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Comportamento Adolescente e Educação

Você deixa seu filho fazer xixi no matinho do parque?

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Foto do author Carolina  Delboni
Atualização:

Viver em sociedade significa conviver com uma série de regras e normas que nem sempre agradam a todos. O que é permitido e o que não é? Qual o limite entre conveniência pessoal e regra coletiva? Se uma criança pode fazer xixi na grama, um adulto também pode? Entenda.

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- Mãe, eu quero fazer xixi - Hum... mas aqui não tem banheiro, vai precisar esperar um pouquinho - Não consigo esperar, tá saindo, tá saindo, mãe vai sair, eu preciso fazer xixi, mãe, mãe - calma, calma, vem aqui, vamos achar um cantinho escondido e você faz, calma, pronto, viu, pode fazer o xixi que não tem ninguém olhando (imagina, ninguém, só metade das pessoas que estão passando por ali).

Mas fique tranquilo, se não tem "ninguém olhando" qual é mesmo o problema de uma criança pequena fazer xixi ali no matinho, não é?

 Foto: Estadão

Não, não é. Felizmente, não é. Xixis em lugares públicos, onde não existam banheiros públicos, ao ar livre, ao deus dará, é sim um problema e desde quando se é pequeno. A gente devia saber que alguns combinados sociais valem para qualquer faixa etária da humanidade. Criança, adulto ou idoso, a regra não muda.

Ou você acha bonito aquele cara que desce no meio do congestionamento da Imigrantes pra fazer xixi no canteiro da estrada? Agora me diga o que você acharia de um idoso fazendo xixi ali no cantinho do parque, onde "ninguém está vendo"? Isto, o mesmo cantinho que você levaria seu filho que está apertado.

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Um idoso já aprendeu a ter controle do próprio corpo, sabe identificar os sinais de uma bexiga cheia, por exemplo, mas por outro lado, tem escapes de urina, tem incontinência. Tem outras doenças que incapacitam a percepção e o controle, mas como saber para não julgar a cena?

Cena esta que certamente causaria estranhamento, muitas vezes causaria até nojo e revolta. Como assim aquele idoso está fazendo xixi no meio do parque? Tem criança aqui, isso é um lugar publico, será que ele não sabe que existe banheiro?

Frases típicas que passariam pela cabeça da grande maioria. Agora a gente não vê problema se for uma criança. Por quê?

Existe uma necessidade fisiológica de fazer xixi, mas não é desta que se trata este texto. Uma criança que tem a oportunidade e a possibilidade de conhecer o próprio corpo, vai aprender a controlar suas vontades e, portanto, vai aprender a controlar o xixi. É assim que elas conseguem tirar a fralda, por exemplo.

Agora, por que eu permito um afrouxamento deste controle em algumas situações? E mais, por que eu permito apenas aos meninos que façam xixi em gramas, praças, parques, ruas e estradas?

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E se trocássemos os "personagens" destas cenas pelo sexo feminino. Se fossem meninas e mulheres. Primeiro: você levaria sua filha no cantinho do parque para fazer xixi? Abaixaria a calcinha dela ali, onde "não tem ninguém olhando"? E o que te causaria ver uma mulher adulta, abaixando a calcinha e fazendo xixi no canteiro central da Imigrantes? Vamos lá, pense por alguns instantes sozinho. Tenho certeza de que você chegará numa resposta sensata.

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Convenções sociais são criadas e normatizadas a partir de uma repetição. São regras, aceites e normas construídas pelos próprios indivíduos em sociedade. Elas não estão escritas em lugar algum, mas estão aí, vivas em nosso cotidiano e uma delas é essa do "xixi no matinho".

Agora veja como elas podem se desdobrar em tantos outros atos. Praia, verão,, barracas quase que coladas, aquele calor humano que você é capaz de sentir as gotículas do vizinho, piscina de plástico para as crianças brincarem, milho, sorvete e água de coco. O dia segue nesse ritmo até umas quatro da tarde, quando as crianças já estão arriando, os adultos precisam levantar acampamento.

Na entrada do condomínio, já passando o portão, um chuveirão. A mãe sai da praia com os filhos pequenos e para ali para lavar baldinhos e a piscina inflável. Na sequência, coloca a filha de 3 anos na banheira, saca o shampoo Chega de Lágrima da bolsa e começa a dar banho na menina ali. No chuveiro coletivo do condomínio.

É uma urgência que ela não pode caminhar 200mts até sua casa? Não, é provavelmente uma conveniência. Ela lava o cabelo, desembaraça o cabelo, penteia o cabelo, joga aquele cabelinho loiro e fino que sobrou no pente no ralo e termina lançando um olhar simpático a quem passa pelo portão. Afinal que mal tem de lavar aquele cabelinho loiro e fino no chuveiro coletivo do condomínio? Você não sacaria seu Seda da bolsa e tomaria um banhão ali mesmo?

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Por que a gente permite que crianças façam coisas que adultos não estão autorizados a fazer? Melhor, por que a gente faz com crianças coisas que "é feio" adulto fazer? Por que a infância tem essa permissividade de quebra de combinados sociais que implicam, em alguns casos, na permanência deles na vida adulta?

Como mãe de três meninos eu me questiono. Como pedagoga e educadora eu me questiono. Como cidadã eu me questiono. E você, já se fez essa pergunta?

Ensinar dá trabalho. Educar dá trabalho. Cansa, dá vontade de arriar e correr para o matinho mais próximo muitas e muitas vezes. Mas aprender a perceber os sinais do próprio corpo, aprender a controlar vontades, a entender que existem limites entre o que eu quero e o que eu posso, são tão mais tão importantes que deveriam valer o esforço descomunal que é ensinar e educar.

Tem dia que a gente cansa, tem dia que a gente se permite o "faz aqui que ninguém está vendo", mas será? Será? Parece pequeno o xixi da criança na grama do parque. Parece pequeno o banho da menina no chuveiro do condomínio, mas olhando para a gente como sociedade e como cidadãos, é muito.

Educar dá trabalho. Educar não é fácil. Mas educar para o coletivo é o mínimo.

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