Todo cuidado é pouco com esses bichinhos que trabalham em silêncio e, na maioria das vezes, muito bem escondidos. Por trás das paredes, no jardim, em fundos de armários ou voando ao redor de lâmpadas no entardecer, os cupins são visitantes que podem causar preocupação em muitas casas. Como eles vivem esses insetos e o que fazer para mantê-los longe de sua casa?
Assim como as abelhas e as formigas, cupins são insetos muito organizados, que vivem em uma sociedade. “Muitas vezes, formada por milhares de indivíduos", explica professora Ana Maria Costa Leonardo, do Departamento de Biologia Geral e Aplicada, do Instituto de Biociências, da UNESP.
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Uma das primeiras coisas que se deve prestar atenção é que, com a chegada da temporada de chuvas, desde o início da primavera, também começa o período de revoada desses animais. “Quase sempre após uma chuva, emergem dos cupinzeiros, reprodutores alados machos e fêmeas (conhecidos como siriris ou aleluias), que formam casais, que serão os futuros reis e rainhas dos novos cupinzeiros“, conta a professora.
Muitas vezes, por ignorância, esses insetos não são reconhecidos como cupins, podendo ser confundidos com formigas ou outros insetos alados. E, por causa disso, o “inimigo” acaba invadindo nossas casas, podendo criar situações bem complicadas no futuro, além de um prejuízo, muitas vezes, muito maior que o valor de uma descupinização.
“Uma medida preventiva de controle é a exclusão destes reprodutores alados com telas em janelas e portas das residências. A utilização de madeira tratada é um outro cuidado preventivo que também pode ser utilizado", pontua Ana Maria.
Confira abaixo algumas perguntas importantes sobre esses insetos e como proteger sua casa deles.
O que são os cupins e como vivem?
Os cupins são insetos sociais que vivem em colônias organizadas por castas: operários, soldados e reprodutores, sendo as duas primeiras estéreis. Cada casta desempenha funções específicas:
- Operários: responsáveis por construir e manter o ninho;
- Soldados: protegem a colônia contra predadores e;
- Reprodutores: representados pelo rei, pela rainha e pelos alados – conhecidos como “siriris” ou “aleluias” – que surgem durante a revoada para formar novas colônias.
De acordo com Ana Maria, os cupins são comumente vistos como pragas por conta da destruição que podem causar em uma residência. “Você não precisa se proteger dos cupins, pois eles não afetam as pessoas, mas deve proteger sua casa", diz. Apesar de sua má reputação, esses bichinhos têm um papel ecológico essencial em ambientes naturais, decompondo matéria vegetal e reciclando nutrientes no solo.
Quais os tipos de cupins podem ser encontrados em nossas casas?
Os cupins “pragas”, esses que a gente encontra em casa, podem variar de acordo com o tipo de nidificação, ou seja, onde eles põem seu ovos. Sendo assim, eles se dividem em cupins de madeira seca, subterrâneos e arborícolas. O primeiro é encontrado em madeira, o segundo vive debaixo da terra e o terceiro faz seus ninhos em árvores.
Como os cupins entram nas casas das pessoas?
Uma das principais formas é quando os animais entram voando, caso dos reprodutores alados. É bem comum com a chegada das chuvas e pode ser o início de uma dor de cabeça.
“O cupins subterrâneos ou ‘cupins de solo’ também entram procurando comida (material celulósico) seguindo a fiação ou seguindo a tubulação. Já árvores urbanas podem funcionar como reservatórios desses cupins. A espécie invasora (exótica) Coptotermes gestroi é a principal praga urbana da região Sudeste", diz a professora doutora.
Como proteger sua casa contra os cupins?
Inicialmente, é importante saber que, apesar dos danos ao patrimônio que esses insetos podem causar, eles são inofensivos à saúde dos seres humanos. “Você não precisa se proteger dos cupins, pois eles não afetam as pessoas", comenta a pesquisadora, que também alerta para o fato de que “a correta identificação do cupim praga é primordial para um bom controle".
A boa notícia é que, embora os cupins possam ser uma ameaça aos móveis e estruturas de madeira, existem medidas preventivas eficazes para evitar gastos com a substituição desses itens. O momento mais comum para as revoadas é o finalzinho da tarde e início da noite. “Como eles são animais atraídos pela luz, com fototropismo positivo, o que ajuda é apagar as luzes ao observar a chegada deles”, comenta Juliana Cavalcanti, diretora executiva da Controlar, empresa carioca especializada no controle de pragas urbanas. “Eles se dispersam naturalmente, então deixar [as lâmpadas] apagadas por um tempo é um modo seguro, outro é o uso de telas para evitar que eles entrem em casa”, continua a profissional.
E se, em vez das revoadas, você estiver vendo as bolinhas de madeira pelo chão, sua casa já tem uma colônia. Juliana explica que essas bolinhas são as fezes desses animais, que só se alimentam de celulose. “Aquilo já indica uma infestação há um tempo no imóvel”, diz. Ela ainda alerta que, em alguns casos, os cupins podem atacar silenciosamente e o proprietário só se dá conta da presença deles quando percebem uma porta ou rodapé oco. “Nesses casos, o único jeito é a contratação de uma empresa profissional”, pontua.
Para evitar a entrada deles na sua casa, siga as dicas abaixo:
- Use madeira tratada: especialmente em móveis e estruturas internas;
- Evite enterrar sobras de madeira ou papelão: restos de obras podem atrair cupins subterrâneos;
- Aplique barreiras químicas: embora não sejam permanentes, inseticidas específicos podem dificultar o acesso dos cupins ao imóvel;
- Feche as janelas durante a revoada: isso evita que os cupins alados entrem em busca de um novo lar. Os cupins alados são reprodutores machos e fêmeas, que se encontram nas luzes, formam casais e iniciam um novo ninho ou colônia.
“O método mais usual no controle de cupins em áreas urbanas é o curativo, com o uso de inseticidas químicos. Contudo, para controle de cupins subterrâneos existem iscas com ingredientes análogos ao hormônio juvenil que matam os cupins de maneira lenta, quando vão crescer", comenta a pesquisadora.
Uma vez livre dos insetos, é necessário permanecer atento para evitar que eles voltem, principalmente, evitando as revoadas. “Um monitoramento contínuo é muito importante em infestações após tratamento de controle", aponta Ana Maria.
Sim, é possível eliminar cupins pragas em áreas urbanas, mas também podem ocorrer casos de reinfestações.
Quando é hora de procurar ajuda profissional?
Juliana também explica que cupins são uma praga difícil de controlar e que precisam de muita atenção. Para quem quer evitar que eles infestem a casa, é possível também chamar uma empresa especializada para fazer uma prevenção. Antes de tudo, é importante verificar se a empresa é registrada e licenciada para usar os produtos químicos e se há um técnico licenciado. “Como esses produtos podem ser tóxicos para pessoas e animais de estimação, é necessário ter a licença”, explica Juliana.
O outro momento é quando já há uma infestação. Ao chamar um profissional, ele vai identificar qual espécie está causando o estrago, além de observar o que foi invadido na casa. A partir daí, dirá quais os procedimentos. “Quando perceber as fezes ou olhar um caminho de cupim, móveis e rodapés ocos, esse é o momento de buscar um profissional”, afirma.
Os tratamentos são seguros para as famílias?
Hoje, há uma busca crescente por métodos de controle que sejam seguros para humanos e tenham baixo impacto ambiental na hora de controlar pragas. “O grande avanço das áreas urbanas sobre florestadas agrava o problema do impacto ambiental“, explica a pesquisadora. “Devido à conscientização de preservação ambiental e intoxicação dos humanos, busca-se globalmente alternativas de inseticidas naturais, que não contaminem o lençol freático, mostrem ausência de toxicidade e que tenham viabilidade econômica”, continua.
Em razão de sua importância econômica, o controle de cupins pelos humanos varia desde o uso de inseticidas convencionais até o emprego de receitas caseiras, como óleo queimado e produtos de limpeza.
Empresas especializadas costumam utilizar produtos modernos e que, por isso, apresentam menor toxicidade. “As famílias devem contactar empresas controladoras de pragas idôneas que são preocupadas com segurança e baixo impacto ambiental e que informem ao cliente o produto e concentrações usadas no tratamento”, alerta Ana Maria.
De acordo com a pesquisadora, dessa forma, a qualidade de um serviço de controle não deve ser avaliada pela quantidade de produto empregado no tratamento, e sim por uma série de medidas, como um acompanhamento técnico minucioso e garantia de serviço, que inclui a vida média do produto aplicado.
Eliminar cupins pode causar desequilíbrios ecológicos?
É conhecido que um ecossistema sadio deve manter todas as espécies de organismos para a manutenção da biodiversidade e homeostase ambiental. Apesar de serem mais conhecidos como pragas, em ambientes naturais, como florestas, os cupins são muito importantes do ponto de vista ecológico, pois atuam como decompositores de material vegetal contribuindo para a reciclagem de nutrientes. “Muitos cupins encontrados em jardins e quintais são benéficos ao solo e não oferecem risco as residências", finaliza a estudiosa.
Soluções caseiras resolvem problemas com cupins?
Algumas soluções caseiras como usar uma bacia de água durante as revoadas ou “tratar” a madeira com óleo queimado não resolvem problemas com cupins, diz Juliana. “Colocar bacia de água não tem nenhuma eficiência contra cupim. O que ajuda é uma madeira envernizada pois quanto tem verniz, ele vai dar preferênfcia a uma madeira crua, além disso, um cuidado maior com móveis também tende a afastar o inseto”, continua a profissional.
Juliana ainda alerta que, como se alimentam de celulose, que está na madeira, mas também pode ser encontrada no papel e alguns tecidos, é importante observar esses elementos na casa, a fim de se adiantar caso haja colônias próximas. “Às vezes um cupim chega a um local por caixa de papelão”, diz. “Cupim também gosta muito de umidade, então se tem um vazamento e madeira, isso aumenta e muito a chance de infestação”, alerta Juliana.
Convivendo com cupins ou lidando com eles como pragas, o mais importante é entender seu papel na natureza e agir de forma responsável para proteger sua casa. Além disso, é necessário entender que com medidas preventivas e o suporte de profissionais qualificados, é possível manter o equilíbrio entre segurança e sustentabilidade.
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