Obesidade infantil: a culpa é de quem?

Hábitos alimentares dos pais e fácil acesso a alimentos ultraprocessados estão entre os responsáveis pelo problema

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Obesidade infantil atinge 30% das crianças no Brasil. Foto: Gaulsstin/ Creative Commons

A obesidade é um tema cercado de polêmicas. O estigma do ‘gordinho preguiçoso’ infelizmente ainda faz parte do senso comum. Para uma parcela da população, o obeso deveria ser mais ‘disciplinado’, fazer exercícios físicos e ‘entrar na linha’. No universo infantil, tantas críticas podem atrapalhar o desenvolvimento físico e psíquico das crianças. 

No Brasil, 33% dos pequeninos estão acima do peso, segundo o Ministério da Saúde. “Uma criança que está obesa tem maior chance de se tornar um adulto obeso, então, é um problema de saúde pública”, enfatiza a endocrinologista Lívia Marcela, mestre em Endocrinologia pela Unifesp. Ela relata que, nos últimos anos, observou uma mudança no diagnóstico das crianças que chegam ao consultório com suspeita de diabetes. De acordo com a médica, atualmente os casos que aparecem são do tipo 2 da doença. A médica observa que parte significativa da culpa é do comportamento inadequado dos pais: “Já vi casos extremos de alguns pais darem refrigerante até na mamadeira para a criança”. 

Crianças comem fast food com o aval de adultos. Foto: Jaco Pretorius/ Unsplash

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Jean Piaget, psicólogo que revolucionou o modo de encarar a educação, revela que as crianças constroem o próprio aprendizado. Além disso, começam a interagir por meio de ações cognitivas concretas, ou seja, a construir estruturas lógicas sobre os objetos ao redor, inclusive com os alimentos. É aí que o comportamento dos pais ganha destaque já na introdução alimentar dos bebês: “Não dá para o pai comer uma coxinha e oferecer uma maçã para a criança”, destaca a nutricionista Luna Azevedo, da Clínica Nutrindo Ideais. A endocrinologista concorda e relata que é muito comum os pais tentarem compensar um dia inteiro de trabalho, longe dos filhos, com comidas prontas, como fast food ou pizza, por exemplo. A facilidade de acesso à produtos ultraprocessados, como bolachas e bolos prontos, também é um problema, segundo a especialista da Unifesp: “Quanto mais você desembalar, menos saudável você está sendo”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças e adolescentes de cinco a 19 anos com sobrepeso chega a 124 milhões em todo o mundo. Um estudo realizado pela Universidade do Colorado, em Denver, revela que pratos ilustrados com fotos das verduras e legumes ao fundo podem atrair as crianças. Os pesquisadores fizeram um teste em 235 creches e, na hora do almoço, ofereciam para metade das crianças um prato segmentado com fotos de frutas e legumes nos compartimentos. Os pequeninos deveriam colocar os alimentos conforme a indicação dos desenhos. A outra metade das crianças recebia pratos sem ilustração ao fundo. Aqueles que comeram em pratos com ilustração ingeriram 36% a mais de vegetais. 

“Comer é social e também visual. Quem não gosta de reconhecer o que come e interagir com o ato? Principalmente as crianças que estão com a imaginação a flor da pele e precisam de estímulos novos diariamente. O ato de comer também faz parte do aprendizado dos pequenos, por isso, nada mais humano, inteligente e efetivo do que juntar essas estratégias ao oferecermos comida à eles”, avalia a nutricionista. Ela reforça o importante trabalho da nutrição junto com conceitos da Psicologia.

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Alimentos viram brincadeiras na hora da refeição das crianças. Foto: RamunasRaudeliunas/Morguefile

Para ajudar os pais a adotar estratégias mais atrativas para os pequeninos comerem bem, fizemos uma lista de dicas valiosas dadas pela endocrinologista Lívia Marcela e a nutricionista Luna Azevedo.

- Faça uma programação para a semana inteira e separe um dia só para cozinhar;

- Separe pelo menos uma opção de fruta para a lancheira das crianças. Os lanches prontos têm excesso de sódio e açúcares;

- Desde a introdução alimentar dos bebês, a partir dos seis meses, ofereça a comida no formato Baby Led Weaning (BLW), que estimula as cores, textura, atenção plena do bebê e a comer de forma mais independente;

- Para as crianças maiores, corte os alimentos e os ofereça com carinhas ou desenhos nos pratos;

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E essa dica final vale para todos: coma junto com a família. “Nada mais atrativo para os filhos do que ter as suas refeições divididas com os seus pais. É muito difícil para a criança entender a alimentação como algo natural, se a prática não for naturalizada em casa a prática. Não dá para os pais comerem mal e acharem que seus filhos vão comer os legumes se não tiverem referência para isso”, enfatiza a nutricionista Luna Azevedo. Por isso, grande parte das crianças deixa de comer alimentos saudáveis quando crescem e percebem que não é um hábito familiar.

Veja também: Cinco dicas para iniciar o processo de educação alimentar com seu filho

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