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Ator Karl Malden morre aos 97

Revelado por Kazan, ganhou Oscar por Uma Rua Chamada Pecado

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Seu nome era Malden Sekulovich, mas foi como Karl Malden que ele se tornou conhecido. Vencedor do Oscar de coadjuvante de 1951, por Uma Rua Chamada Pecado, Malden se tornara conhecido na Broadway, onde interpretou, entre outras peças, justamente a de Tennessee Williams que transformou Marlon Brando em astro, Um Bonde Chamado Desejo. Antes de pisar nos palcos da Broadway, Karl Malden frequentou o Actor?s Studio, onde foi ator de Elia Kazan - seu descobridor no teatro e cinema - e Lee Strasberg. Se tivesse sido um astro e não o grande coadjuvante que foi, Karl Malden poderia ter sido considerado mais um garoto propaganda do ?método?, a americanização das teorias de interpretação do russo Stanislavski, que Kazan e Strasberg impuseram a toda uma geração de atores americanos, no fim dos anos 40 e durante os anos 50. Marlon Brando, Montgomery Clift, James Dean, foram todos os ?Kazan?s boys?, propagandistas do método. Nascido em Indiana, em 1912 - algumas fontes citam 1914 -, Karl Malden morreu ontem em Los Angeles. Teria 95 ou 97 anos. Segundo o comunicado da família, morreu de causas naturais, pacificamente. Desde 1944, ele já vinha aparecendo esporadicamente em filmes, mas o próprio Malden gostava de situar sua verdadeira estreia em 1947, quando fez seu primeiro filme com Kazan, Boomerang, lançado no Brasil como O Justiceiro. Quatro anos depois, de novo com Kazan, ganhou o Oscar por seu papel como Mitch em Uma Rua Chamada Pecado. Mitch é o possível pretendente de Blanche Dubois, a mítica personagem interpretada por Vivien Leigh que vai se hospedar na casa da irmã Stella, casada com o "selvagem" Kowalski (Brando). Com Kazan, Karl Malden fez mais dois filmes - Sindicato de Ladrões, como o padre que apoia Terry Malloy, o personagem de Brando, quando ele desafia a lei do silêncio nas docas, e depois Baby Doll, outra adaptação de Tennessee Williams, com Carroll Baker no papel da garota tentadora. No Brasil, o filme sugestivamente se chamou Boneca de Carne. Os críticos fazem a ressalva de que Kazan gostava de usar Karl Malden numa histeria imensa, em criações marcadas pelo excesso, mas pelo menos dois desses quatro filmes costumam ser colocados entre as obras-primas do grande diretor (e de Hollywood). O importante é que, ao longo dos anos 50 e dos 60, a filmografia de Karl Malden oferece uma impressionante sucessão de bons filmes, assinados por diretores como Henry King (o western O Pistoleiro), Otto Preminger (Passos na Noite), King Vidor (A Lei do Desejo), Alfred Hitchcock (A Tortura do Silêncio), Delmer Daves (A Árvore dos Enforcados), John Frankenheimer (O Homem de Alcatraz), John Ford (Crepúsculo de uma Raça), Franklin J. Schaffner (Patton, Rebelde ou Herói?). Marlon Brando fez dele seu oponente no único filme que dirigiu, o poderoso western A Face Oculta, em 1960. Karl Malden pertence a uma geração de grandes coadjuvantes que, não raro, podiam até roubar a cena dos astros e estrelas. Em 1957, ele dirigiu um filme, Time Limit. Apesar da direção definida como imaginativa, a obra não dispõe de boa reputação. Como seu mestre Kazan, que aceitara colaborar com o macarthismo, Malden fez, segundo os críticos, o último filme impregnado da paranoia do senador McCarthy, com Richard Widmark como um militar que vai à corte marcial, acusado de colaborar com os comunistas na Guerra da Coreia.

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