Não é só a Ana Castela no Criança Esperança: o cavalo está em todo lugar. O animal, que tem uma relação milenar com o ser humano, tem feito diversas aparições na cultura pop – dos palcos de Beyoncé às telas de cinema.
A simbologia do cavalo é muito forte no repertório ocidental e, por isso, é tradicionalmente utilizado para representar status. “Existe uma premissa de Fídias, considerado o maior escultor grego do período clássico, que fala sobre o equilíbrio entre o cavalo e o cavaleiro – geralmente [o cavalo] sendo um monumento para glorificar o homem”, conta Priscila Mocelin Lara, professora de arte e Mestre em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
É possível encontrar o cavalo como símbolo da nobreza, da dominação e do transporte. A figura equestre também é muito presente na linguagem e no imaginário brasileiro: temos expressões como “cair do cavalo” e “tomar um coice”. Ainda, a força do agronegócio no País influencia nossa cultura e também traz o animal para o nosso repertório – não à toa, o remake da novela Pantanal, de 2022, teve adesão expressiva.
Mas por que a imagem do cavalo, que está conosco há milhares de anos, ainda é usada na era da tecnologia e da inteligência artificial? O Estadão, cuja logomarca também mostra o animal, explorou as diversas facetas do cavalo e o cavaleiro na cultura pop de hoje. Veja a seguir:
Beyoncé: das raízes à extravagância
Para o aclamado disco Renaissance (2022) – e a turnê mundial que o acompanha agora em 2023 –, Beyoncé usa a figura de um cavalo prateado, feito de espelhos como um globo de luz. O álbum, que evoca inúmeras influências da música eletrônica e de pista, traz no cavalo uma segunda influência: a notória imagem de Bianca Jagger no Studio 54.
Tanto no caso de Bianca quanto no de Beyoncé, o cavalo não é parte do ambiente dançante ou sintetizado e, por isso, sua imagem causa uma quebra; um contraste entre o tradicional e o moderno, o clássico e o tecnológico, valorizando a extravagância e o surreal.
Natural de Houston, no Texas, Beyoncé já usou a representação do cavalo em outros trabalhos e o animal pode ser intimamente ligado às suas origens – o Texas é um estado agropecuário, dos caubóis. Assim, trazer a imagem do animal para a música eletrônica pode simbolizar também trazer suas raízes afetivas para algo novo, futurista.
Ana Castela, a ‘boiadeira’
Na última segunda-feira, a cantora Ana Castela entrou em sua apresentação no Criança Esperança em cima de um cavalo robótico. A artista, que é um dos principais expoentes do agronejo, adota uma versão “pop” da estética fazendeira – chapéu, botas e glitter.
O agronejo valoriza explicitamente a vida do peão e da agropecuária. Conhecida como “boiadeira”, a cantora conversa com esse universo, mas representa a fração feminina que comanda o setor. Nesse caso, o cavalo também traz a ideia de tradição, da vida rural, ainda que modernizada.
O cavalo para o Ken, da Barbie: dominação
No filme Barbie, os cavalos são de extrema importância para Ken. Ao avistar policiais sobre cavalos, o boneco entende quem está no poder no mundo patriarcal – e se fascina com a imagem dos animais, não dos humanos sobre eles.
Para a diretora e roteirista Greta Gerwig, os cavalos são tão frequentes na nossa rotina que talvez, para o olhar de Ken, esses fossem os verdadeiros comandantes da vida cotidiana.
“Gostei apenas da confusão dele sobre como você não saberia necessariamente quem está no comando. Talvez os cavalos estejam dominando mais do que você pensa, porque há uma quantidade enorme de cavalos, estátuas, cavalos e pinturas e você monta cavalos”, contou ao portal IMDB. “Então, eu gostei que houvesse essa confusão de que ele simplesmente amava cavalos e ele pensou que talvez eles estivessem realmente comandando tudo, o que eu achei fantástico.”
Lil Nas X: a brincadeira com a masculinidade
Para um artista LGBT+ como Lil Nas X e Pedro Sampaio, o cavalo traz um contraste com a imagem do cavaleiro, culturalmente lido como a epítome da masculinidade. Por isso, trazê-lo em novo contexto pode ser uma tentativa de brincar com a noção de “macho”, trazendo imponência também para figuras queer.
“A ‘apropriação’ da figura do cavalo/cavalheiro pela cultura pop surge como uma forma de ressignificação desse animal como um elemento de poder, riqueza e sobretudo da masculinidade e da força”, reforça Priscila.
Stella McCartney: o cavalo e a natureza
Conhecida pelo seu trabalho ecologicamente responsável, a estilista Stella McCartney lançou uma coleção de Inverno chamada Horse Power em março. Para Stella, os cavalos foram usados como forma de lembrar o nosso relacionamento com o meio ambiente; sobretudo a possibilidade de criar roupas sem utilizar matéria animal, como couro.
Assim, o cavalo também representa uma relação harmônica e milenar: cavalo e humano, natureza e sociedade.
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