A Aurora, minha cachorrinha, precisou passar por um exame de ressonância magnética. Há algum tempo vínhamos pesquisando o que estava causando a piora do estado de saúde dela. A indicação era passar com uma especialista em neurologia.
Ao chegar para atendimento com a Dra Elidia Zotelli, ela me explicou a importância de entender como estava o sistema nervoso central (cérebro, cerebelo e início da medula) da Aurora. Para visualizar a região, a indicação foi fazer uma ressonância magnética de alto campo.
São poucos os centros veterinários no Brasil que possuem o equipamento para fazer esse exame especificamente. Dra Elídia indicou dois e eu escolhi fazer no Veritá. Eu já havia visitado o local logo após sua inauguração. Foi o primeiro centro veterinário a ter o equipamento e equipe especializada para ressonância magnética de alto campo.
Ressonância magnética "humana" para uso em pets
Eu sei que muitas dúvidas pairam no ar quando se fala em ressonância magnética. A Dra Elídia me explicou que muitos tutores desistem de um diagnóstico correto, por medo do exame. Então, conversei mais a fundo com ela e com a Dra. Thaís Granato, médica-veterinária responsável pelo Veritá.
Quando é indicado fazer o exame de ressonância magnética em cães e gatos?
A ressonância magnética usa campos magnéticos e ondas de rádio para criar imagens detalhadas e de altíssima qualidade do cérebro e da medula espinhal, segundo Dra Elídia. "É uma ferramenta altamente útil na medicina veterinária, quando as medidas diagnósticas tradicionais não podem fornecer um diagnóstico preciso para doenças no cérebro ou na medula espinhal" relata.
Segundo Dra Elídia, a ressonância magnética é particularmente útil para olhar para as estruturas dos tecidos moles como músculos, órgãos. "Uma ressonância magnética pode detectar e ajudar o seu veterinário a diagnosticar muitos problemas, incluindo tumores, inflamação, estenose (estreitamento de uma parte do corpo), hérnia de disco, rastreamento de fibras nervosas, tipagem de tumores cerebrais sem necessidade de biópsia, avaliação de tumores para malignidade, auxiliando principalmente nas abordagens terapêuticas adequadas para cada tipo de doença do sistema nervoso" explica.
Dra Thaís complementa que também pode ser indicada para articulações (para melhor avaliação dos ligamentos), órgãos abdominais e tórax (parede torácica, coração, mediastino). A ressonância magnética também é excelente para avaliação dos condutos auditivos, para detecção de otites internas e alterações nos nervos ali localizados.
Em termos comportamentais, as alterações locomotoras são um indício da necessidade de buscar um especialista que pode solicitar uma ressonância magnética. A RM pode ser indicada para animais com alterações de comportamento, desequilíbrios, crises epilépticas (convulsões, crises de ausência), otite, alguns casos de cegueira, alterações no padrão de sono, andar em círculos, andar incoordenado, andar compulsivo, arrastando as patas, paralisia ou fraqueza nos membros, dores na região da coluna espinhal ou membros, incontinência ou retenção urinária ou fecal, claudicação (animal mancando), como explica a Dra Thaís.
"A RM também é indicada em casos de aumento de volume nas paredes torácica e abdominal, pescoço e membros; ou quando o paciente apresenta alterações no ultrassom abdominal que necessitam de maior detalhamento, como pesquisa de tumores e metástases, alterações em vias biliares e urinárias" complementa.
São muitos sinais que podem indicar a necessidade da RM, por isso é importante que o tutor leve o pet ao médico-veterinário da sua confiança e relate o que tem observado (com informações completas e vídeos, se possível), pois além do exame clínico, o histórico detalhado do paciente auxilia muito na elaboração do plano de diagnóstico que será indicado e na interpretação dos achados nas imagens.
Diferença entre Ressonância Magnética e Tomografia
Muitas pessoas confundem ressonância magnética com tomografia. São dois exames bem diferentes. Segundo Dra. Thaís, a tomografia computadorizada é uma técnica que gera múltiplas radiografias e combina essas informações gerando imagens em vários planos. É um exame relativamente rápido e excelente para estudar os pulmões e os ossos.
"Já a ressonância magnética trabalha com um potente campo magnético e pulsos de radiofrequência, sem a radiação ionizante da tomografia. Dessa forma, a ressonância magnética gera imagens que detectam os tecidos doentes de forma muito detalhada. É um exame mais longo que o da tomografia, mas excelente para o estudo de tecidos moles, como os músculos, ligamentos, cérebro e a medula espinhal" explica Dra Thaís.
A ressonância, segundo Dra Elídia, consegue diferenciar gordura, inflamações, possibilitando uma visualização clara, de alta qualidade, resolução e contraste. A ressonância magnética praticada na medicina veterinária é um método diagnóstico que tem a vantagem de não ser invasivo para os animais, além de não utilizar as radiações ionizantes para promover a visibilidade de áreas especificas.
A tomografia é mais utilizada para avaliar alterações ósseas como fraturas, luxações, infecções e sangramentos.
O que é ressonância magnética de alto campo?
Segundo Dra Thaís, a ressonância magnética de alto campo fornece imagens de alta resolução, permitindo que os tecidos doentes sejam mais facilmente detectados nas imagens. Assim, na ressonância magnética de baixo campo, muitas alterações podem passar despercebidas.
"Isso é importante principalmente para os pacientes pequenos, que têm sua avaliação muito prejudicada pela baixa resolução do baixo campo. Para diagnóstico, planejamento do tratamento (cirúrgico ou não) e acompanhamento dos pacientes, isso tem um impacto enorme. Além disso, a ressonância magnética de alto campo realiza os exames de forma mais rápida, possibilitando exames mais completos em menos tempo, e menor tempo anestésico, tornando o exame de alto campo mais seguro para os pacientes" informa.
Quais os riscos para um cachorro ou gato para fazer o exame de ressonância magnética?
Segundo Dra Thaís, os riscos estão mais associados ao procedimento de anestesia do que ao exame de ressonância em si. "Por esse motivo, solicitamos uma série de exames de sangue e cardiológicos para avaliar a saúde geral desse paciente antes de partirmos para a ressonância magnética" alerta.
Outro medo frequente, apontado pela veterinária, é em relação ao uso de contraste durante o exame. "O contraste usado na ressonância magnética, o gadolínio, causa reações muito raramente, e que costumam ser leves, quando ocorrem" explica.
Por que precisa anestesiar o pet para fazer o exame de ressonância magnética?
No exame de ressonância magnética, são feitas imagens repetidas vezes de uma mesma região, então precisamos que o paciente fique completamente imóvel. Isso não seria possível sem a anestesia, pois não conseguimos manter o animal por pelo menos 30 minutos completamente parado. Em humanos adultos, a maioria faz o exame acordada, pois consegue ter esse autocontrole. No caso de crianças, a anestesia é necessária pelo mesmo motivo dos pets.
Infelizmente temos algumas crenças negativas sobre o procedimento de anestesia na medicina veterinária, e esse normalmente é o fator de mais inseguranças das famílias, aponta Dra Elídia. A especialidade anestesiologia já é uma prática muito constante na veterinária, e a realização de exames pré-anestésicos, auxiliam na tomada de decisão com segurança do procedimento anestésico.
"Recebemos pacientes que estão há anos com dor ou outros sinais, realizando múltiplos tratamentos sem sucesso, e isso frequentemente pode ser evitado com um diagnóstico bem-feito" enfatiza Dra. Thaís. E é esse diagnóstico que leva ao tratamento correto, para que seja implementado o quanto antes, no início da doença, o que aumenta muito as chances de cura e, consequentemente, a qualidade de vida do pet e sua família.
Você está em dúvida ou inseguro se deve ou não fazer o exame de ressonância magnética?
Primeiramente, calma!
Vou contar um pouco da minha experiência para ver se te ajuda na decisão.
Eu passei com duas veterinárias, uma fisiatra e ou neurologista para avaliação do quadro da Aurora. Ambas indicaram o exame de ressonância magnética. Elas me explicaram bem a necessidade desse exame específico e como o resultado ia ajudar no diagnóstico e tratamento da Aurora. Obviamente me advertiram dos riscos. Mas, de verdade, ver a Aurora piorando a cada dia era me dava mais medo do que a anestesia em si.
Vale lembrar que a Aurora é um cisco de 15 anos. Mas idade não é doença, como a Dra Elídia me falou. Ela fez todos os exames pré-anestésicos: hemograma completo e bioquímico, ecocardiograma e eletrocardiograma (lá no Veritá, eles são beeeemm chatos com isso). Eu tentei dar um jeitinho brasileiro e apresentar os últimos exames que ela tinha feito, há uns seis meses. Mas não colou. Tive que repetir tudinho. Mas melhor assim, né?! É segurança para a Aurora.
No dia do exame, o anestesista sentou comigo, me explicou tudo o que ia acontecer, os riscos e por aí vai. Super atenciosos!
Como eu sou a rainha da curiosidade de cara de pau, pedi para conhecer as instalações que a Aurora ia ficar. Depois de algumas autorizações, pude ver o cuidado e carinho que eles têm com cada animal que vai ali para fazer o exame.
Depois de longas duas horas, meu coração já estava apertado e eu pedi para ver a pequena orelhuda. O exame já tinha acabado, mas ela estava na sala de recuperação da anestesia, enrolada em um cobertor fofinho, com aquecedor e no colo de uma das estagiárias. Nada mimada a criança.
Saímos de lá e corremos para casa descansar. Eu aliviada por ter dado tudo certo e a Aurora ainda meio lesada pós-anestesia.
Mas a melhor parte não foi essa, mas o retorno à neurologista. Conseguimos fechar, finalmente, um diagnóstico. O laudo ficou super chique, ao ser feito em parceria com especialistas internacionais (o cérebro da Aurora foi até a Inglaterra). Foram anos (uns cinco) sem saber exatamente o que a Aurora tinha. Tudo porque eu não tinha feito a ressonância magnética, somente outros exames mais simples.
Agora com cada partezinha do sistema nervoso central avaliado, podemos pensar em tratamento para melhorar a qualidade de vida dela. E assim está sendo. Aurora entrou com uma nova medicação, já está evoluindo, com menos dores e pedindo para passear e bagunçar todos os dias.
Antes da ressonância, eu estava cogitando a possibilidade de eutanásia por tamanha dor que ela sentia. Hoje, após o exame, tenho certeza que ainda viveremos muito tempo juntas, fazendo trilhas, viagens e passeios. Posso dizer que a ressonância propiciou o alívio de angústias e dores, em mim e na Aurora.
Então, converse com seu médico-veterinário para entender a atual aplicabilidade, diante do quadro do paciente, a imagem ira auxiliar no tratamento correto. Se a indicação for realmente a ressonância magnética, busque um centro de confiança e confie. Não deixe de ter o diagnóstico por medo. Ele pode ser a diferença na hora de tomar qualquer decisão.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.