A perda auditiva crônica (ou de instalação progressiva) é uma das doenças mais insidiosas do mundo contemporâneo. Levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2013 estimou que 16% da população mundial sofre de alguma forma de perda auditiva e apenas 30% deste total são pessoas idosas. Para combater esse número já alarmante e que continua em crescimento, o dia 26 de abril foi declarado como o 'Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído'.
Em entrevista para o E+, a fonoaudióloga Katya Freire, diretora clínica da Audicare e doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conta que a grande causa da perda auditiva é o tempo de exposição prolongado a um ruído de alta intensidade. "O tempo de exposição para ruídos acima de 100 decibéis é bastante limitado. Para um ruído de 100 decibéis a exposição pode ser de, no máximo, 15 minutos, mas para um ruído de 109 decibéis o tempo já cai para somente 1 minuto e 53 segundos", disse.
Uma cidade como São Paulo, com ruídos constantes e alta integração tecnológica, a perda auditiva é uma causa cada vez mais comum de ida aos hospitais. Entre adolescentes e jovens adultos, o risco de perda auditiva é ainda maior pelo uso indiscriminado de fones de ouvido. "O uso de fones de ouvido sem isolamento acústico é um perigo enorme em uma cidade como São Paulo porque força a pessoa a aumentar o volume para compensar os altos ruídos das ruas. A pessoa se coloca em uma situação de risco sem mesmo saber", argumentou a fonoaudióloga.
No caso do Brasil, a perda auditiva crônica traz um problema adicional: como a língua portuguesa tem muitos fonemas agudos, a interpretação destes sons fica mais complicada conforme a perda auditiva vai se agravando. "Por conta da formação biológica das nossas cócleas [um dos órgãos do ouvido interno], as frequências agudas são as primeiras que são perdidas na deterioração auditiva. Como a língua portuguesa tem muitos fonemas agudos, muitas vezes as pessoas confundem perda crônica de audição com desatenção. Um "seis" ou um "vocês" fica complicado de ser interpretado e a pessoa acredita estar desatenta e não que perdeu a audição dessas frequências", alerta Katya.
Prevenção. Apesar da perda auditiva ser irreversível, a prevenção dela é simples. A maioria das profissões que ficam expostas a ruídos intensos já contam com proteção auricular, mas para o dia a dia a principal dica para quem gosta de ouvir música com fones de ouvidos é utilizar fones de ouvido com isolamento acústico nas duas orelhas. "Por conta de um fenômeno natural chamado somação binaural, quando você utiliza o fone de ouvido nas duas orelhas existe um ganho de seis decibéis no cérebro, o que faz com que o volume não precise ser deixado tão alto", explica.
Ao primeiro sinal de fadiga auditiva (zumbido, pressão ou sensação de ouvido cheio) a recomendação é utilizar um protetor auricular ou se afastar da fonte dos ruídos. Hoje, aplicativos gratuitos já medem os decibéis e também podem ser utilizados para saber se o local está acima do recomendado. "Uma regra de senso comum é a conversa, se você não conseguir falar com a pessoa que está ao seu lado é porque os ruídos no local estão bem acima do recomendado", finalizou a doutora.
*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais
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