Saiba como o leite materno reduz as chances de obesidade infantil

Estudo da OMS afirma que amamentação exclusiva até os seis meses diminui risco em 25%

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Foto do author Ludimila Honorato
O leite materno melhora a imunidade do bebê, o desenvolvimento cerebral e diminui cólicas. Foto: seeseehundhund/Pixabay

É inquestionável que o leite materno é o melhor alimento que uma criança pode ter no começo da vida. A amamentação exclusiva até os seis meses, e prolongada até os dois anos de idade com alimentos complementares apropriados, é comprovadamente protetora em diversos aspectos. Um deles é contra a obesidade infantil, e isso pode ser explicado por diferentes fatores.

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"O leite materno tem uma ação na parte hormonal diferente da fórmula. Quando o bebê ingere fórmula, tem resposta mais intensa da insulina e acumula mais gordura no corpo", diz Mônica Carceles Fráguas, pediatra neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista.

A pediatra Loretta Campos, conselheira internacional em aleitamento materno, afirma que o leite da mãe é próprio para o recém-nascido e tem menos gordura do que a fórmula. A gordura que há no alimento natural é especial e melhora o desenvolvimento cerebral do bebê.

"Também é comprovado que previne doenças cardiovasculares, melhora o desenvolvimento orofacial, a imunidade, diminui as cólicas e, para a mãe, previne câncer de ovário e de mama", diz Loretta. É por todos esses aspectos positivos que a Semana Mundial do Aleitamento Materno, que começou em 1º de agosto e vai até o dia 7, reforça a importância dessa prática.

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Outro fator que as pediatras citam é que, no peito, o bebê regula a saciedade por conta própria. Quando se dá fórmula na mamadeira, geralmente ele vai consumir mais do que mamaria no seio porque o fluxo é mais forte, a quantidade de leite é maior e é mais fácil sugar.

Porém, a fórmula não é o vilão da história. Há casos em que a mãe não pode amamentar, como mulheres portadoras do vírus HIV, que fizeram mastectomia, com doença genética ou outros problemas de saúde dela ou do bebê que os afastam desse momento.

Nessas situações, o leite formulado é necessário, mas nem sempre resultará em obesidade infantil. "Tem de tomar a quantidade certa e fazer controle de peso com pediatra. Se tiver ganhando muito peso, vai ver o porquê, se está dando a mais, se entrou outro alimento", diz Mônica.

Aleitamento materno contra obesidade no futuro

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Mônica acrescenta que, durante a amamentação, a criança experimenta sabores diferentes, porque o leite varia de composição de um dia para o outro, ao longo dos meses e de acordo com a alimentação da mãe. Com isso, "o bebê vai ter um paladar mais fácil depois".

O que ela diz é citado em um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que descobriu que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses reduz em até 25% o risco de obesidade infantil. O texto afirma que as crianças que foram amamentadas parecem ter preferências alimentares mais favoráveis no futuro, comendo mais frutas e vegetais do que aquelas que são alimentadas com fórmula.

A OMS constatou, após ajustes demográficos, que crianças que nunca foram amamentadas eram 22% mais propensas a serem obesas. Para quem o aleitamento durou menos de seis meses, o risco caía para 12%, todas comparadas com as que foram amamentadas por mais de seis meses. Já a proteção para bebês que foram exclusivamente amamentados por seis meses chegou a 25%. Na introdução, o estudo cita uma pesquisa que descobriu que cada mês adicional de amamentação estava associado a uma redução de 4% na prevalência de sobrepeso.

O papel da família no sucesso do aleitamento materno

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A OMS reconhece que a adoção do aleitamento materno exclusivo até os seis meses está abaixo das recomendações mundiais. Os motivos englobam condições socioeconômicas, acesso à informação e fatores de saúde, da mãe ou do bebê, que impedem a prática. No mais, as pediatras reforçam que a família, não só a mãe, e uma rede de apoio são essenciais para o sucesso da amamentação.

Mônica diz que não é só a questão do leite materno ou da fórmula que influenciará no risco de obesidade infantil. "Os hábitos alimentares da família são muito importantes para se ter uma saúde e um peso ideais. As famílias com sobrepeso tem bebês já com propensão. Desde o nascimento, a família se preocupa muito com o peso do bebê, com a perda de peso inicial, e já pedem para complementar."

Ela explica que a perda de peso inicial é normal e não deve preocupar os pais. Isso ocorre porque o bebê nasce com uma gordura extra especial que é perdida nos primeiros dias de vida. "Mas se o bebê toma só leite materno, já tem um prognóstico melhor", completa a pediatra.

Ter pessoas que colaboram com a amamentação em outros aspectos também é essencial para que a mulher esteja disponível e bem, física e mentalmente, para nutrir o bebê. "O aleitamento materno demanda mais da mulher. Por outro lado, tendo uma rede de apoio, fica mais fácil. O pai não tem peito para dar, mas tem colo, todo mundo pode dividir o colo, colocar para arrotar", explica Loretta.

A médica diz que o vínculo que o bebê cria com os familiares está muito ligado ao cuidar, e a amamentação é só uma das formas de construir esse amor. "Hoje, a família é muito importante para a criança se sentir acolhida e amada. E a rede de apoio faz muita diferença para superar as dificuldades que surgem no início da amamentação e para mantê-la", completa.

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