Larissa Manoela, 21, compartilhou nas redes sociais seu diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP). Assim como ela, a atriz Lea Michele, 36, também sofre da mesma condição, exposta em 2019. A diferença etária entre as artistas reforça que esse não é um fator determinante para a doença, que é uma das “mais comuns entre as disfunções endócrinas que afetam mulheres em idade reprodutiva, tendo sua prevalência variando de 6% a 16% dependendo da população estudada e do critério diagnóstico empregado”, segundo publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva, ginecologista e vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo, explica que a SOP é de causa e natureza pouco determinadas. No entanto, o fator genético é uma das principais influências ao diagnóstico. ”A característica genética pode ser herdada da mãe e está relacionada ao padrão com que os hormônios de comando do cérebro são secretados”, alterando o padrão da ovulação, complementa a médica.
Mas afinal, o que é a síndrome dos ovários policísticos?
Apesar do nome desta condição remeter à formação de cistos nos ovários, essa é apenas uma das consequências das alterações hormonais típicas da doença. Entre suas demais características estão: irregularidade no ciclo menstrual, infertilidade ou dificuldade para engravidar e aumento da produção de hormônio masculino, a testosterona, refletindo em pelos corporais em demasia, queda de cabelo, pele oleosa, acne e, em casos mais extremos, alteração de voz e crescimento do clitóris, conforme lista a ginecologista.
Os sintomas acima, entretanto, são apenas os sinais típicos que fazem mulheres procurar um consultório ginecológico, visto que as consequências da doença na saúde feminina podem ir além.
Devido às alterações metabólicas, a SOP pode favorecer o risco de diabetes, pressão alta, colesterol alto, ganho de peso e gordura abdominal. Além disso, pacientes nessa condição, quando conseguem engravidar, têm maior risco de complicações durante a gestação, mesmo que o acompanhamento seja feito de maneira adequada, segundo Ana Carolina.
Diagnóstico e tratamento
Se atentar aos sintomas é essencial para consultar um profissional, que dará sequência ao diagnóstico, a partir de avaliação clínica e exames laboratoriais e de imagens, como explica Anamarya Rocha, ginecologista da clínica JK Estética.
“A SOP engloba um amplo espectro de sinais e sintomas de disfunção ovariana. Em 2003, o consenso de Rotterdam (Holanda) propôs que a condição pode ser diagnosticada após a exclusão de outras causas de irregularidade menstrual e hiperandrogenismo — hiperprolactinemia, formas não clássicas das hiperplasias adrenais congênitas, síndrome de Cushing, neoplasias secretoras de andrógenos e hipotireoidismo”, esclarece.
Ana Carolina complementa que alguns dos sintomas da síndrome podem ser confundidos nas primeiras menstruações, visto que o ciclo menstrual costuma ser irregular por cerca de três meses a até três anos. Por isso, o diagnóstico de SOP nesta fase não é definitivo e precisa ser revisto 8 anos após a menarca (primeira menstruação).
A síndrome dos ovários policísticos não tem cura. No entanto, com o diagnóstico preciso, as pacientes têm algumas alternativas de tratamento para controlar a condição, conforme o desejo de engravidar ou não.
Para mulheres que almejam uma gestação, Ana Carolina recomenda opções que induzem a ovulação. Já para aquelas que não compartilham dessa vontade, o anticoncepcional, que pode ser associado a outros medicamentos para prevenir o aumento dos pelos, é a indicação da profissional.
Contudo, Anamarya alerta: “Estão substituindo o uso já consagrado dos anticoncepcionais orais ou mantendo-os por menor período de tempo, pois podem piorar a resistência à insulina e induzir intolerância à glicose, aumentando o risco de desenvolvimento de diabetes mellitus do tipo 2 (DM2). Além disso, pode elevar os níveis de triglicérides e aumentar o risco cardiovascular, devido às suas ações sobre a coagulabilidade e a reatividade vascular (eventos trombóticos).”
Ambas as profissionais recomendam o estilo de vida saudável para pacientes nesta condição. E a ginecologista da JK Estética Avançada vai além, declarando que hábitos saudáveis como prática de atividade física regular, principalmente anaeróbica (musculação), e dieta balanceada, a partir do acompanhamento nutricional, podem ser o suficiente para algumas mulheres, dependendo do grau de da doença.
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