Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.
Dois amigos próximos da atriz e modelo Maidê Mahl, a também atriz Michelle Rodrigues e o psiquiatra Adilon Harley Machado, encabeçaram a mobilização em torno do desparecimento de Maidê no último dia 2. A atriz, que foi encontrada debilitada, no dia 5 em um hotel no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, segue internada no Hospital das Clínicas, também na capital paulista, em estado grave, porém estável, de acordo com boletim médico.
Michelle e Machado visitaram Maidê no hospital recentemente. Eles aceitaram conversar com o Estadão sobre o estado de saúde da amiga e, diante da repercussão que o caso ganhou nas redes sociais - para o bem, com a corrente que envolveu anônimos e famosos; e para o mal, com a proliferação de teorias sobre o que poderia ter acontecido com ela - comentaram: “Em vez de procurar as causas e inventar coisas, o foco deveria ser como cuidar das pessoas que têm problemas com a saúde mental”.
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Inteligente e engraçada
Quando falam sobre Maidê, Michelle e Machado sorriem orgulhosos. “Ela é luz por onde passa. Claro que a beleza chama atenção, mas ela é inteligente, engraçada, fala sobre tudo, não tem como não se encantar com ela”, começam os dois.
Maidê deixou a cidade Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, para morar em São Paulo e viver o seu grande sonho de ser atriz. Os papéis começaram a surgir, como na série dramática Vale dos Esquecidos, da Max, ou interpretando Elke Maravilha, no seriado O Rei da TV, do Star+.
A cada nova conquista, a atriz celebrava com os amigos que vibravam com ela como se a conquista fosse deles também. “Amigos servem para os momentos bons e ruins também”, pontua Michelle.
Mas, no meio de 2023, quando a modelo começou a apresentar indícios de que a saúde mental estava debilitada, os amigos contam que não pensaram duas vezes e começaram a ajudá-la também.
“Ela teve a assistência no Hospital São Paulo e começou o tratamento contra a depressão. Nos revezamos para sempre ter alguém com ela. Ela teve uma melhora muito importante, pois a adaptação dos medicamentos é um processo difícil. Mas a rede de apoio nesses momentos é essencial. Ela começou no meio do ano passado e, pouco depois, já começou a fazer testes, estrelar campanhas. A vida estava voltando ao normal”, pontua Machado.
O desaparecimento
Os amigos continuavam se vendo normalmente e conversando pelas redes sociais, porém, no final de agosto deste ano, perceberam que a modelo estava diferente. “Ela estava meio sumida das redes sociais e demorava para responder. No dia que desapareceu, Maidê disse que iria dormir fora, mas só poderia ser na minha casa ou na do Adilon, e não foi isso que aconteceu”, começa Michelle.
Quando eles começaram a postar nas redes sociais o desaparecimento da atriz, um mutirão de famosos, como Maria Bopp, Camila Pitanga, Johnny Massaro, Fernanda Paes Leme, Samara Felippo e Leonardo Miggiorin, respostaram o alerta com o intuito de achar a modelo.
“Foi muito bonito ver a mobilização das pessoas para encontrá-la. Para ver que, mesmo com pouco tempo que ela começou a carreira de atriz, Maidê já é muito querida no meio”, diz Michelle.
A atriz foi encontrada pela Polícia Civil na noite de quinta-feira, 5, em um hotel no bairro da Vila Mariana. A informação foi confirmada ao Estadão pela assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) por meio de nota.
O texto dizia que o “Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) localizou a jovem na tarde desta quinta-feira, 5, em um hotel na região central de São Paulo. O SAMU foi acionado e as equipes da delegacia especializada atuam para esclarecer os fatos. Outros detalhes serão passados ao término dos trabalhos no local”.
Não foi divulgado, no entanto, que tipo de ferimento ela tinha.
O que ocorreu com Maidê
Assim que souberam que a amiga foi encontrada e levada para Hospital das Clínicas (HC), eles foram logo visitá-la. “Foi um alívio grande, estávamos sem dormir. Quando ela foi encontrada, era em um estado muito grave, mas ver que ela está tendo uma melhora nos deixa otimista”, pontua Adilon.
Com toda a repercussão do caso, começaram a surgir diversos rumores sobre o que poderia ter acontecido com Maidê.
“Esses urubus da internet disseram que ela estava envolvida com drogas, ou que foi encontrar alguém de aplicativo. A única substância que Maidê tomava eram os remédios. Ela não estava vendo ninguém também. Não podemos afirmar o que ocorreu porque só ela pode falar. Inventar essas informações falsas é horrível”, começa Adilon.
“Acho que as pessoas querem muito saber o que ocorreu, mas o importante mesmo é que ela foi encontrada e está sendo cuidada. Estamos no setembro amarelo, um mês dedicado à saúde mental. Em vez de procurar as causas e inventar coisas, o foco deveria ser como cuidar das pessoas que têm problemas com a saúde mental”, acrescenta a atriz.
Outro ponto citado por algumas pessoas foi que a atriz sumiu devido à morte de sua irmã caçula, Geruse Mahl, vítima de complicações de um tratamento de câncer. “Começaram a inventar que tudo ocorreu porque ela não conseguiu se despedir da irmã, mas isso não é verdade. Maidê viu a irmã e, apesar da dor do luto, conseguia falar sobre o assunto. Falar uma coisa dessas de forma leviana é errado. Mas foi um momento de fragilidade, sim”, pontua o psiquiatra.
A rede de apoio
Em momentos delicados assim, além da procura médica, o apoio dos amigos e familiares é essencial para a melhora do paciente, além de incentivar a seguir o tratamento. O psiquiatra ressalta que uma das formas de ajudar é se atentar aos sinais de mudança que o colega pode estar aparentando. “Perceber se a pessoa está mais isolada, se tem gastos excessivos, até picos de euforia”, pontua.
“Não se fala sobre saúde mental como deveria. É importante falar sobre isso para as pessoas se conscientizarem e olharem com mais empatia e serem menos julgadores”, finaliza Michelle.
Onde buscar ajuda
Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
Canal Pode Falar
Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
SUS
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.
Mapa da Saúde Mental
O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.
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