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Comportamento Adolescente e Educação

Sextortion: adolescentes são maiores vítimas da prática de extorsão sexual na internet

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Foto do author Carolina  Delboni

Com o advento da internet e o acesso cada vez mais precoce a dispositivos conectados, adolescentes enfrentam desafios que vão além do uso saudável da tecnologia. Sextortion, extorsão sexual online, é um deles. Entenda os perigos e saiba o que dizem especialistas

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Recentemente, a BBC News inglesa divulgou o caso de um garoto de 16 anos que estava sofrendo ameaças depois de se negar a continuar dando dinheiro a um homem que possuía fotos suas nu. O homem, um pedófilo tailandês, se passou por uma menina para atrair o adolescente pelas redes sociais. O garoto começou a trocar nudes com a suposta menina, até que descobriu se tratar de um adulto. Para não ter as fotos vazadas na internet, passou a pagar para o extorsor. Os pagamentos, depois as ameaças seguiram por meses até que o adolescente não suportou a pressão, o medo e a vergonha e tirou a própria vida.

O caso, que parece extremo, não é. Adolescentes entre 12 e 18 anos são as maiores vítimas de sextortion, extorsão sexual online. Sem falar na exposição precoce à pornografia que também está entre os maiores riscos que os jovens enfrentam no ambiente digital. Além de afetar sua saúde mental, esses problemas afetam seu bem-estar social e emocional.

O sextortion é uma forma de chantagem em que criminosos ameaçam divulgar imagens íntimas das vítimas para exigir dinheiro ou mais conteúdos explícitos. Relatórios indicam que o número de casos cresce de forma alarmante, especialmente entre jovens de 12 a 18 anos, sendo as plataformas digitais, como redes sociais e aplicativos de mensagens, os principais ambientes em que os crimes ocorrem. A facilidade de acesso à tecnologia, combinada com a falta de supervisão adequada, cria um cenário preocupante.

O acesso precoce à pornografia é outra questão urgente, uma vez que contribui para a distorção de conceitos sobre sexualidade e desensibilização em relação à violência sexual. Estudos indicam que muitos adolescentes começam a acessar esse tipo de conteúdo ainda na infância, o que pode normalizar comportamentos abusivos e criar percepções prejudiciais sobre relações interpessoais.

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Para Sheilly Caleffi, educadora e ativista pelo fim da violência sexual, o sextortion tem se tornado cada vez mais habitual. "A frequência alta é um crime bastante comum que aumentou de forma assustadora nos últimos anos, especialmente contra meninos. Sempre foi muito comum contra meninas, onde buscam imagens cada vez piores. No caso dos meninos, o foco é financeiro: pedem dinheiro para não revelar as fotos. Os criminosos estudam engenharia social, sabem como a mente funciona e, ao darem atenção e elogios, conquistam rapidamente a confiança das vítimas," explica.

A confiança é conquistada de forma calculada, utilizando perfis falsos ou até mesmo pessoas conhecidas da vítima. "É muito fácil se tornar confiável para uma criança ou adolescente. Em uma conversa com uma mãe, cuja filha foi vítima de um namorado virtual, ele se apresentou como uma pessoa real, mas, depois de conquistar a confiança dela, começou a extorqui-la por mais imagens, inclusive envolvendo outros membros da família menores de idade," relata Sheilly.

Adolescentes entre 12 e 18 anos são as maiores vítimas de extorsão sexual na internet.  

Mudanças no comportamento: sinais de alerta Os pais e responsáveis têm um papel fundamental na identificação de possíveis sinais de assédio online. Antes de perceberem que estão sendo manipulados, os jovens costumam demonstrar entusiasmo incomum com o uso do celular.

"Adolescentes que sofrem assédio geralmente mostram maior entusiasmo com o telefone, passam mais tempo online e parecem animados. Contudo, quando a extorsão começa, o comportamento muda para ansiedade, irritabilidade, alterações no sono e na alimentação, ou até o abandono de atividades antes preferidas," aponta a educadora. Quando pressionados por criminosos, muitos jovens entram em um estado de desespero extremo, que pode levar a consequências graves.

"A pressão é tão grande que alguns jovens chegam a tirar a própria vida. O criminoso quer conseguir as fotos ou o dinheiro rapidamente e não se importa com o ser humano por trás disso. Eles seguem roteiros bem estruturados, pressionando as vítimas até o limite," alerta Sheilly.

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A responsabilidade das plataformas digitais As redes sociais, que deveriam ser espaços de conexão e entretenimento, muitas vezes acabam facilitando o acesso de criminosos às vítimas. Sheilly critica a falta de ações efetivas por parte dessas empresas. "As plataformas foram criadas para adultos e tentam ser adaptadas para crianças, mas isso não tem dado certo. Redes sociais como Instagram e TikTok permitem contas de crianças mesmo tendo tecnologia para barrá-las. Além disso, deveriam facilitar a denúncia de comportamentos suspeitos e implementar medidas educativas, como avisos sobre os riscos presentes no ambiente digital."

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Um caso emblemático ilustra essa questão. "Um homem em Maricá, no Rio de Janeiro, criou um perfil falso no Instagram, se passando por menina, e postou fotos de outras crianças da comunidade. Levou um ano e três meses para que a plataforma removesse o perfil, mesmo após denúncias dos pais e a prisão do criminoso. Isso mostra o quanto estamos desprotegidos," relata Sheilly.

Culpar a vítima só piora o problema A culpabilização da vítima é outro fator que dificulta o enfrentamento do problema. Para Sheilly, essa prática apenas isola ainda mais os jovens. "Adolescentes mandam nudes, assim como adultos. O problema não está nisso, mas no comportamento criminoso de quem recebe essas imagens. Se a sociedade continuar culpando as vítimas, elas não buscarão ajuda e ficarão ainda mais vulneráveis," ressalta.

"Os jovens precisam saber que podem contar com os pais sem medo de punição. É essencial levar os casos à polícia, reunir evidências e nunca continuar a conversa com o criminoso. Apoio terapêutico também é crucial, mas ainda temos poucos profissionais preparados para lidar com esses casos," aponta Sheilly.

Garantir a segurança dos adolescentes na internet requer esforços coletivos. Pais e responsáveis precisam se envolver ativamente, estabelecendo conversas abertas sobre os perigos online.

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Ao mesmo tempo, é essencial pressionar plataformas digitais a adotar medidas mais rigorosas de proteção. "Não podemos entregar algo tão perigoso sem preparar as crianças para lidar com ele," conclui Sheilly. "Proteger nossos jovens é uma questão de direitos humanos e de responsabilidade coletiva. Se não falamos com eles sobre os riscos, outra pessoa estará falando," finaliza.

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