
Pode parecer algo meio escatológico, que abarca muitos mitos e ascos, mas olhar o cocô no seu cachorro é super importante (do gato tbm!). Eu sei que muita gente tem nojo, faz cara feia, recolhe de qualquer jeito para descartar, mas o certo é observar consistência, coloração, volume e odor minimamente. Essa é uma das maneiras mais simples e práticas de monitorar a saúde de cães e está bem debaixo dos nossos olhos e pode fornecer dados importantes sobre a condição do seu animal.
Mayara Andrade, médica-veterinária de Biofresh, marca de pet food da BRF Pet, explica que a observação regular das fezes pode ser uma ferramenta útil para identificar a também a necessidade de possíveis ajustes na dieta.
O que é normal nas fezes de um cão saudável?
As fezes de um cão saudável devem ter uma consistência firme, não muito dura nem muito mole, e não devem grudar no chão, mas também não podem endurecer como pedra.
"Existe um escore visual para a classificação das fezes, o chamado Escore de Condição Fecal (ECF), que avalia a consistência das fezes. Esse escore varia de 1 a 5, sendo 1 diarreia e 5 fezes ressecadas. Caso as fezes apresentem algo incomum, isso pode ser um indicativo de dieta inadequada, por exemplo. Por isso é importante a avaliação veterinária", explica Mayara.
Segundo ela, o tutor deve ficar atento a alterações na cor, consistência, odor ou frequência das fezes.
"Fezes muito moles, com presença de sangue ou muco, são sinais de alerta. Fezes pretas, por exemplo, podem indicar sangramentos internos no trato digestivo, enquanto fezes claras ou esbranquiçadas podem ser indicativos de problemas no fígado ou na vesícula biliar", orienta.
Além disso, a médica-veterinária explica que outro fator importante é a frequência das evacuações. Se o animal estiver defecando com uma frequência maior do que o normal, ou se as fezes estiverem volumosas, pode ser que ele receba mais comida do que o necessário, ou então que o alimento não esteja sendo bem absorvido pelo organismo.
Quais fatores podem alterar as fezes dos animais de estimação?
A alimentação é um dos fatores que podem influenciar diretamente na qualidade das fezes.
Segundo Mayara, para cães saudáveis, o fornecimento de um alimento de qualidade e alta absorção, pode, entre outros fatores, auxiliar também na redução do volume. "Aliado a isso, extratos de plantas, como o Extrato de Yucca, podem ainda auxiliar na redução do odor das fezes", explica.
"Alimentos de baixa qualidade ou componentes indigestos tendem a produzir fezes volumosas e com forte odor. Entretanto, a quantidade oferecida também pode auxiliar nisso, uma vez que receber quantidades inadequadas de alimento podem aumentar ou diminuir o volume fecal", completa a especialista.
Como a alimentação pode melhorar a qualidade das fezes?
A escolha de um alimento de qualidade é essencial para garantir que o animal tenha uma excelente absorção, promovendo uma nutrição adequada e, consequentemente, menor volume de fezes.
A médica-veterinária ressalta que "garantir uma dieta balanceada, com proteína de alta qualidade, também ajuda a manter a consistência adequada das fezes e na promoção da saúde como um todo".
Importância da saúde intestinal
Segundo Priscila Rizelo, médica-veterinária da Royal Canin, o trato gastrointestinal como um todo é responsável pela absorção dos nutrientes que serão responsáveis pela manutenção da vida. "A parte do intestino também tem papel muito importante quando se fala de imunidade dos animais. Boa parte das células de defesa são produzidas no intestino pelas placas linfoides, que é a defesa natural dos indivíduos" completa.
O intestino é o lar da microbiota, que são trilhões de organismos, maioria bactérias, fungos e protozoários, responsáveis pela manutenção do trato gastrointestinal. Quando há disbiose, um desequilíbrio da quantidade e qualidade dessa microbiota, pode ter sinais como diarreia. "Há uma relação da microbiota com outros órgãos, como eixo intestino cérebro. Também há relação entre os metabólitos que são gerados na fermentação da microbiota com coração e pele. Outra área importante é a relação de disbiose com indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Nos próximos antos teremos mais clareza da importância da microbiota na saúde dos animais" explica.
Intestino e comportamento
Quando sentimos dor ou cólica, podemos buscar ajuda. Até um bebê chora com esse tipo de desconforto, mas como os animais demonstram que estão com dor abdominal? Alguns ficam retraído, mas a maioria continua a vida como se não fosse nada. Porém, aquela tolerância a situações desconfortáveis pode diminuir. O que antes ele saía de perto, agora pode gerar uma rosnada e até uma mordida. Em casa, quando a Aman está com dor abdominal, ela apronta e come coisas que não fazem sentido, como tampa de pote plástico.
Segundo Priscila, o bem-estar comprometido por desconforto gastrointestinal, como quando o animal tem diarreia crônica, abala a relação do pet com o tutor. "Estudos mostram relação entre intestino-cérebro, como o microbioma pode influenciar o comportamento e estado emocional dos indivíduos. É mais comum em humanos, mas há em pets, inclusive com a utilização de probióticos, como efeito calmante em pets. Ainda são estudos recentes, mas com o passar o tempo teremos mais clareza, relacionando cada vez mais a saúde da microbiota e saúde comportamental. Um exemplo é um alimento que é uma fonte de proteína hidrolisada de peixe, que mostram modulação comportamental, com efeito comparado ao do diazepan. Os cães foram expostos a barulho de trovão e tiveram menor reação e liberação do cortisol do que os que não comiam o alimento. O RelaxCare é um alimento indicado para cães com dificuldade de lidar com mudanças e mais medrosos" afirma.
Quando dar pré e probiótico?
Pré o probióticos tem papel importantes na saúde intestinas, como informa Priscila. A grande diferença está na ação de ambos. Os prebióticos são carboidratos que vão favorecer o crescimento dos organismos benéficos. A principal função é serem fermentados para gerar compostos que servem como fonte de energia para células do intestino, que bem nutridas vão favorecer uma digestão adequada e absorção adequada dos nutrientes. Essa fermentação acidifica o ph intestinal e vai favorecer que os organismos benéficos se multipliquem e diminuir a possibilidade dos patógenos crescerem.
Já os probióticos são os microrganismos vivos, que quando administrados podem ajudar a colonizar o trato gastrointestinal. Ajuda no tratamento de diarreia e outros problemas. Porém, tem que tomar cuidado com o tipo e a quantidade para garantir que ele tem possibilidade de colonizar. A utilização na alimentação pode inviabilizar a presença deles, já que a alimentação é cozida. Eles têm que estar vivos para terem o efeito desejado.
Resumindo: Prebióticos devem ser usados em animais saudáveis e Probióticos em animais não tão bem.
Como saber se preciso dar ração gastrointestinal?
A indicação de todo e qualquer alimento deve ser feita pelo médico-veterinário. Os alimentos específicos para auxiliar na saúde gastrointestinal são indicados quando há um comprometimento na região, podendo ser algo agudo, como uma diarreia, ou processo crônico, com doença inflamatória intestinal, distúrbio de absorção, sensibilidade a componentes que são usados usualmente nas dietas.
Segundo Priscila, os principais sinais para uso desse tipo de alimentação estão relacionados a diarreia ou constipação. Assim, lança mão de uma dieta que vai dar suporte gastrointestinal mais intenso do que para um animal saudável.
"A grande diferença desse tipo de alimentação é sua altíssima digestibilidade, fácil de ser digerida, na qual quase maior porção vai ser facilmente absorvida, ser atrativa e palatável. Nesses casos há mais necessidade de fibras, mas cada problema precisa de um tipo específico de fibras para melhorar consistência das fezes. Por isso a necessidade de diferentes produtos e soluções que atendam os diferentes tipos de tratos gastrointestinais" finaliza
Quando procurar o veterinário?
Segundo Mayara, é recomendado procurar um veterinário sempre que haja mudanças súbitas e persistentes nas fezes, como:
- Diarreia ou fezes com aspecto alterado.
- Presença de sangue ou muco nas fezes.
- Fezes com coloração diferente da habitual.
- Excesso de defecação em um único dia
- Odor mais fétido do que o normal
Mas e aí, já analisou as fezes do seu pet hoje? Nada de nojinho! É saúde e cuidado!