia foi se criando e desenvolvendo no período final da faculdade, quando tive inúmeras dificuldades de pesquisa em meus trabalhos, mas eu sabia que estava longe de ser uma realidade pelo fato do trabalho final de graduação ser extremamente desgastante.
O Arquivo Arq surgiu então em 2012 quando me formei. Com uma simples planilha comecei descrevendo os projetos mais conhecidos que eu tinha de cabeça juntamente com sua ficha técnica e algumas fotos. Isso se tornou um passatempo, e seguiu crescendo de forma considerável até que em 2014 resolvi criar o site por conta própria.
Seu objetivo veio de uma grande curiosidade em identificar os projetos, seus autores, em que data foram construídos e seu contexto em relação a cidade que vivo. E com isso fazer um levantamento do que foi produzido de arquitetura por São Paulo reunidos em um lugar só. Esta curiosidade que eu sabia não ser só minha me fez acreditar que um catálogo desta produção ajudaria não só os acadêmicos como também os inúmeros curiosos que vivem pela cidade e que passam diariamente por projetos incríveis sem saber.
Hoje esta planilha possui mais de mil projetos e a tendencia é só aumentar com o tempo!
MG : Quais foram suas maiores dificuldades nas pesquisas?
DI : A pesquisa começou de forma bem simples, pois comecei pelos projetos mais conhecidos e mais íconicos como o Edifício Copan, Itália e Conjunto Nacional, assim como os arquitetos mais conhecidos também, que possuiam informações biográficas mais acessíveis. Isso fez com que a pesquisa crescesse inicialmente de forma rápida.
Com o passar do tempo as informações foram ficando mais escassas e então comecei a me aprofundar ainda mais nas pesquisas. Através de teses e dissertações que possuem alguns levantamentos pontuais de projetos em determinados bairros de São Paulo consegui identificar mais informações que foram complementadas a diversas outras fontes. Ao longo do Arquivo Arq também comecei a adquirir mais livros sobre arquitetos que produziram em São Paulo e que me ajudaram a encontrar alguma informação que faltava. Todo este material me ajudou muito e ainda me ajuda, e como na internet, dáriamente surgem fotos antigas, consigo sempre revisar e complementar projetos que foram publicados anos atrás.
Hoje sinto que a maior dificuldade é conseguir acessar algum familiar que possua informações de obras e arquitetos menos conhecidos mas que ajudaram tanto na produção arquitetônica que merecem ser publicados. Mesmo assim tive muitas respostas que ajudaram bastante, seja com dados faltantes, fotos e correções.
Creio que muita informação ainda surgirá e que será acrescentada ao Arquivo Arq. Ainda tem inúmeros arquitetos que produziram bastante e que não encontro uma única foto por exemplo. Sinto que é uma pesquisa que não terá fim e que cada vez será mais prazerosa e profunda.
MG : Quais você definiria ser seus maiores achados arquitetônicos?
DI : Acredito que todos os projetos e arquitetos que descobri até hoje ao longo da pesquisa sempre me fizeram muito feliz. Havia projetos que eu admirava e não tinha ideia de quem havia projetado, quando descubro algo novo, gosto de saber que tenho como divulgar de alguma forma.
Lembro de ter identificado um projeto do Oscar Niemeyer que fica no início da Avenida São João e que acredito ser um dos mais discretos de sua produção, O Edifício Seguradoras se localiza ao lado de um dos acessos da Praça das Artes e sua marquise marca a assinatura de Niemeyer. Para mim foi muito gratificante encontrar um projeto como esse que se enquadra perfeitamente na questão de transitarmos pelo centro cercados de projetos assinados e que boa parte desconhecemos.
O mais recente achado arquitetônico foi descobrir o autor do Edifício Washington de Bernardo Rzezak situado a Av. General Olímpio da Silveira e que sempre me foi emblematico em suas curvas e proporções. Realmente um projeto que se destaca e que pode ser observado intimamente se você estiver em cima do Minhocão. Quando descobri o arquiteto fui tentar descobrir mais obras e acabei encontrando outro projeto que sempre achei muito simpático na esquina da Consolação com a Rua Antonio Carlos, o Edifício Tana.
Também consegui entrar em contato e me encontrar com o neto do arquiteto o Marcelo Rzezak que foi muito aberto em me mostrar mais informações e curiosidades sobre o avô e que futuramente serão acrescentadas ao Arquivo Arq.
MG : Qual o Arquiteto que se revelou mais surpreendente?
DI : Os arquitetos Jacques Pilon e o Rino Levi me surpreenderam imensamente. Não tinha noção do quanto haviam produzido em São Paulo. No centro existem centenas de projetos destes dois arquitetos, mostrando-nos uma fase em que o mercado imobiliário construia com uma qualidade inigualável. Parece que a cada rua tem um projeto de algum deles. Ao olhar o mapa produzido por Tiago Seneme Franco em sua dissertação com a identificação dos projetos de Jacques Pilon pela cidade é de se chocar como podem existir tantos. O mesmo vale para os projetos de Rino Levi em toda a cidade.
Em relação a projetos residenciais, o Artigas impressiona imensamente em inúmeras teses e dissertações sobre o arquiteto e vemos que tem muito mais informações por vir e que terei muito prazer em publicar.
Alguns arquitetos se revelaram surpreendentes pelo fato de não conseguir encontrar quase nenhuma informação biográfica. Arquitetos como Majer Botkowski, Roger Zmekhol, Victor Reif e Francisco Beck, pelo fato de todos serem estrangeiros, as informações são escassas e nebulosas. São arquitetos que pretendo aprofundar as pesquisas para entender suas histórias e levantar suas produções de forma mais precisa e a cada dado encontrado é sempre uma vitória.
Todos estes arquitetos me fizeram entender que é possível produzir muito e com qualidade e são nomes de peso em nossa história arquitetônica.
MG : Nos conta alguma anedota que tenha acontecido durante seus garimpos?
DI : O mais brilhante em se pesquisar algo é encontrar alguma informação que você procurava por anos sobre um projeto ou arquiteto em alguma pesquisa completamente diferente do assunto que estava procurando. Diversos dados vieram de pesquisas que estavam indo para uma direção e que de repente encontro algo completamente indesperado como uma foto de uma obra que procurava ainda em construção ou um ano em que tal arquiteto se formou. Quando pesquiso sobre algo específico isso certamente durará pouco, pois no meio do caminho vou acresentando dados encontrados de forma espontânea de outras obras e outros arquitetos. Acabo até esquecendo o que havia procurado inicialmente e de alguma forma isso me surpreende.
Também existem pessoas que acabam descobrindo o Arquivo Arq e me ajudam com uma foto, um dado ou uma correção. Para encontrar uma foto do arquiteto Victor Reif por exemplo, recebi um e-mail da Samara Konno que pesquisava sobre imigrantes judeus vindos para o Brasil e por acaso acabou se deparando com um documento de entrada dele no país com uma foto. Quase pulei de felicidade pois procurava por esta foto por pelo menos quatro anos.
MG : Quais os planos do Arquivo Arq pro futuro?
DI : Em geral o principal plano para o futuro do Arquivo Arq é ter uma pesquisa publicada cada vez maior e mais detalhada e de alguma forma ser o maior acervo da produção arquitetônica em São Paulo. O objetivo é cada vez mais se aprofundar em relação a história dos projetos que nos cercam através dos anos. Como, por exemplo, encontrar e adicionar os projetos dos casarões que possivelmente existiam onde hoje existe o Conjunto Nacional, e assim resgatar as camadas mais antigas da história arquitetônica.
A cada novo arquiteto descoberto surgirão inúmeros projetos a serem catalogados e adicionados ao site. E isso já prevê um imenso trabalho que terei, mas que assim como surgiu, o Arquivo Arq ainda hoje é um passatempo cada vez mais instigante.
Também pretendo em algum momento reformular o layout do site para que cada dado sobre um arquiteto ou projeto seja mais fácil de se cruzar, como datas de construção, usos, estado de consevação, se são tombados ou não e por aí vai...
Quero ainda futuramente desenvolver a versão mobile para que também facilite a pesquisa onde quer que a pessoa esteja, com a utilização de mapas e geolocalização.
MG : Obrigado Dimitri e Vida longa então ao ArquivoArq (http://www.arquivo.arq.br)! Uma ferramenta essencial para todos os amantes de Arquitetura dessa nossa São Paulo!
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