O conceito é americano, mas o Brasil já está aderindo ao novo estilo de vida em casal sem filho e com pet. Segundo o IBGE, o número de casais sem filhos passou de 12,9% para 19,9% do total das famílias. As famílias DINKWAD representam um novo padrão social, principalmente entre as famílias de maior poder aquisitivo.
Os números refletem uma maior diversidade nos arranjos familiares - entre eles uma das maiores tendências: casais sem filhos, mas com animais de estimação, os famosos "pais de pet".
De acordo com uma pesquisa da Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato da Indústria de produtos para Saúde Animal (Sindan), a Radar Pet aponta que em 2021 das famílias que possuem cachorros, 21% pertencem a casais sem filhos.
Eles sempre fizeram parte dos lares brasileiros, mas ao longo dos últimos anos - e com grande contribuição do período de pandemia, com aumento de 30% no número de pets nos lares - os animais de estimação foram sendo ainda mais integrados como parte das famílias.
Um levantamento publicado pela Consumer Affairs, plataforma de informações sobre mercado e consumidor, afirma que pessoas que nasceram entre os anos de 1981 a 1995, a geração dos millennials, representam a maior parcela de tutores de animais nos EUA, com 44%.
A grande maioria deles, 81%, admitiu amar seus animais de estimação mais do que um membro da família. 57% ama mais o seu pet do que seu irmão ou irmã, e metade, 50%, admitiu amar mais seu bichinho do que sua própria mãe. Para uma parcela dos entrevistados, até os parceiros românticos ficam em segundo lugar quando o assunto é o amor pelos bichinhos - 30% deles afirmaram que amam mais os seus animais do que seus companheiros.
Já quando o assunto são as crianças, 58% admitiu que prefere criar animais, como gatos ou cachorros, do que ter filhos. Para os donos de gatos especificamente, o índice é ainda maior, 63%.
A pesquisa foi realizada com 1.000 donos de animais de estimação de várias gerações. Entre os entrevistados, 20% eram da geração Z (nascidos de 1995 a 2010), 44% eram millennials, 20% eram da geração X (nascidos entre 1965 a 1981) e 16% eram baby boomers (nascidos no pós-guerra, entre 1946 a 1964).
Os gatos não ficam atrás. Apesar da sigla só mencionar cães, os gatos têm ganhado cada vez mais o coração humano. No Brasil, por exemplo, a população de pets felinos registrou maior crescimento entre 2020 e 2021, 6% - acima do aumento dos cães, que ficou em 4%. Esse é um dos resultados do mais recente Censo Pet IPB, levantamento anual da população de animais de estimação realizado pelo Instituto Pet Brasil, instituição que há nove anos estimula o desenvolvimento do setor pet brasileiro.
A pesquisa revela que o Brasil encerrou 2021 com 149,6 milhões de animais de estimação, um aumento de 3,7% sobre os 144,3 milhões do ano anterior. Os cães lideram o ranking, com 58,1 milhões de indivíduos. Os gatos figuram em terceiro lugar, com 27,1 milhões.
Recentemente fui levar a Lana para sua tutora em Miami. Não só a Lana é a filha de um casal jovem, mas pude observar esse mesmo padrão pelas ruas da cidade americana. Conversei com um ou outro casal e eles confirmaram que a vida corrida, mudanças de residência e redução de gastos, o pet se tornou o filho ideal. Basta passear duas vezes ao dia, colocar comida e brincar. Será?!
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Problemas de trocar filhos humanos por pets
Pode parecer algo muito lógico e prático, mas ter um pet não é tão simples assim. As mulheres têm um instinto maternal muito forte, que pode ser redirecionado para o cuidado de qualquer ser vivo, inclusive de uma planta. O problema começa quando essa pessoa (mulher ou homem) colocam no pet a sua expectativa e afetividade de um filho humano. É neste momento que acontece a humanização prejudicial.
Tratar o pet, seja cão ou gato, como um bebê humano peludo é uma das piores coisas que uma pessoa pode fazer com um animal. O principal não é respeitado: a natureza da espécie.
Não estou falando de colocar sapatinho roupinha ou andar de carrinho. Mas de não oferecer as atividades ou objetos necessários para que o animal expresse seus comportamentos naturais e ainda brigar quando ele rói o chinelo ou arranha o sofá.
Ser mãe ou pai de pet é lindo, mas desde que haja uma dedicação de compreender todos os aspectos da espécie, oferecendo um ambiente enriquecido, atividades cognitivas e interações positivas com outros animais e pessoas. Não basta deixar um brinquedo jogado na sala e achar que o pet será feliz.
Ter um pet é uma delícia (eu mesma tenho 4), mas dá trabalho, sim. É preciso se dedicar, sim. É muito gasto, sim. Ter um filho peludo não é apenas ter uma companhia ou uma fonte de amor eterno, mas uma responsabilidade com uma vida. Estará sempre a cargo do ser humano a busca por oferecer a maior qualidade de vida do animal, respeitando o seu bem-estar. O qual não é o mesmo de um bebê humano.
A médica veterinária da BRF Pet, Mayara Andrade, explica que entre os principais benefícios dessas novas famílias multiespécie está uma melhor qualidade de vida para os pets, que deixaram de viver em ambientes externos e passaram a viver com mais conforto no interior das residências, deixando de ser o "cão de guarda" e passando a ser membro da família.
"Por um lado, isso é muito bom: podemos notar um comprometimento maior dos tutores com seus pets, inclusive com a mudança da nomenclatura dada a eles: tutores no lugar de dono, afinal o tutor tem mesmo essa função de proteger e cuidar do pet, diminuindo a objetificação deles. Com isso, vemos mudanças positivas na mentalidade dos tutores e uma busca constante pelo melhor para seu pet, o que, junto com a evolução da medicina veterinária, está diretamente ligado ao aumento da expectativa de vida dos pets", explica.
Quer ser um casal DINKWAD? Ótimo! Mas estude sobre o que essa decisão acarreta, quais os cuidados e como oferecer o seu melhor ao pet. Afinal, nós que tomamos essa decisão, não eles.
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