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Comportamento Adolescente e Educação

Mentira na adolescência: por que acontece e como lidar

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Foto do author Carolina  Delboni

A mentira é um recurso que o adolescente usa quando sente que não tem espaço dentro de casa ou quando constantemente é proibido de fazer alguma coisa, mas qual o limite? O que fazer quando você descobre uma mentira? Entenda por que adolescentes mentem e saiba como lidar

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Quando pensamos em educar filhos não existe melhor ou pior: cada família encontra sua fórmula. Algumas são mais abertas, outras abraçam uma linha clássica, tem aquelas que fazem uma mescla disso tudo e por aí vai. Os caminhos são diferentes, mas a ideia é chegar ao mesmo lugar: criar seres humanos respeitosos, empáticos, solidários e honestos.

Mas e quando a gente descobre que o filho ou a filha anda mentindo? São comuns os relatos de mães que descobrem o filho fazendo algo escondido, normalmente algo que foi proibido pela família e é aí que está a chave da questão.

Quando um adolescente é proibido de fazer algo que ele quer muito, como ir a uma festa, sair com alguém ou mesmo começar um relacionamento, ele vai buscar maneiras e estratégias de conseguir o que quer.

É bem provável que, de início, vá tentar conversar com um dos pais para expor o desejo e ter a aprovação. Mas logo que ele recebe o "não", a negativa, o cérebro entra em ação para pensar como buscar uma saída, uma solução, e uma delas é a mentira.

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A mentira é um recurso comum na adolescência, mas qual o limite aceitável? Existe um limite aceitável? Será que o adolescente está 100% errado em mentir aos pais quando é proibido de fazer algo?

Recentemente, em um grupo de discussões, a mãe de uma menina de 13 anos contou que a filha andava mentindo muito e que ela perdeu a paciência e acabou a agredindo fisicamente. "Fiquei com tanta raiva que, quando eu vi, já tinha batido", desabafou, dizendo que havia conversado inúmeras vezes, mas ela sequer a escutava.

foto Bigstock  

Entre a chuva de comentários gerados pelo post, me chamou a atenção a fala de outra mãe dizendo que, "quando a educação imposta é rígida demais e o adolescente não sente segurança nos pais e responsáveis, e tampouco têm vínculos de confiança com eles, é normal que mintam". Bingo!

"Se ela sabe que será julgada, vai mentir! Às vezes a gente se coloca no papel de mãe e esquecemos que precisamos ouvi-los", completou uma. Bingo, outra vez.

É importante deixar claro que não quero disseminar a ideia de que, quando um adolescente mente, os responsáveis são os pais e que os mesmos devem dizer "sim" e "amém" para todos os pedidos do adolescente. Não é isso.

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O que quero aqui é trazer mais leveza ao tema e propor alguns exercícios de reflexão para que a gente entenda a mentira como recurso e não um traço da personalidade para se preocupar.

Não estou falando do adolescente que mente em todas as situações, inclusive nas que ele não tem nenhuma razão para tal. Aqui vale o alerta: se os pais percebem que a mentira se tornou uma constante na vida do filho, devem procurar ajuda de um psicólogo especialista.

Agora, se os pais identificam a mentira em situações pontuais em que o adolescente foi proibido de fazer algo e o fez mesmo assim porque sabia que não teria a aprovação dos pais, ok. Estamos na mesma página deste texto e eu te sugiro continuar comigo.

É perfeitamente compreensível que para algumas famílias alguns limites não devam ser ultrapassados porque violam crenças e valores, mas é preciso escolher quais brigas valem a pena ser travadas dentro de casa.

Em casa, por exemplo, sempre digo que uma verdade indesejada é melhor do que uma mentira descoberta. Ou seja, é melhor contar o que está acontecendo do que eu descobrir por terceiros. Isso porque acredito ser importante construirmos uma relação de confiança e não de medo. Por quê?

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Primeiro porque educar pelo medo não é educação. Depois porque, em algumas situações, o adolescente vai precisar pedir ajuda a um adulto e esse vínculo de confiança tem que ter sido construído.

Tem hora que amigo não dá conta de resolver ou porque ainda é tão imaturo quanto ou porque ele está na "roubada" junto do seu filho e ele precisa poder ligar e pedir ajuda. Isso implica que as portas da relações estejam abertas.

Se eu estou sempre proibindo meu filho de sair, encontrar um amigo que eu posso não gostar muito, fazer um programa no meio da semana em que o foco deveria ser a escola ou começar um namoro porque eu acho que é cedo, significa que estou sempre emitindo sinais a este adolescente de que eu não compreendo as coisas que são importantes para ele e isso quebra laços, vínculos.

Quem nunca escutou o adolescente falar "mas você não me entende!"? Pois é, eles precisam da compreensão dos pais e da permissão. É esta permissão que dá a eles o sinal verde na relação e essa atitude não só é importante para criar vínculo, mas também para o desenvolvimento e ganho de autonomia do adolescente.

Meghan Leahy, terapeuta parental e colunista do Washington Post, recentemente escreveu sobre mentiras nessa fase e ser o mais gentil, compreensiva e aberta possível são algumas das sugestões que ela dá. Também sugere que os pais escutem as mensagens subliminares das mentiras dos filhos e tentem ler nas entrelinhas. Quando não falam a verdade e se recusam a seguir determinadas regras, o que buscam?

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A terapeuta propõe que a gente consiga criar soluções em conjunto com eles, escutando, mas fazendo com que compreendam o que deve ser feito num clima de cumplicidade. E se você descobre algo mais pesado, talvez uma experiência com drogas ilícitas ou bebidas? De novo, mantenha a calma se puder, e escute, escute e escute. Também é importante ensinar que uma relação mais franca tem seu valor.

Seja cúmplice, sem se esquecer de impor limites. Escute sua maneira de enxergar a vida e valorize-a porque isso é fundamental para que seu filho adolescente cresça de maneira segura e autônoma.

A gente sabe que é duro deixar os filhos crescerem e se apoderaram dos próprios pensamentos e crenças, mas em vez de negar e brigar, o melhor é dar as mãos e ajuda-los a fazer o caminho da forma mais leve possível.

E lembre-se: uma verdade indesejada é melhor do que uma mentira descoberta. Escute, converse, construa vínculos com seu filho.

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