Estudos revelam os impactos prejudiciais da superproteção bem como os problemas acarretados pela ausência parental. Entenda.
Em tempos de mundo polarizado, parece que a parentalidade enfrenta algo parecido quando o assunto é educação e criação de filhos. De um lado temos um time de pais superprotetores, nomeado pelos americanos de overparenting. São pais neuróticos que se preocupam com tudo e, por conta disso, resolvem tudo para os filhos. Desde coisas práticas do dia a dia, como atividades da escola - ou ainda faculdade - até conflitos mais complexos como um desentendimento com um amigo ou algo que desestabilize a felicidade daquele filho, mesmo que só momentaneamente.
Na contramão, temos os pais ausentes. Aqueles que delegam toda educação dos filhos para a escola, a babá, o motorista, os avós, enfim, quem estiver por perto e se "voluntariar". Não sabem de nada, não se interessam por nada, não sentam no chão para brincar, só escolhem lugares para ir que tenha monitores assim não precisam nem lembrar que os filhos existem. Ah e isso não acontece porque eles trabalham enlouquecidamente não. Muitos estão dentro de casa e mesmo assim terceirizam total.
Essa falta de supervisão e orientação é um modo de criação nocivo, já que expõe crianças e adolescentes a diversos problemas relacionados à saúde mental -- o que também acaba impactando na vida adulta. Igualmente pais controladores provocam na vida dos filhos. A intervenção intensa e obsessiva resulta em jovens e adultos, por vezes, fragilizados ou despreparados para as demandas mais básicas.
Mas o que será que é melhor ou pior quando a gente fala de educação e formação de filhos? Será que não existe um caminho do meio? Estudos dão pistas para que as relações pais e filhos sejam mais equilibradas e saudáveis.
O que dizem as pesquisas Um estudo publicado recentemente na Scientific Reports revelou que filhos de pais superprotetores ou autoritários tendem a ter uma expectativa de vida reduzida. A pesquisa, realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em colaboração com a University College London, no Reino Unido, e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), investigou informações referentes a 941 óbitos (445 mulheres e 496 homens).
Antes de falecer, os voluntários responderam a um questionário sobre sua estrutura familiar, bem como as condições financeiras, de saúde, entre outras questões relevantes. Os resultados mostraram que homens que tiveram um pai superprotetor na infância tinham 12% mais risco de morte, antes dos 80 anos.
Para as mulheres, a taxa de risco aumentou para 22%. Em contraste, mulheres que receberam um alto nível de cuidado da mãe durante a infância e adolescência tinham 14% menos risco de morte prematura, em comparação com aquelas negligenciadas.
Como mencionado anteriormente, o overparenting impede que os filhos experimentem falhas e frustrações naturais da vida, o que inadvertidamente pode prejudicar o seu crescimento emocional e social. Por isso, existe uma necessidade urgente de equilibrar o cuidado e liberdade para que as crianças tenham um desenvolvimento saudável.
Um estudo publicado pela revista norte-americana TIME, revela que o esse excesso de controle pode limitar a autonomia e a capacidade de resolução de problemas das crianças, tornando-as menos preparadas na vida adulta. Em contrapartida, a falta de supervisão e orientação pode tornar essas crianças vulneráveis a riscos e dificuldades emocionais como depressão, ansiedade, transtornos, entre outras.
No entanto, o artigo "Is neurotic parenting worse than bad parenting?" da The Economist enfatiza as consequências desastrosas do estilo de parentalidade neurótica, onde os pais, movidos pela ansiedade e medo de falhar, tendem a superproteger e controlar excessivamente os filhos.
Na verdade, a ideia central é que o neuroticismo parental pode ser tão ou até mais prejudicial do que a má parentalidade, pois a constante preocupação e o controle podem impedir que as crianças desenvolvam resiliência, autonomia e habilidades para lidar com frustrações.
Ainda segundo o artigo, a parentalidade "boa o suficiente" é possível, tanto que o conceito introduzido pelo pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott pode ser muito mais benéfico tanto para os pais como para os filhos.
Equilibrar é urgente Pautas em torno da criação dos filhos são antigas e recorrentes. Para se ter uma ideia, a super parentalidade ganhou força na década de 90, quando os pais extremamente controladores, instalavam webcams em dormitórios universitários e pressionavam para que os filhos estudassem matérias complexas, desde cedo.
Segundo a TIME, a tendência de uma paternidade mais tranquila está, de fato, ganhando força nos últimos anos. A ideia é que as crianças, de modo geral, tenham um desenvolvimento saudável e autônomo para explorarem e aprenderem por conta própria a resolver suas questões.
No entanto, é fundamental reconhecer que apesar de complexa, a parentalidade precisa ser adaptativa e sensível às necessidades individuais de cada criança. Embora seja natural que os pais se preocupem com o bem-estar de seus filhos, é igualmente importante, dar espaço para a exploração, aprendizado independente e autorreflexão.
Em última análise, a chave para um equilíbrio saudável reside na promoção de um ambiente onde os filhos consigam desenvolver habilidades de enfrentamento, autoconfiança e aprendam a ter autonomia, contando sempre com o suporte e a orientação necessários dos pais. Sem mais, nem menos.
Encontrar o ponto ideal entre proteção e liberdade será sempre um desafio constante, mas essencial para o florescimento psicológico e integral das novas gerações.
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