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Comportamento Adolescente e Educação

Como a informação pode dar voz a jovens de uma comunidade

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Foto do author Carolina  Delboni

Quando crianças e adolescentes têm acesso a um repertório que os permite nomear seus maiores dilemas, o cenário que se desenha é de transformação

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Desde que o mundo é mundo, a informação sempre foi uma ferramenta de poder. Isso porque ela é capaz de transformar a condição de uma pessoa, assim como de uma comunidade, país e mundo.

Não à toa os livros, por séculos, eram restritos aos homens e à Igreja. O mesmo aconteceu com a educação que, por muito tempo, foi destinada a uma única classe social: da nobreza.

Aos poucos fomos evoluindo como mundo e entendendo que conhecimento e informação eram direitos de todos porque ambos são partes importantes na engrenagem das mudança sociais de qualquer ser humano.

O que estou querendo dizer é que quando alguém se apodera de saberes ela é capaz de mudar as condições ao seu redor, isso porque ela passa a saber, não só dos seus direitos, mas a dar nome àquilo que antes tinha apenas uma percepção ou um incômodo.

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Foi exatamente isso que aconteceu com 50 jovens da Cidade Tiradentes que participaram do projeto Passa a Visão, uma iniciativa cocriada pelo Unicef, Ministério Público do Trabalho de São Paulo e pela Serenas, ONG dedicada aos direitos de meninas e mulheres.

A proposta tinha como meta formar uma rede de jovens comunicadores de 14 a 19 anos aptos a orientar outros adolescentes a combaterem as violências às quais estão mais expostos na região. Eram elas: racismo, violência de gênero e trabalho infantil.

Um dos cartazes produzidos pelos jovens do projeto Passa a Visão  

Temas esses presentes entre os mais de 235 mil habitantes da Cidade Tiradentes, entre os quais, 67.500 são crianças e adolescentes de até 17 anos. E, se por um lado enfrentam uma série de desafios, apresentam inúmeras potencialidades mesmo assim.

E para trabalhar esses pilares, o primeiro passo foi compartilhar informações que abrissem seus olhos e os permitissem dar nome a situações e sentimentos que muitos já vivenciavam, mas queriam transformar. Etapa fundamental já que durante esse processo de "nomear" damos concretude a algo e é a partir daí que somos capazes de agarrar determinadas questões com as mãos para modificá-las.

Faço aqui um paralelo com a alfabetização de crianças. Sabe por que primeiro elas aprendem a escrever o próprio nome? Porque este processo é parte da apropriação do "eu". Dar nome a si mesmo é parte do identificar-se como indivíduo, fase extremamente necessária para que depois seja capaz de se relacionar socialmente.

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Agora volta ao Passa a Visão e faz o paralelo. Primeiro era preciso que os adolescentes nomeassem as violências e os incômodos para que depois fossem capazes de traçar estratégias de atuação e combate, e foi este o caminho que seguiram.

Em sua etapa inicial, o projeto promoveu encontros online e presenciais nos quais a ONG Serenas abasteceu os jovens com dados e conhecimento. O objetivo era conscientizá-los sobre as múltiplas formas de violências, reconhecendo-as como tal.

Depois de uma sequência de debates e pesquisas, os participantes traçaram uma estratégia para retransmitir todo o aprendizado às ruas, estabelecimentos, transportes públicos e até mesmo dentro das suas próprias casas.

A ideia era gerar informação a partir do conhecimento adquirido e replicar na comunidade como ferramenta de conscientização e transformação. E resultado foi uma série de materiais feitos de jovens para jovens.

Dali saíram lambe-lambes com palavras de ordem coladas em pontos estratégicos do bairro, músicas, artes prontas para serem compartilhadas nas redes sociais, spots para a rádio comunitária, podcast e áudios informativos no estilo radionovela sobre racismo, violência psicológica, trabalho infantil doméstico e importunação sexual - todos eles compartilháveis por WhatsApp.

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Se o objetivo inicial da campanha de comunicação era chegar a uma média de cinco mil pessoas da região, segundo Amanda Sadalla, cofundadora da Serenas, ela ultrapassou as expectativas porque acabou impactando mais de 20 mil pessoas.

A iniciativa mostra como ideias criativas pautadas no conhecimento podem impactar comunidades com força. Órgão parceiro do projeto, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP), afirma que ações de conscientização e capacitação de adolescentes para o entendimento de seus direitos são ferramentas valiosas para ajudar a mitigar assédios e crimes.

Entre depoimentos dos participantes no site Passa a Visão, Yuri Alexandre Gonçalves Sousa, 15 anos, diz que se inscreveu no projeto para encontrar novos amigos e se sentir melhor em um momento que sua saúde mental estava abalada por conta do histórico de violência intrafamiliar.

"Com o Passa a Visão, aprendi os lugares em que posso ir para pedir ajuda em situações de violência", conta o jovem que quer ser bombeiro, é apaixonado por ciência e pretende ajudar suas irmãs a terem uma vida melhor. Ele ainda acrescenta que vai continuar a transmitir toda a informação assimilada para outros núcleos.

"Nossas juventudes são muito potentes e precisam de oportunidades para ocupar espaços e externar essas potencialidades, seja por meio de criações artísticas, da articulação em espaços dentro do próprio território ou na participação em discussões sobre políticas públicas que atendam às reais demandas de crianças, adolescentes e jovens", ressalta Bruna Latrofe, psicóloga e especialista em proteção da Serenas.

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Se por um lado os adolescentes impactados enfrentam uma série de desafios, o Passa a Visão comprova que eles esbanjam inteligência, criatividade e força para resolver as diversas questões que os desafiam e levá-las para a esfera do coletivo. Basta incentivar e apoiar.

Apoiar. Adolescentes e jovens precisam do apoio dos adultos, sejam eles mães, pais, responsáveis legais ou educadores. O restante é com eles. Eles sabem fazer, sabem se expressar, sabem ter ideias, pensar, argumentar. O palco é deles.

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