Muito se fala sobre a redução do açúcar na alimentação, principalmente durante dietas de perda de peso. Mas a importância dessa diminuição vai muito além e deve ser priorizada desde cedo. Segundo uma publicação da Associação Americana do Coração lançada na última segunda-feira, 22, o limite de ingestão de açúcar para pessoas entre 2 e 18 anos deve ser de 25 gramas ou menos por dia.
Antes dos dois anos, a associação recomenda que não deve-se comer nenhum tipo de açúcar. A publicação refere-se ao açúcar adicionado nos alimentos, e não o açúcar natural, presente em frutas e legumes, por exemplo. Segundo uma das autoras do estudo, Miriam Vos, "o consumo geral de açúcar por crianças permanece alto e a criança americana típica, por exemplo, consome cerca de três vezes a quantidade recomendada".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o total de açúcar adicionado não pode ultrapassar 10% das calorias totais consumidas em um dia. E se para adultos o açúcar já é bastante prejudicial, para pessoas em fases de desenvolvimento é mais ainda, porque os hábitos alimentares nessa fase refletem diretamente na composição corporal e metabólica no futuro.
O pediatra nutrólogo Hugo Ribeiro ressalta que, principalmente nos primeiros anos de vida, é crucial estimular uma boa alimentação. "Na verdade, não é só o açúcar. Hoje se tem informação o suficiente para entender que a gestação e os primeiros dois anos de vida têm papel fundamental no futuro do desempenho da composição corporal, investimentos feitos nesses dois anos têm impacto na vida adulta. Essa é uma fase critica na programação do indivíduo, que passa por muitas coisa, e isso tem muito a ver com a cultura, com a casa".
A estudante de direito Alzira Teixeira concorda com a recomendação e conta que o açúcar não entra na dieta de seu filho de um ano. "Eu acredito que essa necessidade de por açúcar em tudo não nasce com a gente. Tudo que eu dou pra ele, tento fazer isso antes sem adoçar. Se ele recusa mesmo, ou se é muito amargo, eu coloco bem pouquinho de açúcar. Porque os pais esquecem que, além de cuidar da educação do filho, tem que cuidar da educação alimentar das nossas crianças. Eu sempre tento introduzir na rotina dele coisas saudáveis, não gosto de dar chocolate, refrigerante, adoçar suco. Às vezes ele come alguma besteirinha, mas geralmente parte dos avós dele. Porque eu sou bem chata, eu acredito que nós temos essa necessidade de adoçar tudo, porque fomos aprendendo assim com o tempo, mas as crianças não nascem com necessidade de por açúcar nos alimentos."
O ideal é que o açúcar seja inserido na vida dos pequenos de forma gradativa e moderada, mas o médico ainda alerta para a maneira como ele é colocado. "Se uma criança só ganha um doce quando faz algo de bom ou quando come uma refeição mais saudável antes, ela vai selecionar aquilo como algo melhor, então vai sentir mais vontade de comer aquilo".
Outro ponto a se considerar no consumo de açúcar vem antes mesmo do nascimento. Há algumas décadas, era comum se pensar que a alimentação da gestante não interferia no bebê, mas isso já foi desmistificado. Há estudos comprovando a relação entre a restrição de algumas vitaminas e propriedades nutritivas de alimentos com o retardamento no desenvolvimento de alguns órgãos e habilidades cognitivas.
"De uma forma geral, o ganho de peso abusivo na gestação altera a programação do feto, fazendo com que ele tenha uma tendência a ganhar mais peso na infância, na adolescência e na idade adulta. Os primeiros cem dias da gestação são críticos no ponto de vista tradicional. Uma gestação com nutrição inadequada afeta o bebê. Por exemplo, se uma mulher não come isso, não come aquilo, a criança pode não ter um paladar muito variado também", explica o médico.
"Eu tenho uma preocupação muito forte com o que ele come, seja na escola ou em casa. Eu sempre vejo o cardápio dele na creche, e tento introduzir coisas sem açúcar, por conta das diversas doenças que podem surgir", completa Alzira.
Por isso, vale ter cuidado com o açúcar em qualquer fase da vida, mas especialmente durante a gravidez e nos primeiros anos de vida. Além disso, evitar produtos industrializados e pouca variedade no cardápio também são cruciais. Abaixo, veja as melhores alternativas para substituir o açúcar em todas as idades:
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