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Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

Pesquisas científicas descobrem mais benefícios dos orgânicos para saúde 

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Por Juliana Carreiro
 

 

Consumo de orgânicos sobe no País, mas ainda é baixo e a saída passa pela informação 

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A ciência já comprovou que alimentos orgânicos e de base agroecológica são benéficos para a saúde humana e do meio ambiente. Mas apesar dos inúmeros benefícios, ainda é preciso aumentar a sua produção e o seu consumo no Brasil. Este desafio inspirou a criação da Rede Conexão Solo Vivo, que será lançada amanhã na capital paulista, idealizada por um grupo de instituições e entidades da sociedade civil, unidas pelo propósito de conscientizar a população sobre as vantagens de escolher esses alimentos.

 

O estudo: 'Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2023', realizado pelo Instituto Organis, revela que de cada 100 brasileiros, 45 consomem alimentos orgânicos, um aumento de 16% nos últimos dois anos, que se deve a uma maior conscientização a respeito dos benefícios destes produtos para a saúde e para o meio ambiente. E a cada pesquisa concluída descobre-se um novo motivo para investir neles. Porém, ainda é um percentual baixo que tem um grande potencial de crescimento.

  

A partir de hoje, o Comida de Verdade trará uma série de entrevistas sobre a produção de orgânicos e de alimentos de base agroecológica e sobre as diversas correntes relacionadas ao assunto, como: agroecologia, agricultura natural, agricultura sintrópica, agricultura regenerativa, agricultura biodinâmica, permacultura, entre outras. Serão abordados diferentes aspectos dos temas, desde saúde e meio ambiente até economia, educação e empreendedorismo. 

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Hoje, a entrevista será com a Pesquisadora dos Alimentos da Biodiversidade Brasileira, Presidente do Instituto VP, e nutricionista da CSA Brasil, Valéria Paschoal, que irá falar sobre a descoberta de mais benefícios do consumo de orgânicos e alimentos de base agroecológica para a saúde. 

 

1- Os benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde, vão além da ausência de agrotóxicos na sua composição?

V.P. 

"Com certeza. O estudo: 'Organic food and the impact on human health', (Comida orgânica e o impacto na saúde humana) publicado em 2019 pela Universidade de Barcelona - Espanha, elencou alguns benefícios dos orgânicos na nossa saúde, entre eles: melhora nas funções do intestino; nos sistemas imunológico e cognitivo; no sistema reprodutor, com aumento da fertilidade, melhora da qualidade do esperma e diminuição do risco de pré-eclâmpsia; melhora no metabolismo com diminuição do risco de diabetes tipo 2, de obesidade e de doenças cardíacas, entre outros".

 

- A que você atribui esses benefícios?

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V.P. 

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"Os orgânicos são ricos em compostos bioativos, substâncias que defendem as plantas de possíveis agressores, como doenças, insetos ou até a radiação ultravioleta. Eles não estão tão presentes nos alimentos convencionais porque estas funções já são desempenhadas pelos agrotóxicos. Entre estes compostos estão os compostos fenólicos, os carotenoides e os bioflavonoides como a quercetina, só pra citar alguns exemplos, e eles têm ações muito importantes pro nosso organismo: eles têm ação antioxidantes, anti-inflamatória, aumentam a capacidade do organismo eliminar toxinas, estimulam o sistema imune, auxiliam no equilíbrio do nível hormonal e auxiliam processos antivirais e antibacterianos. Os polifenois são alimentos das boas bactérias que determinam a saúde do organismo. Por isso é possível dizer que eles podem auxiliar na prevenção de certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e inflamatórias. 

 

-Nos últimos anos, um número cada vez maior de entidades, universidades e institutos vem realizando pesquisas com estes compostos, certo?

V.P.

É isso mesmo, este ano, cientistas da Universidade de São Paulo publicaram um estudo sobre a ação dos compostos fenólicos na preservação da integridade intestinal, concluíram que estas substâncias diminuem a multiplicação das más bactérias do intestino, que são prejudiciais ao órgão. A Revista Lancet publicou em 2019 um estudo com mais de 53 mil pessoas, que avaliou a associação entre o consumo de flavonoides (uma classe de compostos fenólicos) e a admissão hospitalar por aterosclerose, concluíram que 'comparado com uma ingestão de 175 mg/dia, uma ingestão de 1000 mg/dia foi associada a um risco 14% menor de aterosclerose. Considerando os subtipos de doenças: risco 9% menor de doença cardíaca isquêmica e 32% menor de doença arterial periférica'. 

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Um estudo, lançado pelo American Journal of Clinical Nutrition, em 2018, analisou outras 18 pesquisas sobre a relação entre o nosso organismo e os compostos fenólicos e revelou que: 'O consumo de flavonoides reduz em 12 vezes o risco de diabetes' e que: 'Um incremento de 600 mg/dia no consumo de ácidos fenólicos reduz em 34 vezes o risco de diabetes'. Também chegaram ao seguinte resultado: 'o incremento de 100 mg/dia no consumo de flavonoides totais reduz em 9 vezes o risco de acidente vascular encefálico'. Só pra citar alguns exemplos".

 

Gosto de citar também um estudo publicado em 2018 pela American Medical Association, que em português se intitula: "Associação da frequência de consumo de alimentos orgânicos com risco de câncer". Foram acompanhados quase 69 mil adultos franceses durante sete anos. Segundo os autores da pesquisa, quanto maior foi o consumo de orgânicos, menor foi o risco global de câncer, concluíram, portanto, que: 'promover o consumo de alimentos orgânicos na população em geral poderia ser uma promessa de estratégia preventiva contra o câncer'. 

 

-De que forma estes compostos atuam no nosso organismo? Por que nos trazem tantos benefícios?

V.P. 

Os flavonoides, por exemplo, atuam como prebióticos, eles aumentam a diversidade de boas bactérias no intestino, que precisam estar em maior número do que as más bactérias para que o intestino não seja prejudicado e consiga cumprir com suas funções, que são de extrema importância para todo funcionamento do organismo, eles também inibem o crescimento das más bactérias, evitando a disbiose. É importante ressaltar, que os alimentos só serão ricos em vitaminas, minerais e compostos bioativos, se forem cultivados em um solo rico, é dele que virão estes componentes. Nas grandes culturas, cultivadas ainda com agrotóxicos, o solo fica muito pobre e os agrotóxicos impedem que as plantas desenvolvam estes compostos que nos são tão necessários. Portanto, podemos dizer que a microbiota (variedade de bactérias, fungos e outros microrganismos unicelulares) do solo está totalmente relacionada com a microbiota do nosso intestino e quanto melhor for a sua qualidade, melhor estará a nossa saúde. Quando consumimos alimentos vivos, produzidos em um solo saudável, vivo, estamos ingerindo uma grande diversidade de compostos bioativos, principalmente do grupo dos polifenois, como os flavonoides. 

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-Quais são os alimentos com maiores índices de compostos fenólicos?

V.P.

A pesquisa 'Compostos bioativos e propriedades funcionais de espécies frutíferas cultivadas no Brasil', publicada este ano pelo Brazilian Journal of Health Review descobriu que em todas as regiões do País, há alimentos ricos em compostos fenólicos e, portanto, com uma alta capacidade antioxidante, vou citar apenas alguns: farinha de banana verde, castanha do Pará, fava, farinha de puba (de mandioca fermentada), pequi, azeite de dendê, jatobá, jaboticaba, goiaba, maracujá, graviola, muricy, butiá, baru, pitanga, açaí, óleo de babaçu, óleo de licuri, amêndoa de cacau (chocolate biodinâmico), inhame roxo, amendoim, araruta, jambu, ora pro nóbis, azedinha, umbu, pimenta rosa, manteiga de cupuaçu, xique xique, palma, até a folha da batata doce, que muita gente não sabe nem que é comestível".

 

-Com base em tudo o que vimos, como podemos melhorar a nossa alimentação?

V.P.

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"Nossa biodiversidade é muito rica, precisamos nos apropriar mais dos alimentos que temos aqui.  É importante ficar atento a qualidade do prato, a cor dos alimentos, procure valorizar os alimentos regionais, os alimentos da época, as PANC, plantas alimentícias não-convencionais e muitos alimentos que crescem naturalmente, não precisam nem ser cultivados, como o jatobá, o babaçu, o baru, o pequi, o butiá.." 

 

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