Berço da cultura de rua no Rio de Janeiro, o bairro do Catete ganhou um minidocumentário realizado pela Amazon Music. Tributo ao TTK foi lançado nesta terça-feira, 24, no Youtube da plataforma, e é dirigido pelo rapper Filipe Ret, que também lançou uma música com o mesmo nome e intuito.
Em entrevista ao Estadão, o artista revelou que o projeto é um resgate histórico não só do hip-hop carioca, mas também da 'Gualin do TTK'. Trata-se de uma linguagem oriunda das ruas do bairro.
Para além de uma gíria, o dialeto gera um código próprio e foi criado nos anos 60, como um dos mecanismos de driblar as repressões da ditadura militar. Tributo ao TTK conta com a participação de outros grandes nomes do rap nacional, como Marcelo D2, BK, Sain e outros.
"Aqui tem a influência de muitas culturas. Tem uma diversidade muito grande: praia, aeroporto, favela, asfalto. Essa geografia me chama atenção cada vez que viajo e volto para cá, parece que é um recorte, mas essa variedade pode representar quase o Rio de Janeiro todo", explica Filipe.
De fato, essa pluralidade influenciou desde as batalhas de rap e os bailes de favela até o grafite e o skate praticados pelos jovens da região, como mostra o documentário. Para Ret, a rua não é apenas um local de passagem, mas um espaço de pertencimento para o hip-hop.
"A primeira vez que alguém me chamou de Ret, quando tive a personalidade reconhecida, foi na rua. Não era num trabalho formal que eu era valorizado, foi pixando muro que eu tive admiração dos outros. A rua acaba dando identidade pras pessoas e mudando a vida delas. Depois me apeguei ao rap, me transformei e criei minha identidade", afirma.
Foi nesse espaço que a linguagem TTK surgiu e segue presente no diálogo da juventude e nas rimas de músicas de muitos artistas. O rapper reitera que isso se mantém por gerações devido a força da cultura de rua. "É uma filosofia de vida alternativa. Isso tem um poder extraordinário, desde o fato de ainda falarmos do TTK até chegar no espaço que o rap está conquistando hoje".
Rap como esporte
Para além da asceção de grandes nomes do gênero musical no mainstream, o cantor cita que até hoje existem batalhas de rap na Favela de Santo Amaro, como um sintoma desse crescimento.
"É cultural e educativo. Um muleque que não consegue assistir uma aula, mas ouve uma música que tem sabedoria na letra pode aprender muito. Claro que tem letras que não são educativas, mas várias têm muito a ensinar. O rap é um esporte, o break virando esporte olímpico é prova disso", afirma.
"Criaram as olímpiadas para selar a paz no mundo e o hip-hop é a paz das ruas, é a olimpiada da cultura alternativa. É importante a juventude ter essa visão saudável, não é porque é da rua que é degradante, muito pelo contrário. A origem do hip-hop foi para ter paz entre as gangues, olha o poder que isso tem. Éssa é a revolução. É lírico, estético, artístico, educacional e cultura", conclui.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais
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