A cada dia, 156 brasileiras descobrem que têm câncer de mama. Além de enfrentar a doença,muitas delas precisam lidar com a infertilidade depois da quimioterapia. “A maior parte das pacientes com câncer de mama é submetida a um agente alquilante muito agressivo para a fertilidade”, explica Giuliano Bedoschi, médico especialista em reprodução humana assistida.
Renata Quinzan Virches Torosian planejava engravidar no início de 2014, mas precisou deixar o sonho em segundo plano ao descobrir que tinha câncer de mama. Quando o oncologista avisou que ela poderia entrar em menopausa após a quimioterapia, Renata não hesitou em tentar o que fosse preciso para preservar a fertilidade.
A solução foi congelar embriões enquanto ela ainda produzia óvulos. Pela técnica, a paciente é estimulada com hormônios a produzir mais folículos e, consequentemente, mais óvulos. Eles podem ser congelados para uma fertilização futura, ou fertilizados in vitro para o congelamento do embrião já formado.
Renata teve pouco tempo para tomar uma decisão, pois precisava fazer a quimioterapia depois da cirurgia da retirada do câncer. “Eu estava disposta a fazer tudo que pudesse dar bons resultados”, conta. Seu oncologista indicou, então, que ela se consultasse com o doutor Bedoschi, pós-graduado em preservação da fertilidade. Como ela era casada e já tinha planos de engravidar, decidiu, com o marido, congelar os embriões.
“Ela faz parte de um grupo de pacientes que teve uma oportunidade única”, afirma Bedoschi. “Essa janela de tempo entre a retirada do câncer e o início da quimioterapia costuma ser suficiente para fazer a estimulação e congelar os óvulos ou embriões sem interferir no tratamento oncológico.”
Transplante de ovário A técnica do congelamento de óvulos ou embriões já está bem estabelecida, mas há outra opção em fase experimental. O transplante de ovário teve sucesso em pouco mais de 60 mulheres no mundo, segundo Bedoschi, e pode ser uma saída nos casos em que há maior urgência para começar a quimioterapia.
No procedimento, congela-se pedaços do córtex, a camada mais externa do ovário. Depois de anos, ainda é possível reimplantar o tecido e estimulá-lo para a formação de novos óvulos. Bedoschi fez parte de uma equipe que realizou dois transplantes de ovário com sucesso. “Um dos bebês que nasceu, uma menina, se chama Giuliana em minha homenagem”, conta, orgulhoso.
Esperança Bedoschi defende que as técnicas de preservação da fertilidade podem, inclusive, ajudar no tratamento do câncer. “A paciente acaba pensando no futuro, na chance de um dia poder engravidar. Isso pode motivá-la a encarar melhor o tratamento oncológico.”
Renata conta que decidiu tomar uma atitude positiva contra a doença e cuidar mais de si mesma. Ela afirma que o apoio do marido foi essencial para tirar a pressão de engravidar logo e confessa que hoje, depois do tratamento, tenta não se deixar levar pela empolgação. “Como a frustração de não poder engravidar foi muito grande, tento não ficar muito empolgada. Claro que estou feliz, mas a doença querendo ou não gera traumas. De qualquer forma, acredito que na hora certa vai acontecer”.
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