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Comportamento Adolescente e Educação

Estudo aponta que metade dos meninos adolescentes não têm certeza se são amados por seus pais

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Foto do author Carolina  Delboni

Realizado com mais de 4 mil adolescentes, entre 13 e 17 anos, estudo conduzido pelo Instituto Papo de Homem aponta que metade dos meninos nesta faixa etária não têm certeza se são amados por seus pais

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Masculinidade tóxica, masculinidade frágil, progressista, igualitária, neotradicionalista e hegemônica são algumas das possíveis definições do que é ser homem nos tempos atuais. A masculinidade é uma construção social, mas carrega ingredientes - se assim podemos chamar - também biológicos.

Fato é que existe um estereótipo de masculino, assim como de feminino, e ele costuma ser forte, musculoso, dominante e muitas vezes agressivo. Só que meninos não nascem carregados desses adjetivos. Eles são ensinados a vestirem a fantasia de super-homens. São ensinados também, entre tantas coisas, que chorar é coisa de menina. Coisa de "homem fraco".

Pois é, ainda em 2024 acredita-se que chorar, expressar os sentimentos e as emoções é sinal de fraqueza. Mas por que eu tô falando tudo isso? Porque estamos no mês do Dia dos Pais e um estudo recente, conduzido pelo Instituto PDH e pelo projeto Papo de Homem com a colaboração da Natura e do Pacto Global da ONU no Brasil, revelou que metade dos 4mil meninos adolescentes entrevistados não têm certeza se são amados por seus pais. Será que homens amam? Como será que eles demonstram esse amor? Tem afeto, carinho?

A pesquisa chamada "Meninos: Sonhando os Homens do Futuro", traz à tona a preocupação de como os adolescentes brasileiros percebem o carinho paterno. Considerada a maior investigação na América Latina sobre o desenvolvimento masculino na adolescência, ela revela uma variação considerável na percepção do afeto paterno entre diferentes grupos étnicos. Enquanto 35% dos meninos brancos manifestam dúvidas sobre o amor de seus pais, o mesmo índice aumenta para 49% entre os meninos negros.

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Para o psicólogo clínico e social Marlon Nascimento, especialista em atendimento a homens e jovens de periferia, a falta de demonstração de afeto pode, sim, causar impactos negativos profundos na saúde mental dos adolescentes. " "Ao observarmos essa dinâmica quando direcionadas a meninos, que normalmente são criados com frieza e endurecimento, entendemos o quão complexo é querer que os homens do futuro sejam mais gentis e amorosos, se esses meninos pouco recebem e são estimulados a essa prática. Não se sentir amado tem um impacto negativo na saúde mental, pois esses jovens podem ter dificuldade em distinguir amor do que é abuso, posse ou violência", explica.

O especialista também cita a teoria da autora americana Bell Hooks, que propõe que o amor deva ser compreendido como um conjunto de ações e não apenas um sentimento, sugerindo que a falta de cuidado paterno contribui para essa percepção.

Outro estudo publicado pelo Greater Good Science Center da Universidade da Califórnia (UC Berkeley) reforça que adolescentes tendem a sentir-se mais queridos em dias em que seus pais elogiam e demonstram compreensão e afeto, independentemente de conflitos existentes. E comprova que a falta constante desse afeto pode aumentar o risco de doenças mentais como a depressão entre adolescentes.

A falta de modelos positivos de masculinidade na adolescência

Ainda sobre a pesquisa, "Meninos: Sonhando os Homens do Futuro", seis em cada dez meninos afirmam não conviver com homens que sirvam como modelos positivos de masculinidade. Guilherme N. Valadares, fundador do Instituto PDH, observa que "é muito difícil ser o que não conseguimos ver". Ele ressalta a importância de os meninos terem contato com homens que assumem a responsabilidade de serem exemplos de masculinidades mais responsáveis e conscientes.

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Segundo artigo publicado pela American Academy of Pediatrics (AAP Publications) as crianças cujos pais demonstram amor e carinho, tendem a ter melhor desempenho social, emocional e acadêmico. Pais presentes promovem comportamentos saudáveis em seus filhos, como disciplina e bom relacionamento social. A interação paterna também reduz os níveis de agressividade em meninos na pré-escola.

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Para o psicólogo Marlon Nascimento, a ausência de certezas sobre o amor paterno e a falta de referências positivas de masculinidade podem gerar uma angústia profunda nos meninos. "Se fizemos o recorte para meninos negros, que já carecem de referências, pois seu pai sofre impacto direto de diversos aspectos sociais, inclusive das violências, percebemos a complexidade do debate na dimensão étnico-racial. Isso só reforça a necessidade de políticas públicas específicas para esse público", completa o psicólogo.

O profissional enfatiza que, especialmente para meninos negros, essa ausência pode intensificar o impacto das adversidades sociais e econômicas que enfrentam, reforçando a necessidade de políticas públicas direcionadas a esse grupo.

Do que eles gostam

O estudo "Meninos: Sonhando os Homens do Futuro" revelou que 6 em cada 10 responsáveis por meninos entre 13 e 17 anos, gostariam que eles aprendessem como ficar mais bonitos, incluindo os cuidados com o corpo, pele, cabelos, etc. -- O índice é o mesmo em relação ao interesse geral de meninos sobre o assunto. É interessante notar que os meninos de escola pública estão mais interessados em aprender sobre estética e beleza (63%) que os meninos de escolas privadas (56%). Essa resposta quebra um estereótipo de gênero, indicando que meninos da Geração Z no geral, se importam de forma significativa com cuidados estéticos.

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Para Viviana Santiago, consultora estratégica do projeto, levanta uma questão relevante: "Os meninos estão nos dizendo que querem ser homens melhores no futuro. Mas o que vamos fazer para garantir isso?". Santiago comenta sobre a necessidade urgente de se prover exemplos positivos e oportunidades para desenvolverem um conceito saudável de masculinidade.

"Trabalhar com os meninos de hoje é essencial para garantir uma sociedade com homens mais saudáveis no futuro", ressalta Guilherme Valadares. "O foco nos meninos é estratégico porque é nessa fase que muitos comportamentos e crenças são formados. Queremos desafiá-los a questionar estereótipos prejudiciais, aprender a lidar com suas emoções e adotar atitudes que promovam equidade e respeito. Estamos confiantes que podemos causar um impacto positivo e duradouro na vida desses jovens e, consequentemente, na sociedade como um todo", concluiu.

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