Reviver um episódio que ameaçou sua vida ou de alguém próximo a você. Fugir de situações semelhantes, pesadelos frequentes e falta de interesse em atividades comuns. Estes podem ser alguns dos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático. “Quando ele se recorda do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento vivido na primeira vez, essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais”, explica o psiquiatra Higor Caldato, especialista em psicoterapias pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e sócio da Clínica Nutrindo Ideais. Algumas situações podem desencadear o transtorno, como assédio, humilhações e outras violências psíquicas. O psiquiatra Higor Caldato ressalta que há diversos estudos que apontam eventos ocorridos na infância e adolescência como fatores que tornam as pessoas mais vulneráveis ao transtorno: “Em geral, se encaixam situações de bullying infantil, violência doméstica, dificuldades em sociabilização ou aprendizado, como o TDAH. Essas crianças são estigmatizadas e ridicularizadas”. Outros fatores a serem considerados são crianças expostas a desastres naturais, como enchentes ou terremotos, ou a violência urbana. Para o psiquiatra Higor Caldato, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático é a consequência psiquiátrica mais emblemática da exposição de um trauma. A prevalência de TEPT na população geral pode atingir 10%.
Os principais sintomas do Transtorno do Estresse Pós-Traumático
O TEPT é caracterizado por um conjunto de sinais físicos, psíquicos e emocionais. Os principais sintomas são:
Reexperiência traumática: pesadelos e lembranças espontâneas, involuntárias e recorrentes (flashbacks) do evento traumático.
Fuga e esquiva: afastar-se de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas, como situações, contatos ou atividades semelhantes aos fatos.
Distanciamento emocional: diminuição do interesse afetivo por atividades ou situação com pessoas que anteriormente eram prazerosas.
Hiperexcitabilidade psíquica: reações de fuga exageradas, episódios de pânico (coração acelerado, transpiração, calor, medo de morrer), distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, hipervigilância (estado de alerta).
Sentimentos negativos: sentimento de impotência e incapacidade em se proteger do perigo, perda de esperança em relação ao futuro, sensação de vazio.
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático prejudica tanto o indivíduo que não é comum o paciente ter dificuldade em realizar tarefas básicas, como ir ao banco, sair de casa ou ir a lugares específicos. “As crises podem ser provocadas também por estímulos que tragam à tona lembranças do trauma: sons, músicas, cheiros, gostos, olhares. Todas essas experiências obviamente afetam o humor da pessoa, que geralmente fica irritada, triste e em estado de alerta”, avalia Higor Caldato.
O psiquiatra ressalta que dificilmente as pessoas que nunca viveram uma situação de estresse intenso e que apenas acompanham o noticiário sobre tragédias como as de Brumadinho ou do incêndio que ocasionou a morte dos jogadores no Flamengo desenvolvam o transtorno.
“O TEPT necessariamente acontece após um evento grave que ameace a vida da pessoa ou de alguém muito próximo, geralmente um familiar ou alguém que tenha uma significância afetiva. Essa pessoa desenvolve um quadro de estresse que é uma reação após esse evento traumático que deve se manter a partir de um mês do evento para falarmos que é um diagnóstico”, afirma.
Quais são os tipos de tratamento para o transtorno?
O tratamento para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático é feito com medicamentos e terapia psicológica. As chances de cura aumentam quando é feito o acompanhamento simultaneamente com as duas áreas. “Durante o tratamento, é fundamental que a pessoa tenha o suporte de amigos, familiares e pessoas próximas com quem possa contar em casos de emergência. É fundamental não tratar a vítima de trauma como se estivesse tentando chamar atenção ou “fazendo drama”. Em termos gerais, são fatores preventivos ou de proteção”, alerta o psiquiatra.
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