Ninguém. A literatura é escassa, a rede de apoio se desmancha, o médico já não pode mais ser o pediatra e a gente não sabe a quem pedir ajuda. O que acontece, que quando os filhos crescem, soltam as nossas mãos? Por que ninguém ensina a gente a ser mãe de adolescente?
O maternar adolescente é um tema sensível e latente entre tantas - tantas - mulheres que ver uma grande marca na televisão aberta falando, pela primeira vez, sobre a adolescência é bonito demais. Mais precisamente sobre ser mãe de adolescente. Acho que é a primeira marca nacional que dedica a segunda maior data do varejo a um tema tão sensível, tão espinhoso, que ninguém nunca quis retratar no Dia das Mães. Estou falando da adolescência.
Estou falando também da invisibilidade da maternidade adolescente. Para o varejo, para o mercado de consumo, a adolescência é uma fatia pequena. Não vale a pena investir milhões de reais em estudos, desenvolvimento de produto e depois colocá-los nas prateleiras para um consumidor que será fidelizado por tão pouco tempo. É assim que o mercado enxerga o adolescente: invisível. E acredite, o mesmo vale para nós, mães de adolescentes.
Os filhos entram na adolescência e a gente se torna invisível. É o poder mágico da invisibilidade das mães de adolescentes. A gente desaparece para toda indústria materna e até mesmo para outras mães e seres humanos que habitam o mesmo espaço que a gente.
Veja só como acontece: as pessoas dizem "ah, mas agora já tá tranquilo, né? Você já dorme, aposto que ele já come de tudo e você nem tem mais dor nas costas de tanto ficar andando atrás do teu filho, né? Adolescentes já fazem tudo sozinhos".
Pois é, mas não existe "um belo dia eles cresceram e vivemos felizes para sempre". Adolescentes não fazem tudo sozinho e é aqui que as pessoas se enganam. E sabe por quê? Porque eles não são adultos, são adolescentes e ainda precisam dos adultos - vulgo, pai e mãe ou responsável legal.
Mas por alguma razão inexplicável a gente parece sumir do mapa. Agora eu vou te contar um segredo: a gente continua existindo, eles continuam precisando da gente e a gente continua precisando daquela rede de apoio que se formava na escola e na pracinha do bairro.
Quem aqui ainda faz parte de algum grupo de whats? Quem aqui tem grupo de mães da escola? Quem aqui pode contar com rede de apoio fora da família? Quem aqui já ganhou um livro para entender melhor a adolescência do próprio filho?
Ser mãe de adolescente é padecer da inexistência social. Vou além, é viver na periferia da maternidade. Sim, existe uma periferia nada valorizada ou vangloriada da maternidade e ela se dá nesta fase. Afinal, nossos bebês crescerem e perderam aquelas carinhas fofas e cheirosas. Agora eles são compridos, a pele ganhou oleosidade e nem sempre eles cheiram talco.
A mesma indústria que se paramenta inteira para dar suporte às mães de primeira viagem solta a mão delas quando os filhos chegam lá pelos 12, 13 anos. E daí é um salve-se quem puder. Mesmo. Não existem mais cursos, palestras, redes de apoio, o suporte pediátrico em geral deixa de fazer sentido, a literatura é inexpressiva e quase todo mundo acha que a vida já está ganha para você. Fato ou fake?
Fato é q a gente não some do mapa e que a gente ainda precisa de apoio. Dos seres humanos e dos livros. Porque ser mãe é uma construção e ninguém nasce sabendo ser mãe de adolescente. A gente aprende e aprende na relação o outro.
É preciso olhar essa figura que foi tão cuidada quando era mãe de primeira viagem e agora parece viver no limbo. Mãe de adolescente também precisa ser acolhida, também precisa de rodas de conversa e de grupos de apoio. As angústias são muitas e se reconhecer na história do outro é vital. É preciso reconstruir as redes de relações da infância. Se reconectar aos grupos de mães, seja on-line ou presencial.
Sem medo de invadir a privacidade do filho ou interromper o processo de ganho de autonomia e independência. Dar todo esse espaço ao filho que cresce não significa ausentar-se do seu papel. É fazer de um jeito novo, até para que você possa se reconectar com o adolescente.
Adolescente precisa ser olhado sim, mas não pelo buraco da fechadura. Precisa de olho no olho, de carinho. De respeito e confiança. Porque se reconhecer como mãe de adolescente é uma conversa totalmente possível.
Maternidade é uma construção e ela não acaba nunca. Ninguém solta a mão de ninguém, lembra? É lema.
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