Parto induzido: o que é, como é feito e quando optar pelo método

Técnicas ajudam na indução de parto e aceleram o nascimento do feto, mas é importante ficar atento às contraindicações

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Por João Pedro Malar
A indução de um parto pode ser feita utilizando algumas técnicas, mas deve ser feita sempre por médicos Foto: Serhii Bobyk / Freepik

Como o nome diz, o parto induzido é um procedimento médico que envolve antecipar um parto, fazendo com que um bebê nasça antes do tempo previsto por meio do chamado parto normal. Mas qual gestação demanda essa técnica? E como ela é realizada?

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Para tirar essas e outras dúvidas, a reportagem do Estadão conversou com Roseli Nomura, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e presidente da Comissão Nacional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Corintio Mariani, diretor técnico do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros. 

Os médicos destacaram que o parto induzido pode ser uma alternativa à cesariana, mas que é importante ficar atento aos riscos e se manter informado sobre quem pode, e quem não pode, ter a indução do parto na gravidez, que deve ser feita sempre sob supervisão médica.

O que é um parto induzido?

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Roseli Nomura explica que o termo se refere à antecipação de um parto, em geral devido a uma razão médica associada a complicações de saúde envolvendo a gestante ou o feto. Já Mariani reforça que o parto induzido sempre ocorre de forma não espontânea.

Nesses casos, o parto sempre será vaginal, e segundo o médico a técnica serve também como “alternativa à cesárea eletiva”. Dados de 2016 divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 55,6% dos partos no Brasil foram via cesárea, índice superior ao de países europeus e dos Estados Unidos.

Como funciona o parto induzido?

Segundo Corintio Mariani, existem diversos métodos que podem ser utilizados para induzir um parto, mas todos devem ser feitos e supervisionados por um médico. “Os métodos mais utilizados são o descolamento digital das membranas ovulares por toque vaginal, a ocitocina em gotejamento intravenoso lento e a ruptura artificial dessas membranas”, explica ele.

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O uso de medicamentos para induzir o parto é uma das formas mais conhecidas da prática, e envolve o uso da ocitocina, um hormônio sintético que leva a maiores contrações do útero e, assim, acelera o nascimento do feto. Roseli destaca que, no passado, o hormônio era usado em grandes quantidades, mas hoje tem um uso mais controlado.

“Ele é importante para as induções e para evitar hemorragias após o parto, reduzindo o risco para as mulheres. Mas a dose e o momento devem ser os corretos para o seu uso”, comenta a professora.

O parto induzido pode ser feito com o uso de medicamentos que estimulam as contrações do útero, e pode ser alternativa para uma cesariana Foto: Ego_tranfreepix / Freepik

Outro ponto envolvendo a indução é que os medicamentos só podem ser administrados se o colo do útero está “maduro”, ou seja, propício para a realização do parto. Se esse não for o caso de uma gestante, é possível amadurecer a região por meio de fármacos, sonda e outros métodos. 

Quando realizar este procedimento?

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A princípio, as técnicas de indução de parto não são obrigatórias em nenhuma gestação, mas existem alguns casos em que elas são demandadas. “A indução do parto nunca é necessária ou 'obrigatória'. Quando bem indicada, costuma ser uma excelente opção à cesárea desnecessária”, afirma Mariani.

De forma geral, Nomura considera que uma pessoa pode optar pelo procedimento “se isso não trouxer problema para o feto”. A professora destaca que quanto mais próxima a gestação está das 39 ou 40 semanas, maior a chance de sucesso da indução.

“Se o bebê é muito prematuro, não adianta fazer indução”, alerta a médica, explicando que, nesses casos, a cesárea é mais recomendada. A indução também pode ser feita para evitar hemorragias na mãe e na criança.

Mariani destaca que ela é sugerida quando a mãe encontra-se em situações como pré-eclâmpsia, hipertensão arterial crônica, diabetes gestacional, ruptura de membranas ovulares antes do início do trabalho de parto e em gestações que tenham atingido 41 semanas, caso chamado de “pós-datismo”.

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“Também pode ser tentada a indução de parto para gestantes que tenham dado à luz por cesariana eletiva e que agora desejam um parto normal”, comenta ele. Um ponto importante, porém, é saber dos riscos envolvendo o parto induzido, e quando não realizá-lo.

Quanto tempo pode durar uma indução de parto?

Roseli Nomura comenta que a duração do parto induzido depende das condições da mãe, da gestação e do feto. “O que se pode dizer é que se a mãe já deu a luz alguma vez, por parto vaginal, é mais fácil induzir o trabalho de parto, mais rápido. Se nunca teve nenhum parto, vai ter uma indução mais trabalhosa. Pode demorar alguns dias para ter sucesso”, explica a médica.

Se a mãe já teve um parto por cesárea há uma chance menor de sucesso. Alguns fatores que influenciam a eficácia do método são a abertura do colo do útero, a espessura do mesmo e o tamanho do bebê. Em alguns casos, explica Mariani, técnicas de preparação para o parto induzido podem levar 24 horas.

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Quais são os riscos de um parto induzido? 

Apesar de ser uma técnica, em geral, segura, a indução envolve riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. No primeiro caso, eles estão ligados a efeitos colaterais dos medicamentos usados para induzir o nascimento do bebê.

“Pode gerar muita contração, muita dor, pode ter infecção se for usado um método mais invasivo. Em casos raros ocorre descolamento de placenta, mas esse risco existe em qualquer parto”, explica Roseli.  

“Na presença de qualquer alteração, o procedimento pode ser interrompido a qualquer momento para realização de uma cesárea”, destaca Mariani. O médico cita riscos para a mãe como infecção e hemorragia pós-parto, mas reforça que eles costumam ser baixos quando o procedimento é bem feito.

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É importante saber os riscos do parto induzido, tanto para a mãe quanto para o bebê Foto: Adroman / Pixabay

Também é possível que o incentivo das contrações do útero sejam muito intensas, e isso leve a uma oxigenação reduzida do feto, resultando em problemas respiratórios para o bebê.

Caso a bolsa contendo o líquido amniótico se rompa de forma precoce, infecções também podem prejudicar a criança. 

Se o bebê nascer de forma muito precoce, ele também precisará ficar internado na UTI pré-natal do hospital. Citando esses riscos, Roseli Nomura observa que o ideal é induzir o parto por “indicação médica, não por conveniência”.  Já Mariani ressalta que a gestante deve ser informada sobre esses riscos, e sem o seu consentimento o procedimento não pode ser feito.

Quando deve ser evitado?

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Talvez um dos elementos mais importantes quando se fala do parto induzido, é necessário que as gestantes fiquem atentas às situações em que a indução é contra indicada, até para evitar problemas e riscos futuros.

A principal restrição é para pacientes que já tiveram duas ou mais cesáreas, já que as cicatrizes da cesariana propiciam o chamado sofrimento retal, quando o bebê é afetado por fortes contrações.

Outros casos são quando já há hemorragia materna, quando o bebê está “sentado” no útero, também referido como posição pélvica, quando o bebê é grande demais, se a placenta for muito baixa, se houver infecções como a genital, tumor no canal hepática ou se a mãe tiver câncer de colo de útero.

Além dessas situações, em que a indução jamais será feita, existem casos em que a técnica pode ou não ser realizada, dependendo do contexto, devido aos cuidados que eles demandam.

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Entre elas, estão o parto de gêmeos, hipertensão arterial, grande quantidade de líquido amniótico e outras situações de risco. Se há um caso de eclâmpsia, como é chamado o aparecimento de convulsões em mulheres gestantes, a indução não deve ser feita. 

Em todos esses casos, porém, o mais importante é deixar a decisão para a avaliação do médico, que é o profissional qualificado para analisar cada caso e que conhece os casos em que a indução pode ser feita.

O parto induzido dói mais?

Assim como a duração da indução, a intensidade da dor de um parto induzido, e do parto normal, varia de caso em caso. Na maioria das vezes, porém, é a duração do parto induzido que passa a impressão que ele dói mais, já que a dor dura mais tempo.

Roseli Nomura explica que, a princípio, a intensidade das dores devido às contrações são as mesmas em um parto induzido e um parto normal sem indução. Ela destaca também que “é preferível que a gestante passe pelo parto sem dor”, citando formas de reduzir a dor durante o parto.

O método mais conhecido é o farmacológico, que envolve o uso de medicamentos que aliviam a dor. Entretanto, também existem métodos não farmacológicos que podem ser oferecidos e realizados, em especial a massagem e a realização de um banho para a paciente.

Apesar de ser uma técnica segura, a professora considera que a indução de partos ainda não é muito conhecida ou praticada no Brasil, em especial se comparada à grande prática de cesáreas, ou com casos de países como os Estados Unidos, em que as induções são mais realizadas e chegam até a ser marcadas com antecedência.

“O que nós tivemos foi um avanço em relação à oferta de métodos para a indução, e também sobre quando fazê-la, e isso tanto no setor público quanto no privado”, comenta a médica. 

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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