Não é normal: Fortes dores em relações, cólicas e alterações de humor; 5 mitos sobre saúde feminina

No Dia Internacional da Mulher, especialistas alertam os riscos da falta de informação e tabus sobre o corpo e sexualidade

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Foto do author Bárbara Correa
Por Bárbara Correa (Estadão)
Atualização:

Nesta quarta-feira, 8, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Ainda que, no geral, a data seja vista como motivo de celebração, este dia ainda é um lembrete das mais diversas batalhas que mulheres enfrentam nos dias atuais.

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O machismo ainda se faz presente não somente na rotina, mas no senso comum, em verdades inquestionáveis no que diz respeito, principalmente, ao corpo e à saúde feminina.

Temas que envolvem a sexualidade ou até a vulva ainda são rodeados e tabus. Como consequência, a ideia de que “a mulher é mais forte” acaba sendo fruto da naturalização da dor em diversas esferas que não deveriam ser normalizadas.

Manifestação de 2017 pelo Dia Internacional das Mulheres, na Praça da Sé, em São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Carla Iaconelli, a obstetra e especialista em reprodução humana pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia Obstetrícia) e Geraldo Caldeira, ginecologista membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), listam 5 mitos sobre a saúde feminia; confira:

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1. Não é normal sentir fortes dores ao perder a virgindade

“Quando consideramos a primeira relação sexual com penetração, existe um mito de que será muito doloroso e que terá, necessariamente, um sangramento, o que não é verdade”, explica Carla.

A obstetra explica que cada experiência é diferente, uma vez que o hímen de cada mulher é diferente. “Sabemos que a relação sexual é carregada de ansiedade e reduzir a vagina somente à dor, estaremos minimizando todo contexto da relação. As mulheres têm os músculos pélvicos, a lubrificação e muitas outras coisas que não só uma pele. O incômodo pode se dar muito mais à tensão, mas uma dor insuportável não deve ser naturalizada”.

“Esse estigma fica muito na anatomia, no físico, e pouco no psicológico. Pouco se fala no amor, em confiança, companheirismo, estar à vontade, isso sim irá influenciar no conforto da primeira relação sexual”, complementa.

2. Nem toda mulher tem hímen

Outro fato pouco debatido sobre corpo e sexualidade das mulheres é o fato de que nem todas possuem essa fina camada de pele. Segundo Carla, “3 a cada 1000 mulheres nascem sem hímen”.

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“Não é normal sentir fortes dores nas relações sexuais e existem mulheres que nem sentem, porque nem nascem com hímen. Essa conversa de que a relação sexual tem que doer e sangrar é um problema, porque é um sinal de falta de preparo. Muito mais do que isso, é necessário conversar com essa mulher sobre autoestima, amor próprio, confiança no parceiro. É um debate muito mais amplo”, garante.

3. Nem toda mulher irá sangrar ao perder a virgindade

A obstetra alerta que “é um perigo acreditar que só perdeu a virgindade depois que sangrou”. Ela aponta que o hímen, dependendo de sua expessura, pode ser rompido através do uso de absorventes internos ou em consultas médicas no ginecologista.

“Isso não significa que a mulher perdeu a virgindade. O sangramento é muito folclórico, vemos em filmes antigos de que a prova de que a mulher perdeu a virgindade é quando o lençol ficou sujo de sangue. Essa é outra coisa que pouco importa, às vezes, o hímen é pequeno, frouxinho, e não sangra”, explica.

4. Não é normal sentir fortes dores na cólica menstrual

De acordo com os especialistas, é comum mulheres passarem por cólicas menstruais, porém existe um limite para a dor.

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“Não é normal ter que tomar remédio na veia, não conseguir trabalhar, não conseguir estudar ou seguir o seu dia a dia. Isso pode ser sinal de endometriose e, para o diagnóstico, é urgente realizar o exame de ressonância magnética pélvica”, explica Geraldo.

“Também pode ser sinal de mioma, pólipo uterino ou adenomiose. Então, tem uma série de patologias que precisa investigar para que essa mulher não seja levada a pensar que é normal e que ela precisa lidar com isso”, acrescenta Carla.

5. Não é normal alterações de humor muito intensas na TPM

Como mencionado nos tópicos anteriores, tudo que for extremo não deve ser natualizado. “É fato que uma mulher no período menstrual é uma mulher diferente a cada dia, porque os níveis hormonais variam e isso é normal, nós somos cíclicas”, inicia a ginecologista.

Isso pode também ser impactado pelo período de vida, se existe uma prática de exercício físico mais frequente, uma alimentação mais saudável, etc. “É importante prestar atenção no ciclo menstrual, tudo que é demais precisa ser investigado. Se é uma alteração de humor que faça você perder amizades, brigar em relações ou que prejudique sua saúde mental, isso não é normal, o normal são discretas alterações”, alerta.

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Nesses casos, é necessário consultar um ginecologista e avaliar o tratamento ideal aliado a psicoterapia. “O tratamento vai desde reposição de vitaminas, tratamentos sintomáticos e até reposições hormonais em casos mais graves”, explica Geraldo.


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