ATUALIZADO EM 1/9/2021 ÀS 19H55 Cólicas fortes, dores pélvicas e durante a relação sexual, alterações intestinais e urinárias. Os sintomas da endometriose são muitas vezes ignorados pelas pacientes, acostumadas a ouvir que ‘isso passa’.
“O ginecologista deve estar atento a esses sintomas e considerar as alterações como algo diferente na vida da mulher. Durante muitos anos os próprios médicos atuaram dizendo que isso tudo era normal, que dor na relação ‘quando casar passa’”, afirma Luciano Gibran, ginecologista e diretor do Núcleo de Endoscopia Ginecológica e Endometriose do hospital Pérola Byington. “Esse tipo de conduta não deve mais fazer parte do trabalho do médico.”
A endometriose acontece quando o endométrio — tecido que se desenvolve dentro do útero à espera da gravidez e descama na menstruação — chega a outros locais, fora da cavidade uterina. “Pode ser no ovário, no peritônio pélvico (tecido de revestimento da cavidade abdominal), ou infiltrado em outros órgãos, como a bexiga”, explica o ginecologista. Por isso, apenas mulheres em idade reprodutiva podem ter a doença.
As causas da endometriose ainda não são claras, mas a teoria mais difundida é a menstruação retrógrada. Fragmentos do endométrio que deveriam ser expelidos com a menstruação acabam indo para outros locais e sobrevivem por lá. Ao ignorar os sintomas, as mulheres demoram para descobrir a doença. “Infelizmente, no mundo inteiro há um atraso no diagnóstico da endometriose”, afirma Gibran. “Da instalação dos primeiros sintomas até o diagnóstico, leva-se em média sete anos. Quando a mulher tem infertilidade, cai para quatro anos, porque ela procura um especialista em reprodução humana, que acaba pedindo exames.”
A dificuldade para engravidar é bastante recorrente nas mulheres com endometriose, mas “não significa, em hipótese alguma, que elas estejam impedidas de engravidar”, alerta o ginecologista. Apesar de a endometriose ser uma das maiores causas da infertilidade, segundo Gibran, muitas mulheres com a doença conseguem engravidar mesmo sem tratamento.
Segundo o ginecologista, algumas pacientes passam por anos de consultas com seus médicos, mas só desconfiam que podem ter a doença ao ler sobre os sintomas ou conversar com outras mulheres que têm endometriose. E o diagnóstico pode ser ainda mais demorado quando a mulher não é tratada por profissionais qualificados. Uma das formas de descobrir a endometriose, por exemplo, é o ultrassom transvaginal com preparo intestinal. “O grande problema é que nem todos os ultrassonografistas são capazes de fazer o diagnóstico dessa forma”, explica o ginecologista.
Quando a doença é finalmente confirmada, o médico deve avaliar o quanto ela já se desenvolveu e qual a extensão das lesões. Em alguns casos mais leves,tratamento pode ser feito com medicamentos hormonais. Um dos mais comuns é o Allurene, que custa em média R$ 140 por mês. Além disso, pacientes que querem engravidar não podem ser tratadas dessa forma, já que o objetivo dos remédios é inibir a ação do endométrio e, portanto, têm ação anticoncepcional.
Nesses casos, ou em mulheres com endometriose profunda, é preciso fazer uma cirurgia - a videolaparoscopia - para eliminar os focos de endometriose. Gibran explica, no entanto, que o cirurgião deve ter muita cautela para não afetar o órgão, mas ao mesmo tempo eliminar a endometriose por completo.
A doença pode voltar a se manifestar mesmo após a cirurgia. O ginecologista alerta que, enquanto em alguns casos a lesão retorna naturalmente, na maioria das vezes isso acontece porque elas não foram completamente removidas. Várias pacientes passam por mais de uma cirurgia até eliminar todos os focos e lesões.
Assista aqui à entrevista completa com Luciano Gibran.
Para divulgar mais informações sobre a doença, Gibran criou o portal Tudo Sobre Endometriose.
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