MILÃO - Imagine a felicidade que chega junto com o abraço de um amigo. Pois é essa sensação que o designer espanhol Christián Mohaded quer ver reproduzida nos olhos de alguém que, após um dia exaustivo de trabalho, ao pisar em casa se deparasse com o Big George, seu mais novo sofá, desenvolvido para a Moooi holandesa. “A simples visão do móvel, com sua aparência sedutora e envolvente, já levanta o seu astral e se torna uma fonte de felicidade real, palpável”, afirma ele.
Ao romper com as formas tradicionais reservadas a móveis da sua categoria, Big George cativa ao primeiro olhar. Rechonchudo e elegante, não passaria despercebido em nenhum ambiente - e, ainda assim, coloca o conforto em primeiro lugar. “Acredito que essa busca por condições ampliadas de bem-estar hoje é universal. E, nesse sentido, diria que George te oferece real apoio, quando você mais precisa”, diz Mohaded.
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Com pegada parecida, Bob, um dos ícones da dinamarquesa Blå Station, é um sofá modular projetado em 2017 e de formato nada convencional, que funciona como uma espécie de ramificação. De volta a Milão em uma nova versão, da dupla Thomas Bernstrand e Stefan Borselius e batizado de Bob Split, tem como proposta aumentar, ao máximo, o conforto e a versatilidade do móvel, sem que o usuário tenha, por exemplo, a necessidade de optar por um dos lados do sofá.
Desejo pelo essencial
Superada a euforia pós-pandemia, quando para uma ampla parcela de consumidores parecia bem mais importante viver experiências fora de casa para superar o período de confinamento, hoje começamos a ver a volta do interesse pela vida doméstica no que ela tem de mais afetivo e essencial. Mais do que a beleza abstrata relacionada a uma ideia, objetos mais eficientes e significativos ganham espaço. E, nesse sentido, a Semana de Design de Milão, a maior vitrine mundial do segmento, funciona como um termômetro dos mais confiáveis.
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Nos projetos apresentados no evento nota-se a clara intenção de se estabelecer uma relação sem intermediários entre o móvel e seus usuários. Ao lado do conforto, a tactilidade e a cor ocupam o centro das atenções dos designers no projeto de sofás, cadeiras e poltronas. Além de formatos mais generosos, eles ganham detalhes como costuras e bordados. Já no desenho de mesas e armários, a leveza surge como fator preponderante, assim como o contraste entre os materiais.
Caracterizada por uma forte referência aos anos 70, a coleção Dudet, de Patrícia Urquiola para a Cassina, este ano ganhou um novo membro, além de seus sofás de dois e três lugares: uma cadeira com três elementos acolchoados – uma grande almofada de assento e dois tubos sinuosos – que, em linha contínua, criam pernas, apoios de braços e encosto. Para completar, seu forro também pode ser retirado, graças a um zíper, disponível nas cores cinza e preto, que percorre o arco interno das pernas.
Visto como fator distintivo da qualidade de um produto, o artesanal e o feito à mão ganham impulso e relevância, principalmente entre as marcas de luxo. “As coisas feitas à mão sabem falar ao coração”, afirma a chinesa Jiang Qiong Er, que desenvolveu o sofá Bamboo Mood para a Roche Bobois francesa. O móvel explora a fluidez de suas linhas e evoca hastes de bambu, cortadas e justapostas. “E, é claro, existe o fator hereditariedade. O bambu tem um grande valor simbólico na cultura chinesa”, diz ela.
Reedições ganham espaço
Menos afeitos à reinvenção da roda e mais inclinados a aproximar suas criações de uma fatia maior de público, é cada vez maior o número de marcas e designers que investem na reedição de projetos.
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Na Kartell, a gigante dos plásticos italiana, por exemplo, foram três os relançamentos: o sofá Plastics e o pufe Trix, de Piero Lissoni, e a poltrona Cara, de Philippe Starck. “Eles se transformaram por completo. E nem é só visualmente. A partir da utilização dos tecidos Liberty, em uma versão especialmente concebida para espaços externos, eles não precisam mais ficar confinados dentro de casa. Com dois padrões geométricos e um floral, esses tecidos conferiram uma nova dimensão estética e funcional aos produtos, garantindo uma resistência e uma durabilidade impensáveis à época em que eles foram projetados”, explica Lorenza Luti, diretora de Marketing da marca.
Os 20 anos de lançamento da célebre coleção Ghost (Fantasma), de poltronas, sofás, cadeiras e cama da Gervasoni também receberam comemoração à altura. A coleção clássica, assinada por Paola Navone, parte da ideia de uma estrutura leve, revestida com uma cobertura generosa e removível. Em sua nova versão, o conceito permanece, mas a cadeira Ghost ganha revestimento acolchoado, que percorre todo o assento, realçando sua estrutura. Já a nova versão do sofá inclui módulos, com o seu clássico encosto curvilíneo.
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Em um ano cheio de comemorações, a B&B Italia também resolveu revisitar o seu passado, com o lançamento da coleção de móveis para área externa Soft Cage. Inspirada em um projeto de 1975 de Mario Bellini, designer histórico cuja visão vanguardista abriu novos horizontes para a utilização do rattan na indústria do mobiliário, o conceito reinterpretado pela marca preserva a magia do rattan artesanal ao combiná-lo com a estética contemporânea.
Outra peça reeditada neste ano pela B&B foi a poltrona Bambola, da icônica coleção Le Bambole, desenhada também por Bellini, em 1972. A nova versão, desta vez para áreas externas, mantém as curvas suaves e formas acolhedoras que tornaram o design original um clássico. Porém, materiais recicláveis resistentes e de alto desempenho garantiram à peça um enfoque mais sustentável, fator indispensável a qualquer móvel digno de respeito nos nossos dias.
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