No dia Nacional dos Animais, comemorado 14 de março, houve um evento no Ministério do Meio Ambiente para debater assuntos vinculados à causa animal. O ponto alto foi a apresentação de uma pesquisa feita pela Mars Pet Care, em parceria com diversos centros de pesquisa em todos os continentes.
O "Índice de abandono animal" mostra resultados alarmantes e coloca os tutores como centro da mudança!
Infelizmente, ainda temos a crença de que a ONG cuida, resolve, trata, castra, doa e se responsabiliza. A terceirização do cuidado dos animais é mais cômoda. Por isso mesmo, a pesquisa aponta que 40% dos entrevistados brasileiros não tomam qualquer atitude ao ver um animal abandonado. E eu não estou aqui apontando o dedo (nem ou cursor do mouse) para você. Porque eu mesma faço parte desse percentual.
Talvez por desconhecimento ou medo de cair no golpe do lar temporário (que se torna permanente em muito pouco tempo), fechemos os olhos para as necessidades dos animais (não só). Mas como eu, morando em apartamento, com outros animais, poderia recolher um animal abandonado, levar para casa, causar estresse nos meus bichos e ainda correr o risco de não doar?! Isso sem falar no investimento com castração, vacina, vermifugação, etc.
Mas não é só com resgate que se pode ajudar a causa animal. O abandono é algo extremamente sério e que precisa ser discutido (e foi!). Não só no âmbito "o que fazer com animais que não têm um lar", mas como acessar pessoas que não entendem as necessidades de uma outra espécie, mesmo que ela more sob o mesmo teto.
O abandono pode ser consequência da forma como enxergamos ou fomos educados a ver os animais: de uma forma absolutamente utilitarista.
Na pesquisa, 35% dos cães e gatos estão à espera de um lar. No Brasil, aproximadamente 30,2 milhões dos gatos e cães vivem em situação de abandono. Isso representa 25% da população total desses animais. Deste número, 7.400 gatos e 177.600 cães vivem em abrigos.
Jeffrey Flocken, presidente da Humane Society International, reflete que: "A falta de moradia de cães e gatos é uma questão extremamente complexa. Esses novos dados ajudarão organizações de bemestar animal, legisladores, especialistas, acadêmicos e pesquisadores a compreender melhor a escala e os fatores que influenciam a questão, que pode, por sua vez, apoiar em intervenções que tragam mudanças neste cenário."
Nas 20 localidades estudadas, foi possível levantar que há 143 milhões de cães vivendo nas ruas e 12 milhões em abrigos; enquanto 203 milhões de gatos vivem nas ruas e 4 milhões em abrigos.
O que há em comum em todos os países é a razão que leva ao abandono:
- pensar em desistir do seu gato ou cão num futuro próximo por mudança de residência; e quase metade das pessoas que realojaram um animal de estimação no passado o fizeram por esse motivo;
- Problemas de saúde e de condicionamento físico para cuidar de um animal de estimação - isso tanto por fatores relacionados à moradia, quanto sobre a pressão e tempo para cuidar de um animal de estimação.
- Problemas de comportamento;
- Baixa taxa de reencontro de animais perdidos (ou porque morreram ou por falta de interesse de procuro do tutor). Quase metade das pessoas entrevistadas disse ter perdido um animal de estimação no passado e quase 60% deles nunca foram encontrados pelos seus tutores.
Por que esses dados são tão importantes?
Porque é por aí que vamos conseguir encontrar soluções para diminuir o abandono e a superpopulação de cães e gatos.
Muito se fala sobre a castração como um controle populacional. De fato, é uma estratégia. Mas em conjunto com a posse responsável, com um censo pet e a identificação de cada indivíduo.
Com isso, temos muito a fazer! Não podemos ficar de braços cruzados esperando que a solução caia do céu de Brasília. Muito está sendo feito por lá (pude comprovar no evento de ontem), mas eu, você, sua amiga, vizinha, irmã, podemos fazer mais e mais rápido.
Como ajudar a diminuir o abandono de animais?
- Se seu cachorro ou gato tem acesso à rua sem supervisão (não aconselho, mas...), castre!
- Se você tem dois ou mais indivíduos de uma mesma espécie, castre!Se o seu cachorro frequenta locais com muitos cães soltos, castre!
- Não reproduza seu cachorro ou gato! Isso apenas gera mais animais potencialmente abandonáveis;
- Microchip seu pet! Ainda não temos uma base de dados única, mas teremos! Quantos mais pets com microchip, mais informações temos sobre ele, minimizando as possibilidades de abandono (na pesquisa, apenas 8% dos cães e 10% dos gatos são microchipados no Brasil);
- Identifique seu pet com plaquinhas. Só o nome dele e seu telefone já ajudam demais!
- Divulgue animais que estão para adoção! Quem sabe você não seja o responsável por um desses milhares de pets conseguirem um lar?!
- Busque informações para oferecer uma melhor qualidade de vida ao seu pet, compreendendo as necessidade de cada espécie;
- Compartilhe informações com embasamento científico! Quanto mais falamos sobre a importância de levar ao médico-veterinário pelo menos uma vez ao ano, mais qualidade de vida daremos àquele pet. Mais cuidados o tutor vai ter com o animal e maior a responsabilidade, diminuindo o abandono.
Simples, né?!
Foram muitas falar importantes durante o evento. Desde médicos-veterinários, empresários pet, ONGs, professores, senadores, deputados, Ibama e outros representantes da sociedade civil. Mas o que todos frisaram em suas falas, em consonância, foi sobre a importância de olharmos para os animais como sentinelas da nossa sociedade.
Cuidar de um animal é salvar muitas vidas! Me ajude a salvar mais e mais?!
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