As plantas viraram aliadas da decoração e, para muitos, também da saúde. Mas o que a ciência realmente diz sobre elas purificarem o ar?
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Segundo o professor Marcos Buckeridge, vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), praticamente todas as plantas trazem benefícios em ambientes internos. “Elas produzem oxigênio, absorvem gás carbônico e liberam vapor de água, ajudando na umidificação do ar, especialmente no inverno”, afirma.
No entanto, ele alerta que algumas espécies podem ser tóxicas para humanos e animais, e exigem cuidado redobrado com o local de cultivo.

Como as plantas purificam o ar?
As folhas e caules das plantas têm estruturas que ajudam a reter partículas microscópicas — chamadas de materiais particulados — que carregam substâncias poluentes. Essas partículas podem ser inaladas e chegar até os pulmões.
“Nas cidades, árvores, parques e florestas atuam como filtros naturais. Nas ruas, as árvores ajudam a capturar os poluentes gerados pelo trânsito, retendo-os nas folhas e cascas”, explica o professor. Em ambientes internos, embora a escala seja menor, o princípio é o mesmo.
Quais são as plantas mais recomendadas para dentro de casa?
Um dos levantamentos mais conhecidos sobre o tema foi conduzido pelo cientista B.C. Wolverton, que liderou estudos com plantas em ambientes fechados, inicialmente a serviço da NASA. Em seu livro How to Grow Fresh Air, ele avaliou 50 espécies de plantas domésticas com base em critérios como facilidade de cultivo, resistência a pragas, taxa de transpiração e eficiência na remoção de poluentes químicos do ar.
Cada planta recebeu uma pontuação geral e, nos casos de empate, a prioridade foi dada àquelas com melhor desempenho na filtragem de compostos tóxicos. Abaixo, listamos 10 das mais bem avaliadas, todas facilmente encontradas no Brasil, com seus benefícios e cuidados essenciais:
Palmeira-areca (Chrysalidocarpus lutescens)
- Libera grande quantidade de umidade no ar e ajuda a remover vapores químicos.
- Cuidados: precisa de luz indireta abundante e regas frequentes, sem encharcar.
Palmeira-ráfis (Rhapis excelsa)
- É resistente, fácil de cuidar e eficaz na filtragem de poluentes do ar.
- Cuidados: vai bem com luz indireta e solo sempre levemente úmido.
Palmeira-bambu (Chamaedorea seifrizii)

- Remove benzeno, formaldeído e tricloroetileno; também atua como umidificadora natural.
- Cuidados: gosta de luz filtrada e regas moderadas, sem deixar o solo secar demais.
Figueira robusta (Ficus robusta)

- Conhecida por sua eficácia na remoção de formaldeído, tolera locais menos iluminados.
- Cuidados: evitar sol direto e excesso de água; regar apenas quando o solo estiver seco.
Dracena ‘Janet Craig (Dracaena deremensis)
- Boa para locais com pouca luz, remove tricloroetileno e exige poucos cuidados.
- Cuidados: regas espaçadas e luz indireta são suficientes para mantê-la saudável.
Hera-inglesa (Hedera helix)
- Ajuda a remover formaldeído e outras toxinas, além de ser decorativa.
- Cuidados: prefere ambientes frescos, úmidos e com luz difusa; regas regulares.
Tamareira-anã (Phoenix roebelenii)

- Removem xileno do ar e são bastante resistentes.
- Cuidados: vai bem com luz moderada e solo seco ao toque antes de regar.
Figueira Alii (Ficus macleilandii)
- Tem boa resistência a insetos e ajuda na filtragem de poluentes.
- Cuidados: luz média e solo sempre levemente úmido.
Samambaia de Boston (Nephrolepis exaltata)
- Filtra formaldeído e contribui com umidade em ambientes secos.
- Cuidados: precisa de umidade constante, luz difusa e regas frequentes.
Lírio-da-paz (Spathiphyllum sp.)
- Remove diversos poluentes como álcool, acetona, benzeno e formaldeído.
- Cuidados: se adapta a locais com pouca luz e gosta de solo úmido, mas não encharcado.
Como manter a eficiência das plantas?
Para serem eficazes, as plantas precisam de cuidados básicos, como luz adequada, rega e adubação. “Existem espécies de sol, meia-sombra e sombra. É importante saber em qual categoria a planta se encaixa e colocá-la no local certo”, recomenda Buckeridge.
A frequência da rega também varia. Plantas com Metabolismo Ácido das Crassuláceas (MAC), como orquídeas, armazenam água nas folhas e absorvem CO₂ à noite. “Essas plantas precisam de menos água, e o excesso pode apodrecê-las”, afirma . Já espécies que não possuem esse metabolismo exigem regas mais frequentes.
Quais plantas são indicadas para cada cômodo?
A escolha da planta ideal também depende do ambiente da casa. “Salas costumam ser mais iluminadas, o que favorece plantas arbustivas e até árvores jovens”, diz o especialista. Já quartos, banheiros e escritórios pedem espécies de meia-sombra.
No entanto, ele faz um alerta sobre excesso de plantas em quartos pequenos. “Nós produzimos muito CO₂ durante o sono, e como as plantas também respiram, o crescimento delas pode ser prejudicado nesses ambientes.”
Outros benefícios das plantas
Além de melhorar a qualidade do ar, as plantas ajudam a reduzir a temperatura e aumentam o bem-estar nas cidades. “A Floresta da Cantareira, em São Paulo, por exemplo, libera um volume de vapor d’água equivalente a três rios Tietê sobre a cidade”, diz Buckeridge.
O impacto das plantas vai além do físico. “Ambientes com vegetação estão ligados à melhora do humor e da qualidade de vida”, afirma. “Como já dizia Vinicius de Moraes: ‘Beleza é fundamental’”.
Quais são as plantas perigosas?
Espécies como lírio, comigo-ninguém-pode, espada-de-São-Jorge e antúrio são tóxicas e devem ser mantidas fora do alcance de crianças e animais.
“O lírio é altamente tóxico para gatos. Se o animal não puder ser treinado para evitá-lo, o ideal é não ter essa planta em casa”, orienta o professor. A espada-de-São-Jorge também pode causar intoxicação em cães e gatos, ainda que em menor grau.
Outras plantas com potencial tóxico incluem jiboia, costela-de-adão, mamona e azaleia, embora o risco maior esteja no consumo em grandes quantidades. Já a comigo-ninguém-pode pode causar irritações apenas pelo toque, sendo desaconselhado em locais com grande circulação de pessoas.