Você sai de casa para trabalhar, estudar ou correr e coloca fones de ouvido para escutar uma música ou um podcast. Você chega ao seu destino e continua com fones, às vezes para se concentrar melhor. Na volta, a mesma coisa. Esse comportamento tem preocupado organizações internacionais, que recomendam novos padrões para uso e fabricação de dispositivos de áudio.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas entre 12 e 35 anos correm risco de perder a audição devido à exposição prolongada e excessiva a sons altos, algo que o órgão chama de escuta insegura.
Paulo Bedê Miranda, otorrinolaringologista do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), explica que, no século 20, vários estudos mostraram o impacto dos ruídos nas pessoas. No começo do século 21, a OMS começou a estabelecer recomendações, principalmente em relação ao ruído ocupacional [no trabalho] e em comunidades, pelo barulho de carros, construção civil, ferrovias.
"Nesses últimos anos, vem aumentando o número desses dispositivos individuais [smartphones]. Se você considerar que numa cidade como São Paulo o trabalhador leva, em média, três horas no transporte, é muita coisa [ficar esse tempo com fone]", diz o médico.
O especialista afirma que, hoje em dia, a maior preocupação é da audição recreativa, como o som alto de festas e baladas. Fazendo um comparativo com as recomendações para o trabalhador, Miranda também faz uma indicação para os jovens que frequentam espaços barulhentos.
Na balada, não tenho como saber o impacto sonoro, mas recomendo que a pessoa fique longe da fonte sonora, no caso as caixas de som, e se o som for muito alto, que ela saia do ambiente a cada duas horas por 15 minutos", orienta.
Em comparação com um ambiente aberto, o impacto dos fones de ouvido pode ser maior por conta do som direcionado, mas depende da intensidade. "O novo padrão que se está tentando estabelecer vai permitir que o próprio aparelho dose esse volume", diz o médico.
OMS, junto com a União Internacional de Telecomunicações, fez as recomendações para os fabricantes de dispositivos a fim de que os aparelhos incluam funções de alerta. A ideia é que exista a função 'permissão de som', com um software que rastreia o nível e a duração de exposição do usuário.
Outra indicação é que os aparelhos individuais tenham a opção de limitar o volume, além da redução automática. "Essa tentativa da organização mundial conta muito com a vontade de empresas e produtores de dispositivos. Mas a pessoa precisa saber que aquilo pode impactá-la, controlar e não deixar que aquilo traga problemas de audição e compreensão, porque essa perda não tem como recuperar", afirma o otorrino.
Uma recomendação importante da organização é o controle dos pais sobre o volume dos sons que os filhos escutam. "Pode haver perda auditiva precoce, que é a consequência direta mais evidente. Mas o impacto do volume alto causa uma série de outros problemas, como fonoaudiológicos e comportamentais", diz Miranda.
Com base nos estudos e nas recomendações dos órgãos internacionais, cabe aos fabricantes de adaptar ou não. Além disso, o especialista afirma que cabe também aos governos uma normatização para que isso seja possível. À sociedade, vale o alerta de conscientização para perceber que o volume alto é prejudicial em longo prazo.
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